O Alckimista - o elixir do dossiê e o golpe filosofal
Para reflexão...
O Alquimista era o protoquímico do final da Idade Média e início da Renascença que, juntando misticismo e os pouco conhecimentos científicos sobre as propriedades da matéria, que já começavam a ser descobertas pelos “cientistas” da época, procurava com suas poções, beberagens e misturas diversas, obter um elixir com poderes curativos milagrosos, o “elixir da longa vida” e uma substância chamada “pedra filosofal” que seria capaz de transmutar qualquer metal sem valor em ouro. O alquimista era muito mais um místico do que um cientista, mas sem ele talvez a química, como a conhecemos hoje, nunca tivesse se desenvolvido.
Os místicos sempre sonharam obter poderes sobrenaturais e, de certa forma, sempre viram a si mesmos como uma espécie de “casta superior”, um tipo de elite cujos conhecimentos os mortais comuns não deveriam adquirir, nem por mérito, nem por competência. Muitos chegaram a se sentir como “profetas”, “escolhidos” ou “magos”. A pedra que realmente descobriram foi a dura e fria pedra da realidade: na natureza não há lugar para milagres. Da mesma forma, depois de navegar em ambições loucas e teorias estapafúrdias, também naufragou o sonho de eternidade do elixir da longa vida.
O tempo passou; muitos homens passaram, mas os sonhos nasceram para serem eternos. Não fosse assim não seriam sonhos, mas tão somente a realidade. Séculos se passaram até os nossos dias. Durante esse tempo foram muitas as pedras filosofais que se desmancharam diante das intempéries da realidade e muitos foram os elixires que nada eternizaram. E em cada século, por vezes em cada década, esses sonhos renascem das cinzas e morrem de novo sob o vai-e-vem da história.
Assim nasceu Alckmin, um misto de sonho de perfeição e eternidade que os alckmistas tucanos pacientemente vem tentando produzir em seus laboratórios multimidiáticos e nada mediavais. Assim nasceu a mais brilhante idéia tucana de nova eternidade no poder depois do fracasso na tentativa de eleger Serra: um elixir que não curou nada no Ministério da Saúde, mas que, para a alegria tucana, pelo menos conseguiu embebedar os paulistas nessas eleições.
Os tucanos são a pintura mais realista do alquimista que enlouqueceu. Eles imaginam-se escolhidos, sabe-se lá por quem, para guiarem o Brasil pelas verdades neo-liberais que somente a eles foram reveladas. Eles crêem ter poderes que os tornam os “mais preparados” e virtudes que os façam “os únicos merecedores” de toda ética e toda moral. È difícil para um tucano de alta plumagem, senão impossível, admitir que um mortal comum, principalmente um herege que não tenha freqüentado os rituais iniciáticos da USP e depois sacrificado uma tese em Sorbonne, possa fazer mágicas neoliberais. O controle da inflação, o aumento da produtividade, o funcionamento da máquina administrativa, o enxugamento o estado, a melhoria na qualidade de vida, a ética, a moral, a democracia e quiçá todas as virtudes dos homens, só podem existir sobre a tutela tucana ou, assim não sendo, serão obras de demônios barbudos ou ilusões da plebe ignara e incapaz de reconhecer que a comida a mais em seus pratos é mera ilusão retórica e populista.
Um país dirigido por um nordestino vindo da fábrica e sem curso superior é uma heresia tão inimaginável para um tucano quanto crer que tal governo pudesse resultar em outra coisa que não fosse o caos, a corrupção e a ruína total. Diante de tal possibilidade, só imaginada nos piores pesadelos dessas ranfastídeas aves, a única frase mágica que seriam capazes de pronunciar seria um lacônico “eu tenho medo...”. E assim foi.
De bicos entreabertos e com uma expressão de “e agora?” os tucanos pacientemente esperaram pela ruína absoluta do governo petista. Saltitantes, entre a ramaria do congresso eles, sempre em bandos, conspiraram com as hienas sempre felizes do PFL piadinhas infames sobre o sapo barbudo e a ralé operária incapaz de sentar-se à mesa com trinta talheres. Esperaram, esperaram... Mas o caos não veio. E, obviamente, irritaram-se.
Em dado momento houve tucano que ousou perguntar a si mesmo como podia ser possível que pessoa de tão baixa estirpe pudesse refestelar-se em churrascos e beber boas cervejas enquanto o país “andava calmamente”. Nada pode doer tanto a um tucano místico quanto a descoberta de que seus poderes não eram verdadeiramente poderes e que os mortais comuns também podem fazer determinadas mágicas, simplesmente porque nada de mágico há nelas.
Foi nessa mesma época que as hienas pefelistas, não tendo mais os restos tucanos (que estranhamente alimentas hienas, suas predadoras potenciais) e os próprios bicudos emplumados começaram a perceber que estavam em uma floresta sem canídeo e, então, perguntaram: “e agora”? Novamente, diante da perspectiva de que tal governo parecia contrariar tudo o que aprenderam em suas sacrossantas escrituras ungidas por sacerdotes uspianos e abençoadas pela Meca-Sorbonne, tucanos aflitos sussurraram para seus egos mortalmente feridos: “eu tenho medo...”. Medo de que o elixir da longa vida tucana não tenha produzido o efeito desejado, medo de que a pedra filosofal neoliberal seja apenas pó e que qualquer mortal sem nenhuma nobreza tucana possa fazer melhores mágicas econômicas e sociais sem nenhuma pedra, medo de que agora a eternidade no poder possa ter sido transferida aos abjetos petistas.
Ato falho tucano - correu-se então para a mídia anunciar o improvável: o elixir estava em mãos dos não abençoados e agora era o PT quem se eternizaria no poder. A teoria que eles “desvendaram” sobre as piores intenções petistas era a mesma que os tucanos tentaram sem sucesso aplicar: estabelecer uma máquina política capaz de eternizar o governo por meio de cessão de cargos, cooptação de adversários, negociação de privilégios e impunidade aos amigos. Tucanos bem sabem como se faz isso e, já estando no poder a quase uma década, conhecem bem os pormenores, as palavras mágicas, as ervas milagrosas que se joga no caldeirão do Congresso para que de lá saia o coelho que se quiser que saia. E com tanto know-how não seria difícil apontar a ferida, principalmente se essa ferida tivesse nascido justamente sobre o tucanato: o valerioduto.
