Por Glauber Piva*
“Com o corpo coberto de cicatrizes,
portando estrelas no peito,
nos olhos a invencível vocação de mar,
nós, os primitivos
voltamos
e somos milhões.” (Pedro Tierra)
portando estrelas no peito,
nos olhos a invencível vocação de mar,
nós, os primitivos
voltamos
e somos milhões.” (Pedro Tierra)
Antes que amanheça, saibamos do dia que encerramos.
Nascido das trevas, o dia findo carregou a marca da ansiedade e ofereceu-nos caminhos confusos, ora escuros, ora alegres; ora penhascos, ora planícies, ora planalto.
Construído com a massa da qual é feita as utopias, este dia trouxe em seu ventre o sangue dos que lutaram contra as ditaduras, o suor dos que resignificaram o trabalho e os sonhos dos que reinventaram o Brasil. Neste dia que tanto demorou para nascer e agora já está terminado, o povo saiu da platéia e invadiu o palco.
A pobreza diminuiu, a fome diminuiu, o desemprego diminuiu. Neste dia, o Brasil e a América Latina se reencontraram e o mundo descobriu novos atores. Neste dia, negros e pobres, mulheres e homens, jovens e velhos acenderam o seu candeeiro e não deixaram a noite obscurecer o país.
Antes que o dia amanheça, lembremos da noite que vivemos.
Não podemos inaugurar o amanhã se não tratarmos as dores da noite. Vivemos tempos de ardor e descobertas e chegou a hora de reconhecê-las.
Aos que pensaram que diálogos encerram lutas e aniquilam diferenças, esta noite sepultou as ilusões: se somos plurais e diversos, somos também diferentes, somos um povo nascido das opressões, forjado nos mais duros embates e esta noite nos banhou com a mais antiga de todas as lutas.
Antes do amanhecer, identifiquemos nossos erros e purguemos nossas culpas, mas também olhemos nos olhos de nossos algozes e não nos esqueçamos de seus falsos moralismos, de suas condenações vazias desenhadas em manchetes e de seu autoritarismo que tentou nos impor o silêncio e a submissão.
Nesta longa noite, nossas dores doeram mais forte, mas também nos fortaleceram para o longo dia que chegou.
Antes que o dia amanheça, olhemos o horizonte, pois ele guarda o sol que iluminará as nossas lutas.
Aos que esperam por descanso, o novo dia não oferecerá cama macia, mas caminhos pedregosos. Aos que carregam armas, o novo dia não permitirá intolerância, mas exigirá inteligência. Aos que aspiram por consenso, a manhã nos propõe argumento e nos lembra que é tempo de sedução e dissenso.
Neste dia, com as frestas reveladas pelo sol, caberá às forças populares organizarem o seu projeto e articularem suas energias. Nossa comunicação tem de ser mais eficiente e nossas vozes mais audíveis. Na manhã que se anuncia, a esquerda deve se saber esquerda, os democratas se fazer republicanos e o povo não sair do palco.
O dia será longo, as lutas serão duras e outra noite poderá vir. Evitá-la é tarefa de milhões. Que tenhamos aprendido com a crueza da noite!
Glauber Piva é Secretário Nacional de Cultura do PT
Nascido das trevas, o dia findo carregou a marca da ansiedade e ofereceu-nos caminhos confusos, ora escuros, ora alegres; ora penhascos, ora planícies, ora planalto.
Construído com a massa da qual é feita as utopias, este dia trouxe em seu ventre o sangue dos que lutaram contra as ditaduras, o suor dos que resignificaram o trabalho e os sonhos dos que reinventaram o Brasil. Neste dia que tanto demorou para nascer e agora já está terminado, o povo saiu da platéia e invadiu o palco.
A pobreza diminuiu, a fome diminuiu, o desemprego diminuiu. Neste dia, o Brasil e a América Latina se reencontraram e o mundo descobriu novos atores. Neste dia, negros e pobres, mulheres e homens, jovens e velhos acenderam o seu candeeiro e não deixaram a noite obscurecer o país.
Antes que o dia amanheça, lembremos da noite que vivemos.
Não podemos inaugurar o amanhã se não tratarmos as dores da noite. Vivemos tempos de ardor e descobertas e chegou a hora de reconhecê-las.
Aos que pensaram que diálogos encerram lutas e aniquilam diferenças, esta noite sepultou as ilusões: se somos plurais e diversos, somos também diferentes, somos um povo nascido das opressões, forjado nos mais duros embates e esta noite nos banhou com a mais antiga de todas as lutas.
Antes do amanhecer, identifiquemos nossos erros e purguemos nossas culpas, mas também olhemos nos olhos de nossos algozes e não nos esqueçamos de seus falsos moralismos, de suas condenações vazias desenhadas em manchetes e de seu autoritarismo que tentou nos impor o silêncio e a submissão.
Nesta longa noite, nossas dores doeram mais forte, mas também nos fortaleceram para o longo dia que chegou.
Antes que o dia amanheça, olhemos o horizonte, pois ele guarda o sol que iluminará as nossas lutas.
Aos que esperam por descanso, o novo dia não oferecerá cama macia, mas caminhos pedregosos. Aos que carregam armas, o novo dia não permitirá intolerância, mas exigirá inteligência. Aos que aspiram por consenso, a manhã nos propõe argumento e nos lembra que é tempo de sedução e dissenso.
Neste dia, com as frestas reveladas pelo sol, caberá às forças populares organizarem o seu projeto e articularem suas energias. Nossa comunicação tem de ser mais eficiente e nossas vozes mais audíveis. Na manhã que se anuncia, a esquerda deve se saber esquerda, os democratas se fazer republicanos e o povo não sair do palco.
O dia será longo, as lutas serão duras e outra noite poderá vir. Evitá-la é tarefa de milhões. Que tenhamos aprendido com a crueza da noite!
Glauber Piva é Secretário Nacional de Cultura do PT
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