06 outubro 2006

O dossiê do dossiê 2 – a missão



Flávio Aguiar é professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP) e editor-chefe da Carta Maior.



Meu amigo Saul Leblon, que continua com sua antena parabólica ligada, me enviou mais uma carta desde sua estação na Moóca. “Há indícios cada vez maiores de que o dito Núcleo de Inteligência do PT protagonizou um enredo do qual não foi autor principal”, disse ele.


"Meu caro Flávio,


O caso evolui, há indícios cada vez maiores de que o dito Núcleo de Inteligência do PT , também conhecido como Comitê Central da Burrice, protagonizou um enredo do qual não foi autor principal.


Vejamos:


Informações circulantes na imprensa, mas logo rapidamente esquecidas, ao contrário dos graficozinhos ou graficozões com flechinhas juntando e apontando os envolvidos petistas na história do dossiê, o delegado Edmilson Pereira Bruno protagonizou cenas de valor histriônico. Depois de negar que tivesse sido o autor das fotos; depois de negar que as tivesse distribuído; depois de negar que tenha dito "quero (*****) com o Lula e o PT "; o trepidante delegado admitiu que, sim, fez a panfletagem das imagens, porém, movido por lógica preventiva: como um dos CDs teria sido roubado de sua mesa, resolveu se antecipar à divulgação para evitar "manipulações". O notável nisso tudo, Flávio, é que essa pilha de declarações contraditórias está sendo aceita como coisa corriqueira: não há gritaria, não há investigações, não há currículos vindo à tona!


Numa outra ponta, a conhecida Fence Consultoria, que fez a famosa varreção no TSE que tanto alarido propiciou ao Ministro Marco Aurélio Mello, de ilibada neutralidade política, tem ampla circulação no Brasil e no Planalto Central. Ela foi investigada como tendo feito o grampo ilegal que propiciou à Polícia Federal invadir o escritório da empresa Lunus, em 2002, descobrindo e fotografando à larga uma pilha de dinheiro cuja exposição fritou a candidatura de Roseana Sarney em favor da de José Serra. Numa manobra até hoje inexplicável, as fotos foram parar em menos de 24 horas na redação da Revista Época e depois tiveram farta exibição no Jornal Nacional. Reportagem da Revista Carta Capital nas bancas nos diz que essa mesma Fence foi contratada para serviços de “contra


-espionagem” no ministério da Saúde, então ocupado por José Serra, função que exerce até hoje.



Mas o melhor, Flávio, ainda está por vir. Entre a semana que antecedeu o primeiro turno e esta depois das apurações, tivemos o caso sanfona de Freud Godoy.

Lembro aqui que tão logo foi apontado como membro da Operação Tabajara, Freud ligou para o Presidente e disse que, pelo menos no que dizia respeito a ele, Lula podia dormir tranqüilo. Mas ele foi conduzido a fotos escandalosas e a manchetes, além de piadinhas, a maioria de imaginação indigente e de um mau gosto deplorável, em toda a grande imprensa.


Na fim de semana anterior ao das eleições, o procurador da República, Mário Lúcio Avelar, que também atuou no caso Lunus/Rosena, pediu uma prisão cautelar dos petistas envolvidos. O pedido antes fora negado, mas uma juíza de plantão o concedeu. Para as manchetes, o nome principal foi o de Freud Godoy. Agora, dias depois do primeiro turno, a Polícia Federal diz que não conseguiu nada mesmo contra ele, e que não o indiciaria em nenhum inquérito, ou seja, o Presidente podia mesmo dormir tranqüilo quanto a seu comportamento. O expedito e insistente promotor, diante também do fato de que seu pedido fora novamente negado por recurso em instância superior, foi logo dizendo que se ele (o próprio pedido que ele mesmo fez!) não tivesse sido revisto, ele mesmo pediria sua anulação!!!! E a notícia da inocência do assessor da presidência foi parar nos rodapés das páginas internas.


Mas de tudo isso, Flávio, ficou-me uma pergunta que não quer calar, lembrando aquele filme sobre o JFK, em que a versão apresentada como verdadeira suscita muitas dúvidas, mas tem definitivamente o poder de esclarecer que as aparências, assumidas pela versão oficial, estão mais longe de serem verdadeiras.


Esses homens das investigações oficiais e atividades afins são treinados para serem duros, para agüentarem o que o cidadão comum não agüentaria. Lembra daquele oficial que estava no carro que explodiu no estacionamento do Rio Centro, quando morreu um sargento do exército. Está certo: as circunstâncias eram outras, a ditadura ainda vigia, a explosão devia ser atribuída à esquerda. Mas o cara até hoje não falou nada sobre o que o verdadeiramente aconteceu.


Agora, Flávio, olha o comportamento do nosso amigo Gedimar Passos, ex-PF, aparentemente contratado para “autenticar” a qualidade do material a ser comprado. Nossa, quase nem interrogado fora, já saiu cantando em alto e bom som o nome de Freud, confundindo-o ainda com o de Frodo, aquele simpático anãozinho de O Senhor dos Anéis!!! E depois se calou, nada mais dizendo, nem em acareações. Ou seja, a carapaça que foi treinado a manter só se desarmou para piar o nome do assessor que, segundo a própria PF, nada tinha ver com a manzorca.


Flávio, aí tem coisa”.

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