Quem mais poderia saber tão bem sobre o valerioduto senão os seus criadores? Quem mais poderia saber tão bem onde, quando e como procurar envolvidos, senão aqueles que inventaram o valerioduto? Mas não foi o PT que inventou o valerioduto e se pecado foi cometido pela ralé das fábricas, esse pecado foi não ter percebido que era muita ingenuidade usar o valerioduto tucano para abastecer o caixa-dois petista. O PT tem que dar a mão à palmatória e reconhecer que os tucanos não compraram, todos eles, os seus diplomas, alguns estudaram mesmo e tornaram-se “espertos”. Os tucanos são realmente espertos e não foi difícil para eles perceber que poderiam punir os infiéis petistas pelo uso de seus sagrados meios econômicos, tão sutilmente elaborados nos oito anos anteriores. O PT pagou então o preço justo por não ter desenvolvido ele mesmo uma tecnologia corruptiva de ponta e com patente própria. O preço dos royalts tucanos foi a balbúrdia que se criou a partir da CPMI dos Correios.
Durante meses a imprensa recebeu de suas fontes “anônimas” todas as indicações de que precisava para ligar as pontas desse novelo que os tucanos e as hienas (talvez as verdadeiras inventoras), melhor do que ninguém conheciam. De que outra forma jornalistas que não saem de suas mesas, deputados e senadores tucanos e pefelistas (ora, tucanos e pefelistas!) que nunca investigaram nada poderiam agora ser iluminados por uma inteligência extemporânea e aguçada capaz de apontar, detalhe por detalhe, de onde vinha, como transitava, como era maquiado e para onde iam os milhões do valerioduto?
Não é preciso ser tucano para perceber que essas informações não foram “descobertas”, mas tão somene “reveladas”. E no melhor estilo místico-profético: revelações com ares de descobertas da mídia. Brilhante! E seria perfeito se a inteligência fosse realmente um dom sagrado que somente aos tucanos pudesse ser dada, mas como qualquer um pode juntar dois com dois, então não tardaria para que se percebesse que só conhece de antemão o culpado e os detalhes de um crime aquele que o cometeu também. Como nossa imprensa prescinde de inteligência, mas não possui as mesmas necessidades políticas que os políticos, por simples exclusão sobram os tucanos e as hienas como legítimas “fontes”.
E eis que assim a pedra filosofal tucana, ou melhor, o “golpe filosofal”, acabou moída e desfigurada quando se percebeu que rapidamente se chegaria aos verdadeiros mentores do valérioduto. Foi quando então as CPIs foram perdendo o interesse e o plenário foi absolvendo, um por um, todos os implicados, salvo os desafetos e os bois de piranha de parte a parte. O golpe fracassou, mas os tucanos foram exímios em tirar todo o proveito possível e num ato de verdadeira mágica conseguiram rebaixar o moral e a imagem do PT para o mesmo nível em que se encontrava seu próprio moral e sua própria imagem depois de oito anos de constantes denúncias. O golpe tucano não deu certo, mas os petistas não perceberam que de um dia para outro o partido, até então tido como o “mais ético”, acabaria na vala comum dos “políticos corruptos em geral”, que antes era sinônimo de PP, PFL e PSDB. Uma vez mais devemos reconhecer a esperteza tucana!
Fracassada a tentativa do golpe filosofal, o que restaria aos tucanos? Assistirem desconsolados ao constante aumento da aprovação do governo operário, indigno de fazer melhor que a elite piciforme paulista? É claro que não. Tucano que preza pula de galho em galho, sempre de ladinho, até se fazer notar. Era preciso então um nome forte para o governo paulista, pois é aí que mora o grosso do eleitorado e, por necessária extensão estratégica, o único reduto verdadeiramente tucano onde floresce o dinheiro, a mídia fácil e um certo desprezo pelos miseráveis nordestinos que teimam em continuar vivos e vez por outra migram para a “capital”. São Paulo era “o pó do veneno da aranha” que faltava para a poção mágica elaborada no staff tucano-pefelista a fim de conseguir a mágica da possível eleição tucana no Governo Federal.
Toda a novela da disputa entre Serra e Alckmin pela pré-candidatura ao Governo Federal pode ser vista de duas formas: primeiro como uma disputa legítima dentro do partido, o que é uma visão ingênua, dado que Alckmin e Serra sempre jogaram juntos no mesmo time e têm, ambos, os mesmos propósitos, a mesma visão política, os mesmos interesses e a mesma turma de apoio; segundo, como um laboratório de pesquisa que pudesse indicar qual dos dois poderia ter maior adesão do eleitorado paulista. Evidentemente deu Serra como candidato ao governo paulista e, conseqüentemente, com a dura obrigação de criar as condições para que Alckmin pudesse concorrer à presidência.
Serra, que já vinha de um fracasso nas últimas eleições presidenciais e tinha uma gestão inclassificável na prefeitura paulista, agora, sem poder contar com o famoso “eu tenho medo...” de Regina Poltergeist, dificilmente seria melhor opção do que Lula, não poderia concorrer à presidência. Seria um retumbante fracasso, com ou sem a ajuda de São Paulo. Já Alckmin, depois de uma dúzia de anos de governo paulista e ainda fresco na memória dos paulistas aterrorizados pela insegurança pública, chateados com infinitos pedágios e aumentos de tarifas, diante de uma escola pública sucateada e um sistema de doença que ele teima em chamar de sistema de saúde, apesar de ser médico, é claro que Alckmin corria um risco real de não conseguir ganhar de Mercadante. Mas tucanos sabem que a memória é um espaço sempre pronto a esvaziar e uma simples troca de papéis apagaria tanto a memória de um Serra que apanhou de Lula nas últimas eleições quanto de um Alckmin que todos gostariam de ver governando o deserto da Namíbia.
A estratégia tucana foi bem montada (eles são realmente espertos!), a opinião pública foi insistentemente sondada até que se definisse claramente quem poderia concorrer com chances reais aos governos estadual e federal. FHC, Grão Mestre do tucanato, já declarou publicamente que Alckmin não está preparado para ser presidente, que ele, FHC, prefere Serra, mas que “ser o mais bem preparado” (palavra de ordem dos tucanos) não significa “ser o melhor candidato”. Uma leitura mais rápida e desatenta dessa frase pode deixar parecer que FHC quis dizer apenas que Alckmin não é bem preparado, mas ele disse mais que isso, disse também que Serra só seria “melhor candidato” em São Paulo e Alckmin em Brasília. Esses tucanos pensam que são santos, falam por parábolas!
