22 outubro 2006

MEU CORAÇÃO ESTÁ SANGRANDO ESTRELAS...


Ontem à noite, enquanto acompanhava a agonia dos números na televisão, rumo ao 2o. turno para a reeleição de Lula, resolvi ler o Blog do Emir Sader, um dos que ainda leio no universo da web, com comentários que têm a ver com o que penso e sobretudo, respeita o tempo que gasto em busca de informações de qualidade, em meio ao lixo eletrônico.
E aí me deparei com a seguinte pergunta:

POR QUEM VOTAMOS?

Li e reli. E com essa minha mania de de ler, que me foi ensinada pelo poeta pantaneiro Manuel de Barros, comecei a localizar de forma fiel e sincera "por quem realmente eu votei". E sem pensar duas vezes, nem precisar apertar as teclinhas do aceitar ou anular, identifiquei e dei caras ao meu voto.

São donos do meu voto:

Ed, um garoto que vende frutas no sinal da Ponte do Limoeiro para sustentar a mãe com 6 irmãos que depende da sua bolsa-escola.
Meu voto também foi por Ciça, Danmaria e Ivone, empregadas domésticas e que não sabem por quem deve votar.
Também é dona do meu voto Erica, estudante da escola pública que conseguiu um emprego de carteira assinada recentemente depois de longos anos de espera.
Votei em louvor à Wedja, de nome meio soviete, que mora em Olinda, trabalha em Saúde Comunitária e ganhou uma bolsa integral para a Faculdade, em troca de dias e dias de estudo e aprovação no ENEM.
Votei pelo meu povo da Favela do Rato, no bairro do Recife e pelos moradores da Ilha de Deus na Imbiribeira, que visitei com olhos de horror, indignação e tristeza.
Votei ainda por Ednaldo dos Prazeres, pescador dos arrecifes, leitor de Che Guevara e de Mario de Andrade!!!
Votei por meus alunos prevestibulandos que trocam uma boa leitura por horas de jogo numa lanhouse ou num barzinho de qualquer esquina.
Votei por uma facção radical de minha família, que ainda acredita nas promessas de quem detém o poder e o capital e não aceita ter um presidente que represente as classe populares.
Mas meu voto, não é poeira das estrelas, como o sensacionalista programa da Globo.
E parafraseando Manuel Bandeira, eu diria:

"Meu voto é sangue, volúpia ardente,
Tristeza esparsa, remorso vão,
E todo dia, amargo e quente
Cai gota a gota do coração"

Foi assim, que construí meu voto, ao longo do Governo Lula, separando o joio do trigo, as verdades das acusações, o sindicalista do presidente, o assessor e o bandido e sempre me mantive de olhos bem abertos para o "quarto poder" a imprensa brasileira.
E foi em nós brasileiros, que a imprensa apostou.
Nós brasileiros, filhos legítimos do português, muito mais apolíneos e crentes na desgraça, do que dionisíacos que acreditam no prazer e no que dá certo, fomos a presa mais fácil.
Sobretudo, nós, nordestinos, pernambucanos, "ledores" de jornais de tradição oligárquica e conservadora, jornais que copiam matérias de jornalistas e sucursais do eixo Rio-São Paulo.

Meu trabalho de professora de Literatura e formação de leitores, não pode ter sido em vão.
Meus alunos não podem continuar acreditando na escrita como algo sagrado e de verdades inquestionáveis. Eles têm que aceitar a proposta freireana de ao ler qualquer informação, sentar num banquinho imaginário e questionar o autor!
Não posso jogar no lixo todos os meus conceitos de Letramento, Empoderamento e Cidadania.

Foi "caminhando contra o vento", em direção ao meu local de votação, com bonezinho surrado e estrelinha do PT que tanto brilhou nas últimas eleições, que pensei fartamente:

POR QUE O ELEITOR BRASILEIRO SE INTERESSOU MAIS EM DESCOBRIR A COMPRA DO DOSSIÊ? E NÃO O REAL CONTÉUDO DO DOSSIÊ? (Isso é o que a imprensa faz por nós!)
Nesse momento, era importante saber, até para desacreditar definitivamente do partido ou "melar" a eleição de Serra.

Mas não é hora para elocubrações.
É hora de ler com criticidade e fazer inferências.
É hora de desconfiar dos números.
Enfim, é hora de acreditar que a vitória da esquerda fortalece a América Latina.

O segundo turno tá aí, em nossas mãos.
Houve um momento na História de nosso País que se falava na política café-com-leite ( Minas/São Paulo). O Nordeste não existia.
Devemos a Lula esse olhar para o Nordeste e à política café-com-rapadura que a elite aristocrata tanto abomina.

Meu coração está sangrando... estrelas que ainda brilham pelo meu povo.

(Graça Lins, 2 de Outubro 2006)

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