Mais uma vez os tucanos acertaram a mão. Serra, que os paulistas recordam vagamente como tendo sido um Ministro da Saúde do qual ninguém lembra de nenhum feito, era bem mais palatável do que Alckmin, ainda fresco na memória e nas manchetes das páginas policiais. E junto com Serra viriam para Alckmin muitos votos paulistas. O único problema é que esses votos não bastavam para levar a um segundo turno.
Foi então que a metralhadora tucana resolveu apostar no desespero de causa e disparar para todo lado. O Ministro do TSE, tucano camaleão, criou a farsa do grampo telefônico e rapidamente convocou a imprensa para comunicar o possível envolvimento do governo no grampo. Porém, essa foi uma tentativa muito primária, indigna de ter sido levada a cabo por alguém em tão alto posto, pois rapidamente se descobriu que a empresa que afirmou ter encontrado os grampos era a mesma empresa “colaboradora” dos tucanos que Serra havia contratado para grampear seus adversários na eleição de 2002. Assim, em uma semana a Policia Federal descobriu que não havia nem houvera grampo algum. O mesmo ministro também aceitaria, dias depois, pedido de anulação da candidatura de Lula, mesmo sabendo que não poderia impugná-la nem cassá-la.
Eis então que renasce a pedra filosofal tucana e, ao mesmo tempo, tenta-se um último gole do elixir da longa vida eleitoral promovidos pelos alckmistas tucanos: o dossiê!
Envolvidos até o pescoço com as denúncias de corrupção e com a máfia dos sanguessugas, os tucanos tinham que encontrar uma forma de sair dessa e, simultaneamente, descobrir uma forma de levar Alckmin ao segundo turno, custasse o que custasse. E creiam, custou pouco! (Talvez apenas um milhão e setecentos mil reais).
O dossiê dos sanguessugas é um velho conhecido dos tucanos. Todo tucano sabe que a garantia de impunidade do criminoso é o silêncio dos comparsas e, em política, só se consegue o silêncio quando a culpabilidade de um acarreta a culpabilidade do outro. Assim, tucanos e “afiliados”, bem como políticos de todos os demais partidos, mantém e sempre mantiveram dossiês diversos dos seus “comparsas”, pois na iminência de se cair em desgraça a melhor estratégia é contar com a colaboração deles sob a ameaça de desgraçá-los também. Os Vedoim já estavam enterrados até o pescoço nos crimes de corrupção da Era Serra. A eles não restava mais a possibilidade de inocência, mas tão somente a possibilidade de “uma certa impunidade” que só o estado pode garantir.
Qual estado? São Paulo. Com alguns milhões, e contando com os amigos certos nos cargos certos, pode-se sem muita dificuldade sair da cadeia rapidinho e aposentar-se sob a sombra verde dos dólares que transitam nos caixas dois dos partidos. Aos Vendoim restava, portanto, uma única alternativa: salvar os amigos e contar com eles.
Já os tucanos, conhecedores que são dos fatos, como eram no caso do valerioduto, tinham em mãos outra possibilidade de um novo golpe filosofal: reverter ou nublar a opinião pública, que os via como diretamente envolvidos na máfia dos sanguessugas e, quem sabe, envolver os petistas diretamente no imbróglio, já que até então eles não tinham nenhuma relação com o caso. E eis que, de novo, a esperteza tucana aliada à ingenuidade petista e ao desespero por um segundo turno em São Paulo, conseguiram uma verdadeira mágica (que, como veremos, não é mágica alguma): os petistas, que nada tinham a ver com os sanguessugas, tornaram-se de um dia para outro os “culpados” por um crime que não existe (comprar um dossiê que os tucanos mesmo afirmam não existir), mas que conseguiu se sobrepor ao verdadeiro crime e, ainda por cima, o fizeram de forma tão ingênua que acabaram por criar o “elixir da longa vida para o segundo turno” de que Alckmin precisava.
Se qualquer um de nós tivesse muito dinheiro dificilmente sairíamos jogando-o pela janela. Para se gastar um milhão e setecentos mil reais é preciso ter um bom, um ótimo, um perfeitamente espetacular motivo. Petistas, por mais operários e nordestinos que sejam segundo a ótica tucano-paulista, não seriam burros a ponto de pagar uma fortuna desse tamanho por um vídeo que já estava distribuído gratuitamente na Internet e que mostra apenas o que todos sabemos: Serra e os envolvidos na máfia dos sanguessugas em uma cerimônia de entrega de ambulâncias em meio a declarações de que haveria verbas liberadas para muitas outras ainda, etc. etc. Enfim, isso não era novidade para ninguém.
Então o que os petistas compraram? Para entender o que eles compraram é preciso entender como funciona o “conto do sumiço da semente”.
Nesse golpe antiqüíssimo, mas que continua sendo praticado todos os dias na Praça da República, bem ali no centro de São Paulo, onde os tucanos habitam em maioria, um sujeito se vê diante de um “apostador” que oculta uma semente (ou uma bolinha) sob uma de três cascas com formato de calotas esféricas. Ele aposta dinheiro com os passantes que tentam adivinhar sob qual casca está a semente enquanto move as cascas e muda a semente de uma para outra incessantemente e de forma não muito hábil.
Qualquer passante vê que é muito fácil saber sob qual casca está a semente, pois o golpe tem que ser atrativo, mas não pode apostar porque já há alguém apostando. Por incrível que pareça há sempre um sujeito que está apostando com o golpista e parece não conseguir acertar onde está a semente. Esse sujeito, aparentemente, está perdendo bastante dinheiro. Em dado momento o golpista coloca a semente sob uma casca de forma que qualquer idiota saberia onde ela está. Então o sujeito que está perdendo dinheiro coloca sua mão sobre a casca certa para que o golpista não possa mais mudá-la de lugar. Tudo parece perfeito, exceto que agora o golpista ameaça blefar aumentando a aposta para um valor bastante elevado e afirmando que a semente não está lá onde todos viram que ela estava. Por sua vez, o sujeito que parece estar perdendo dinheiro, já não pode cobri-la e solicita que alguém lhe empreste dinheiro ou que se associe a ele. É nessa hora que o “pato” cai no golpe. Diante da possibilidade de se associar ao sujeito perdedor, bancando a aposta, e usufruir assim dos ganhos que serão repartidos entre eles, o “pato” põe seu dinheiro na mão do golpista e a casca é levantada. Para sua surpresa não há semente alguma embaixo dela, o dinheiro dele já era e ele sente-se o maior idiota da Terra. O que houve com a semente? Ela foi retirada habilmente pelo sujeito que estava apostando com o golpista, que é muito habilidoso com as mãos e que é “sócio” do golpista, mas que agora se fingirá de surpreendido e tentará consolar o “pato” para depois repartir a grana com seu sócio golpista.
Os petistas caíram no conto da semente. Eles viram um dossiê que de fato existia, pois ninguém pagaria um milhão e setecentos mil reais por uma casca vazia, mas ao casearem o dinheiro e levantarem a casca o dossiê não estava mais lá, apenas a Polícia Federal. Será por isso que o dossiê “sumiu”? O sujeito que pretendiam explorar e tirar alguma vantagem em troca de um prêmio maior (os Vedoim, já desgraçados e descapitalizados) pareciam estar apostando e não estavam podendo bancar a aposta toda, dando assim a impressão de que os petistas iriam ganhar uma imensa bolada eleitoral. De fato eles apostaram e ganharam, mas o parceiro deles era outro e não o pato-petista. Quem era então o golpista que movia as cascas? Só pode ser alguém que tenha de fato a semente-dossiê, não é? O mesmo alguém que sumiu com o dossiê e que sabia muito bem o quanto ele seria atrativo da forma como foi “mostrado” antes de desaparecer.
Assim chegamos ao segundo turno, entre golpistas, aproveitadores, patos e toda a sorte de sujeira que nossos políticos são capazes de produzir. Inocentar os petistas compradores de cascas vazias é uma completa impossibilidade, pois eles devem ser duplamente punidos: primeiro pela intenção que tinham, segundo por serem ingênuos irresponsáveis que caíram em um conto que é mais velho do que o conto de vender dossiês das ilhas Cayman (Lembra-se que já tentaram esse mesmo golpe antes e só o Maluf caiu? Advinha quem deu o golpe e vendeu o dossiê na época?). Pois é, a história se repete, mas nem sempre se repete exatamente igual. Dessa vez os petistas caíram mesmo.
Culpados, não os conheceremos, é claro. Talvez os petistas nem saibam de onde viria o dinheiro, pois se era preciso fazer com que eles comprassem o dossiê a qualquer custo para poderem ir em cana e levar a eleição ao segundo turno, então existe até mesmo uma possibilidade real e nada desprezível de que o dinheiro tenha sido fornecido pelos próprios vendedores por mãos de terceiros e, convenhamos, levar uma eleição perdida para o segundo turno a um custo de um milhão e setecentos mil reais é uma bagatela em uma campanha onde serão gasto quase cem milhões de reais por cada um dos candidatos. Esse sim foi um bom negócio. Aliás, negócio esperto!
Para finalizar o golpe só faltavam os parceiros certos: um determinado delegado da Polícia Federal que distribuiria as fotos do dinheiro, cuidadosamente empilhado, para a imprensa “seleta” que ele convocou e que, não por acaso, é a mesma imprensa contratada para criar o fenômeno “Collor II: O Alckmista” e essa imprensa que vem trabalhando ardorosamente na campanha de Alckmin.
Agora estamos no segundo turno. Quais serão os próximos lances?
Analisemos...
Lula abriu 20 pontos de vantagem sobre Alckmin, mesmo com toda essa meleca do dossiê voando pelo ventilador, logo, o efeito dossiê já expirou. Isso, em “bom politiquês”, quer dizer que serão necessários “fatos novos” para que a eleição mude de rumo. Os tucanos têm cobrado a origem do dinheiro, e ela não apareceu ainda, e talvez nunca apareça, principalmente se essa origem for desconhecida “dos tucanos”. Mas cobrar a origem e afirmar que ela é ilícita, para com isso conseguir anular a candidatura de Lula ou reverter a tendência eleitoral, é algo praticamente impossível. Alckmin, que não é tão “esperto” quanto Serra, já cometeu a besteira de adiantar que pretende tornar impossível que Lula assuma, mas não conta com a possibilidade de que, eleito pela maioria, não haja massa de manobra suficiente para um golpe tucano-pefelista após as eleições. Além disso, se Lula ganhar, Alckmin não terá nas mãos a máquina política que os tucanos sabem manejar muito bem para que produza qualquer resultado que eles queiram (como fizeram tantas vezes no governo FHC). Mas se os tucanos conhecerem a “fonte” do dinheiro, então provavelmente ela será divulgada nas vésperas da eleição e, nesse caso, será obviamente uma fonte “ilícita” (e isso seria o golpe quase-perfeito). Mas se eles também não souberem, então o golpe do dossiê já terá expirado de vez. O que poderemos esperar então?
É muito difícil advinhar o próximo lance tucano na hipótese de que eles não “conheçam” a fonte do dinheiro. Mas se eu tivesse dinheiro para apostar eu apostaria que a fonte “ilícita” aparecerá nas vésperas da eleição. Já até ouvimos falar que “certo delegado da Polícia Federal” espera conseguir “desvendar a origem do dinheiro” justamente ai pelas vésperas da eleição. Hummm...
No entanto, Alckmin vem despencando nas pesquisas e apanhando vergonhosamente nos debates. Se a “fonte ilícita” demorar muito a aparecer talvez nem mesmo ela será suficiente para reverter o quadro, a não ser que tenham conseguido algo realmente espetacular... E talvez tenham mesmo, pois “a fonte ilícita” é a única tônica de todos os tucanos e pefelistas nesse segundo turno. Até mesmo o plano de governo e as críticas ao governo Lula tem cedido lugar à “pergunta que não quer calar”: de onde veio o dinheiro?
Portanto, se esse dinheiro aparecer MISTERIOSAMENTE das contas do PCC, teremos fechado o ciclo completo de um golpe perfeito: Alckmin, o sujeito acusado de dar moleza ao PCC, não só será isentado disso como também terá criado a mais espetacular pedra filosofal que um tucano poderia imaginar - atribuir ao PT a ligação com o PCC, garantir a votação de São Paulo (que detesta o PCC e só votou em Alckmin por causa de Serra) e, além disso, estaremos reeditando o golpe de Collor, quando a PF vestiu os seqüestradores de Diniz com camisetas do PT nas vésperas da eleição. Mas aí seria muita falta de criatividade tucana... Ou não?
Quem viver, verá.
Autor desconhecido
Para reflexão...
O Alquimista era o protoquímico do final da Idade Média e início da Renascença que, juntando misticismo e os pouco conhecimentos científicos sobre as propriedades da matéria, que já começavam a ser descobertas pelos “cientistas” da época, procurava com suas poções, beberagens e misturas diversas, obter um elixir com poderes curativos milagrosos, o “elixir da longa vida” e uma substância chamada “pedra filosofal” que seria capaz de transmutar qualquer metal sem valor em ouro. O alquimista era muito mais um místico do que um cientista, mas sem ele talvez a química, como a conhecemos hoje, nunca tivesse se desenvolvido.
Os místicos sempre sonharam obter poderes sobrenaturais e, de certa forma, sempre viram a si mesmos como uma espécie de “casta superior”, um tipo de elite cujos conhecimentos os mortais comuns não deveriam adquirir, nem por mérito, nem por competência. Muitos chegaram a se sentir como “profetas”, “escolhidos” ou “magos”. A pedra que realmente descobriram foi a dura e fria pedra da realidade: na natureza não há lugar para milagres. Da mesma forma, depois de navegar em ambições loucas e teorias estapafúrdias, também naufragou o sonho de eternidade do elixir da longa vida.
O tempo passou; muitos homens passaram, mas os sonhos nasceram para serem eternos. Não fosse assim não seriam sonhos, mas tão somente a realidade. Séculos se passaram até os nossos dias. Durante esse tempo foram muitas as pedras filosofais que se desmancharam diante das intempéries da realidade e muitos foram os elixires que nada eternizaram. E em cada século, por vezes em cada década, esses sonhos renascem das cinzas e morrem de novo sob o vai-e-vem da história.
Assim nasceu Alckmin, um misto de sonho de perfeição e eternidade que os alckmistas tucanos pacientemente vem tentando produzir em seus laboratórios multimidiáticos e nada mediavais. Assim nasceu a mais brilhante idéia tucana de nova eternidade no poder depois do fracasso na tentativa de eleger Serra: um elixir que não curou nada no Ministério da Saúde, mas que, para a alegria tucana, pelo menos conseguiu embebedar os paulistas nessas eleições.
Os tucanos são a pintura mais realista do alquimista que enlouqueceu. Eles imaginam-se escolhidos, sabe-se lá por quem, para guiarem o Brasil pelas verdades neo-liberais que somente a eles foram reveladas. Eles crêem ter poderes que os tornam os “mais preparados” e virtudes que os façam “os únicos merecedores” de toda ética e toda moral. È difícil para um tucano de alta plumagem, senão impossível, admitir que um mortal comum, principalmente um herege que não tenha freqüentado os rituais iniciáticos da USP e depois sacrificado uma tese em Sorbonne, possa fazer mágicas neoliberais. O controle da inflação, o aumento da produtividade, o funcionamento da máquina administrativa, o enxugamento o estado, a melhoria na qualidade de vida, a ética, a moral, a democracia e quiçá todas as virtudes dos homens, só podem existir sobre a tutela tucana ou, assim não sendo, serão obras de demônios barbudos ou ilusões da plebe ignara e incapaz de reconhecer que a comida a mais em seus pratos é mera ilusão retórica e populista.
Um país dirigido por um nordestino vindo da fábrica e sem curso superior é uma heresia tão inimaginável para um tucano quanto crer que tal governo pudesse resultar em outra coisa que não fosse o caos, a corrupção e a ruína total. Diante de tal possibilidade, só imaginada nos piores pesadelos dessas ranfastídeas aves, a única frase mágica que seriam capazes de pronunciar seria um lacônico “eu tenho medo...”. E assim foi.
De bicos entreabertos e com uma expressão de “e agora?” os tucanos pacientemente esperaram pela ruína absoluta do governo petista. Saltitantes, entre a ramaria do congresso eles, sempre em bandos, conspiraram com as hienas sempre felizes do PFL piadinhas infames sobre o sapo barbudo e a ralé operária incapaz de sentar-se à mesa com trinta talheres. Esperaram, esperaram... Mas o caos não veio. E, obviamente, irritaram-se.
Em dado momento houve tucano que ousou perguntar a si mesmo como podia ser possível que pessoa de tão baixa estirpe pudesse refestelar-se em churrascos e beber boas cervejas enquanto o país “andava calmamente”. Nada pode doer tanto a um tucano místico quanto a descoberta de que seus poderes não eram verdadeiramente poderes e que os mortais comuns também podem fazer determinadas mágicas, simplesmente porque nada de mágico há nelas.
Foi nessa mesma época que as hienas pefelistas, não tendo mais os restos tucanos (que estranhamente alimentas hienas, suas predadoras potenciais) e os próprios bicudos emplumados começaram a perceber que estavam em uma floresta sem canídeo e, então, perguntaram: “e agora”? Novamente, diante da perspectiva de que tal governo parecia contrariar tudo o que aprenderam em suas sacrossantas escrituras ungidas por sacerdotes uspianos e abençoadas pela Meca-Sorbonne, tucanos aflitos sussurraram para seus egos mortalmente feridos: “eu tenho medo...”. Medo de que o elixir da longa vida tucana não tenha produzido o efeito desejado, medo de que a pedra filosofal neoliberal seja apenas pó e que qualquer mortal sem nenhuma nobreza tucana possa fazer melhores mágicas econômicas e sociais sem nenhuma pedra, medo de que agora a eternidade no poder possa ter sido transferida aos abjetos petistas.
Ato falho tucano - correu-se então para a mídia anunciar o improvável: o elixir estava em mãos dos não abençoados e agora era o PT quem se eternizaria no poder. A teoria que eles “desvendaram” sobre as piores intenções petistas era a mesma que os tucanos tentaram sem sucesso aplicar: estabelecer uma máquina política capaz de eternizar o governo por meio de cessão de cargos, cooptação de adversários, negociação de privilégios e impunidade aos amigos. Tucanos bem sabem como se faz isso e, já estando no poder a quase uma década, conhecem bem os pormenores, as palavras mágicas, as ervas milagrosas que se joga no caldeirão do Congresso para que de lá saia o coelho que se quiser que saia. E com tanto know-how não seria difícil apontar a ferida, principalmente se essa ferida tivesse nascido justamente sobre o tucanato: o valerioduto.
Quem mais poderia saber tão bem sobre o valerioduto senão os seus criadores? Quem mais poderia saber tão bem onde, quando e como procurar envolvidos, senão aqueles que inventaram o valerioduto? Mas não foi o PT que inventou o valerioduto e se pecado foi cometido pela ralé das fábricas, esse pecado foi não ter percebido que era muita ingenuidade usar o valerioduto tucano para abastecer o caixa-dois petista. O PT tem que dar a mão à palmatória e reconhecer que os tucanos não compraram, todos eles, os seus diplomas, alguns estudaram mesmo e tornaram-se “espertos”. Os tucanos são realmente espertos e não foi difícil para eles perceber que poderiam punir os infiéis petistas pelo uso de seus sagrados meios econômicos, tão sutilmente elaborados nos oito anos anteriores. O PT pagou então o preço justo por não ter desenvolvido ele mesmo uma tecnologia corruptiva de ponta e com patente própria. O preço dos royalts tucanos foi a balbúrdia que se criou a partir da CPMI dos Correios.
Durante meses a imprensa recebeu de suas fontes “anônimas” todas as indicações de que precisava para ligar as pontas desse novelo que os tucanos e as hienas (talvez as verdadeiras inventoras), melhor do que ninguém conheciam. De que outra forma jornalistas que não saem de suas mesas, deputados e senadores tucanos e pefelistas (ora, tucanos e pefelistas!) que nunca investigaram nada poderiam agora ser iluminados por uma inteligência extemporânea e aguçada capaz de apontar, detalhe por detalhe, de onde vinha, como transitava, como era maquiado e para onde iam os milhões do valerioduto?
Não é preciso ser tucano para perceber que essas informações não foram “descobertas”, mas tão somene “reveladas”. E no melhor estilo místico-profético: revelações com ares de descobertas da mídia. Brilhante! E seria perfeito se a inteligência fosse realmente um dom sagrado que somente aos tucanos pudesse ser dada, mas como qualquer um pode juntar dois com dois, então não tardaria para que se percebesse que só conhece de antemão o culpado e os detalhes de um crime aquele que o cometeu também. Como nossa imprensa prescinde de inteligência, mas não possui as mesmas necessidades políticas que os políticos, por simples exclusão sobram os tucanos e as hienas como legítimas “fontes”.
E eis que assim a pedra filosofal tucana, ou melhor, o “golpe filosofal”, acabou moída e desfigurada quando se percebeu que rapidamente se chegaria aos verdadeiros mentores do valérioduto. Foi quando então as CPIs foram perdendo o interesse e o plenário foi absolvendo, um por um, todos os implicados, salvo os desafetos e os bois de piranha de parte a parte. O golpe fracassou, mas os tucanos foram exímios em tirar todo o proveito possível e num ato de verdadeira mágica conseguiram rebaixar o moral e a imagem do PT para o mesmo nível em que se encontrava seu próprio moral e sua própria imagem depois de oito anos de constantes denúncias. O golpe tucano não deu certo, mas os petistas não perceberam que de um dia para outro o partido, até então tido como o “mais ético”, acabaria na vala comum dos “políticos corruptos em geral”, que antes era sinônimo de PP, PFL e PSDB. Uma vez mais devemos reconhecer a esperteza tucana!
Fracassada a tentativa do golpe filosofal, o que restaria aos tucanos? Assistirem desconsolados ao constante aumento da aprovação do governo operário, indigno de fazer melhor que a elite piciforme paulista? É claro que não. Tucano que preza pula de galho em galho, sempre de ladinho, até se fazer notar. Era preciso então um nome forte para o governo paulista, pois é aí que mora o grosso do eleitorado e, por necessária extensão estratégica, o único reduto verdadeiramente tucano onde floresce o dinheiro, a mídia fácil e um certo desprezo pelos miseráveis nordestinos que teimam em continuar vivos e vez por outra migram para a “capital”. São Paulo era “o pó do veneno da aranha” que faltava para a poção mágica elaborada no staff tucano-pefelista a fim de conseguir a mágica da possível eleição tucana no Governo Federal.
Toda a novela da disputa entre Serra e Alckmin pela pré-candidatura ao Governo Federal pode ser vista de duas formas: primeiro como uma disputa legítima dentro do partido, o que é uma visão ingênua, dado que Alckmin e Serra sempre jogaram juntos no mesmo time e têm, ambos, os mesmos propósitos, a mesma visão política, os mesmos interesses e a mesma turma de apoio; segundo, como um laboratório de pesquisa que pudesse indicar qual dos dois poderia ter maior adesão do eleitorado paulista. Evidentemente deu Serra como candidato ao governo paulista e, conseqüentemente, com a dura obrigação de criar as condições para que Alckmin pudesse concorrer à presidência.
Serra, que já vinha de um fracasso nas últimas eleições presidenciais e tinha uma gestão inclassificável na prefeitura paulista, agora, sem poder contar com o famoso “eu tenho medo...” de Regina Poltergeist, dificilmente seria melhor opção do que Lula, não poderia concorrer à presidência. Seria um retumbante fracasso, com ou sem a ajuda de São Paulo. Já Alckmin, depois de uma dúzia de anos de governo paulista e ainda fresco na memória dos paulistas aterrorizados pela insegurança pública, chateados com infinitos pedágios e aumentos de tarifas, diante de uma escola pública sucateada e um sistema de doença que ele teima em chamar de sistema de saúde, apesar de ser médico, é claro que Alckmin corria um risco real de não conseguir ganhar de Mercadante. Mas tucanos sabem que a memória é um espaço sempre pronto a esvaziar e uma simples troca de papéis apagaria tanto a memória de um Serra que apanhou de Lula nas últimas eleições quanto de um Alckmin que todos gostariam de ver governando o deserto da Namíbia.
A estratégia tucana foi bem montada (eles são realmente espertos!), a opinião pública foi insistentemente sondada até que se definisse claramente quem poderia concorrer com chances reais aos governos estadual e federal. FHC, Grão Mestre do tucanato, já declarou publicamente que Alckmin não está preparado para ser presidente, que ele, FHC, prefere Serra, mas que “ser o mais bem preparado” (palavra de ordem dos tucanos) não significa “ser o melhor candidato”. Uma leitura mais rápida e desatenta dessa frase pode deixar parecer que FHC quis dizer apenas que Alckmin não é bem preparado, mas ele disse mais que isso, disse também que Serra só seria “melhor candidato” em São Paulo e Alckmin em Brasília. Esses tucanos pensam que são santos, falam por parábolas!
Mais uma vez os tucanos acertaram a mão. Serra, que os paulistas recordam vagamente como tendo sido um Ministro da Saúde do qual ninguém lembra de nenhum feito, era bem mais palatável do que Alckmin, ainda fresco na memória e nas manchetes das páginas policiais. E junto com Serra viriam para Alckmin muitos votos paulistas. O único problema é que esses votos não bastavam para levar a um segundo turno.
Foi então que a metralhadora tucana resolveu apostar no desespero de causa e disparar para todo lado. O Ministro do TSE, tucano camaleão, criou a farsa do grampo telefônico e rapidamente convocou a imprensa para comunicar o possível envolvimento do governo no grampo. Porém, essa foi uma tentativa muito primária, indigna de ter sido levada a cabo por alguém em tão alto posto, pois rapidamente se descobriu que a empresa que afirmou ter encontrado os grampos era a mesma empresa “colaboradora” dos tucanos que Serra havia contratado para grampear seus adversários na eleição de 2002. Assim, em uma semana a Policia Federal descobriu que não havia nem houvera grampo algum. O mesmo ministro também aceitaria, dias depois, pedido de anulação da candidatura de Lula, mesmo sabendo que não poderia impugná-la nem cassá-la.
Eis então que renasce a pedra filosofal tucana e, ao mesmo tempo, tenta-se um último gole do elixir da longa vida eleitoral promovidos pelos alckmistas tucanos: o dossiê!
Envolvidos até o pescoço com as denúncias de corrupção e com a máfia dos sanguessugas, os tucanos tinham que encontrar uma forma de sair dessa e, simultaneamente, descobrir uma forma de levar Alckmin ao segundo turno, custasse o que custasse. E creiam, custou pouco! (Talvez apenas um milhão e setecentos mil reais).
O dossiê dos sanguessugas é um velho conhecido dos tucanos. Todo tucano sabe que a garantia de impunidade do criminoso é o silêncio dos comparsas e, em política, só se consegue o silêncio quando a culpabilidade de um acarreta a culpabilidade do outro. Assim, tucanos e “afiliados”, bem como políticos de todos os demais partidos, mantém e sempre mantiveram dossiês diversos dos seus “comparsas”, pois na iminência de se cair em desgraça a melhor estratégia é contar com a colaboração deles sob a ameaça de desgraçá-los também. Os Vedoim já estavam enterrados até o pescoço nos crimes de corrupção da Era Serra. A eles não restava mais a possibilidade de inocência, mas tão somente a possibilidade de “uma certa impunidade” que só o estado pode garantir.
Qual estado? São Paulo. Com alguns milhões, e contando com os amigos certos nos cargos certos, pode-se sem muita dificuldade sair da cadeia rapidinho e aposentar-se sob a sombra verde dos dólares que transitam nos caixas dois dos partidos. Aos Vendoim restava, portanto, uma única alternativa: salvar os amigos e contar com eles.
Já os tucanos, conhecedores que são dos fatos, como eram no caso do valerioduto, tinham em mãos outra possibilidade de um novo golpe filosofal: reverter ou nublar a opinião pública, que os via como diretamente envolvidos na máfia dos sanguessugas e, quem sabe, envolver os petistas diretamente no imbróglio, já que até então eles não tinham nenhuma relação com o caso. E eis que, de novo, a esperteza tucana aliada à ingenuidade petista e ao desespero por um segundo turno em São Paulo, conseguiram uma verdadeira mágica (que, como veremos, não é mágica alguma): os petistas, que nada tinham a ver com os sanguessugas, tornaram-se de um dia para outro os “culpados” por um crime que não existe (comprar um dossiê que os tucanos mesmo afirmam não existir), mas que conseguiu se sobrepor ao verdadeiro crime e, ainda por cima, o fizeram de forma tão ingênua que acabaram por criar o “elixir da longa vida para o segundo turno” de que Alckmin precisava.
Se qualquer um de nós tivesse muito dinheiro dificilmente sairíamos jogando-o pela janela. Para se gastar um milhão e setecentos mil reais é preciso ter um bom, um ótimo, um perfeitamente espetacular motivo. Petistas, por mais operários e nordestinos que sejam segundo a ótica tucano-paulista, não seriam burros a ponto de pagar uma fortuna desse tamanho por um vídeo que já estava distribuído gratuitamente na Internet e que mostra apenas o que todos sabemos: Serra e os envolvidos na máfia dos sanguessugas em uma cerimônia de entrega de ambulâncias em meio a declarações de que haveria verbas liberadas para muitas outras ainda, etc. etc. Enfim, isso não era novidade para ninguém.
Então o que os petistas compraram? Para entender o que eles compraram é preciso entender como funciona o “conto do sumiço da semente”.
Nesse golpe antiqüíssimo, mas que continua sendo praticado todos os dias na Praça da República, bem ali no centro de São Paulo, onde os tucanos habitam em maioria, um sujeito se vê diante de um “apostador” que oculta uma semente (ou uma bolinha) sob uma de três cascas com formato de calotas esféricas. Ele aposta dinheiro com os passantes que tentam adivinhar sob qual casca está a semente enquanto move as cascas e muda a semente de uma para outra incessantemente e de forma não muito hábil.
Qualquer passante vê que é muito fácil saber sob qual casca está a semente, pois o golpe tem que ser atrativo, mas não pode apostar porque já há alguém apostando. Por incrível que pareça há sempre um sujeito que está apostando com o golpista e parece não conseguir acertar onde está a semente. Esse sujeito, aparentemente, está perdendo bastante dinheiro. Em dado momento o golpista coloca a semente sob uma casca de forma que qualquer idiota saberia onde ela está. Então o sujeito que está perdendo dinheiro coloca sua mão sobre a casca certa para que o golpista não possa mais mudá-la de lugar. Tudo parece perfeito, exceto que agora o golpista ameaça blefar aumentando a aposta para um valor bastante elevado e afirmando que a semente não está lá onde todos viram que ela estava. Por sua vez, o sujeito que parece estar perdendo dinheiro, já não pode cobri-la e solicita que alguém lhe empreste dinheiro ou que se associe a ele. É nessa hora que o “pato” cai no golpe. Diante da possibilidade de se associar ao sujeito perdedor, bancando a aposta, e usufruir assim dos ganhos que serão repartidos entre eles, o “pato” põe seu dinheiro na mão do golpista e a casca é levantada. Para sua surpresa não há semente alguma embaixo dela, o dinheiro dele já era e ele sente-se o maior idiota da Terra. O que houve com a semente? Ela foi retirada habilmente pelo sujeito que estava apostando com o golpista, que é muito habilidoso com as mãos e que é “sócio” do golpista, mas que agora se fingirá de surpreendido e tentará consolar o “pato” para depois repartir a grana com seu sócio golpista.
Os petistas caíram no conto da semente. Eles viram um dossiê que de fato existia, pois ninguém pagaria um milhão e setecentos mil reais por uma casca vazia, mas ao casearem o dinheiro e levantarem a casca o dossiê não estava mais lá, apenas a Polícia Federal. Será por isso que o dossiê “sumiu”? O sujeito que pretendiam explorar e tirar alguma vantagem em troca de um prêmio maior (os Vedoim, já desgraçados e descapitalizados) pareciam estar apostando e não estavam podendo bancar a aposta toda, dando assim a impressão de que os petistas iriam ganhar uma imensa bolada eleitoral. De fato eles apostaram e ganharam, mas o parceiro deles era outro e não o pato-petista. Quem era então o golpista que movia as cascas? Só pode ser alguém que tenha de fato a semente-dossiê, não é? O mesmo alguém que sumiu com o dossiê e que sabia muito bem o quanto ele seria atrativo da forma como foi “mostrado” antes de desaparecer.
Assim chegamos ao segundo turno, entre golpistas, aproveitadores, patos e toda a sorte de sujeira que nossos políticos são capazes de produzir. Inocentar os petistas compradores de cascas vazias é uma completa impossibilidade, pois eles devem ser duplamente punidos: primeiro pela intenção que tinham, segundo por serem ingênuos irresponsáveis que caíram em um conto que é mais velho do que o conto de vender dossiês das ilhas Cayman (Lembra-se que já tentaram esse mesmo golpe antes e só o Maluf caiu? Advinha quem deu o golpe e vendeu o dossiê na época?). Pois é, a história se repete, mas nem sempre se repete exatamente igual. Dessa vez os petistas caíram mesmo.
Culpados, não os conheceremos, é claro. Talvez os petistas nem saibam de onde viria o dinheiro, pois se era preciso fazer com que eles comprassem o dossiê a qualquer custo para poderem ir em cana e levar a eleição ao segundo turno, então existe até mesmo uma possibilidade real e nada desprezível de que o dinheiro tenha sido fornecido pelos próprios vendedores por mãos de terceiros e, convenhamos, levar uma eleição perdida para o segundo turno a um custo de um milhão e setecentos mil reais é uma bagatela em uma campanha onde serão gasto quase cem milhões de reais por cada um dos candidatos. Esse sim foi um bom negócio. Aliás, negócio esperto!
Para finalizar o golpe só faltavam os parceiros certos: um determinado delegado da Polícia Federal que distribuiria as fotos do dinheiro, cuidadosamente empilhado, para a imprensa “seleta” que ele convocou e que, não por acaso, é a mesma imprensa contratada para criar o fenômeno “Collor II: O Alckmista” e essa imprensa que vem trabalhando ardorosamente na campanha de Alckmin.
Agora estamos no segundo turno. Quais serão os próximos lances?
Analisemos...
Lula abriu 20 pontos de vantagem sobre Alckmin, mesmo com toda essa meleca do dossiê voando pelo ventilador, logo, o efeito dossiê já expirou. Isso, em “bom politiquês”, quer dizer que serão necessários “fatos novos” para que a eleição mude de rumo. Os tucanos têm cobrado a origem do dinheiro, e ela não apareceu ainda, e talvez nunca apareça, principalmente se essa origem for desconhecida “dos tucanos”. Mas cobrar a origem e afirmar que ela é ilícita, para com isso conseguir anular a candidatura de Lula ou reverter a tendência eleitoral, é algo praticamente impossível. Alckmin, que não é tão “esperto” quanto Serra, já cometeu a besteira de adiantar que pretende tornar impossível que Lula assuma, mas não conta com a possibilidade de que, eleito pela maioria, não haja massa de manobra suficiente para um golpe tucano-pefelista após as eleições. Além disso, se Lula ganhar, Alckmin não terá nas mãos a máquina política que os tucanos sabem manejar muito bem para que produza qualquer resultado que eles queiram (como fizeram tantas vezes no governo FHC). Mas se os tucanos conhecerem a “fonte” do dinheiro, então provavelmente ela será divulgada nas vésperas da eleição e, nesse caso, será obviamente uma fonte “ilícita” (e isso seria o golpe quase-perfeito). Mas se eles também não souberem, então o golpe do dossiê já terá expirado de vez. O que poderemos esperar então?
É muito difícil advinhar o próximo lance tucano na hipótese de que eles não “conheçam” a fonte do dinheiro. Mas se eu tivesse dinheiro para apostar eu apostaria que a fonte “ilícita” aparecerá nas vésperas da eleição. Já até ouvimos falar que “certo delegado da Polícia Federal” espera conseguir “desvendar a origem do dinheiro” justamente ai pelas vésperas da eleição. Hummm...
No entanto, Alckmin vem despencando nas pesquisas e apanhando vergonhosamente nos debates. Se a “fonte ilícita” demorar muito a aparecer talvez nem mesmo ela será suficiente para reverter o quadro, a não ser que tenham conseguido algo realmente espetacular... E talvez tenham mesmo, pois “a fonte ilícita” é a única tônica de todos os tucanos e pefelistas nesse segundo turno. Até mesmo o plano de governo e as críticas ao governo Lula tem cedido lugar à “pergunta que não quer calar”: de onde veio o dinheiro?
Portanto, se esse dinheiro aparecer MISTERIOSAMENTE das contas do PCC, teremos fechado o ciclo completo de um golpe perfeito: Alckmin, o sujeito acusado de dar moleza ao PCC, não só será isentado disso como também terá criado a mais espetacular pedra filosofal que um tucano poderia imaginar - atribuir ao PT a ligação com o PCC, garantir a votação de São Paulo (que detesta o PCC e só votou em Alckmin por causa de Serra) e, além disso, estaremos reeditando o golpe de Collor, quando a PF vestiu os seqüestradores de Diniz com camisetas do PT nas vésperas da eleição. Mas aí seria muita falta de criatividade tucana... Ou não?
Quem viver, verá.
Autor desconhecido
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