17 outubro 2006

PARA NÃO ESQUECERMOS, JAMAIS, OS OITO (1995/2002) ANOS DO PSDB/PFL NO PODER.


CartaCapital 87, de 25/11/1998


Grampos e Espionagem

"A imprensa está muito favorável, com editoriais"


Por Bob Fernandes


* O ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Resende e Pérsio Arida estão reunidos. Eles conversam com Jair Bilachi, presidente da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. O trio quer que a Previ se junte ao Opportunity, visando formar um consórcio para arrematar a Tele Norte Leste: "Estamos aqui eu, André, Pérsio e Pio (Borges, vice-presidente do BNDES)", diz Mendonça de Barros a Bilachi. "Mas estamos muito preocupados com a montagem que o Ricardo Sérgio está fazendo do outro lado (junto ao consórcio de Carlos Jereissati). Porque está faltando dinheiro, doutor. E a gente está sabendo que uma das alternativas (do consórcio concorrente) é fundir as empresas com a holding. Aí, o negócio não fica limpo e a minha primeira preocupação, e o presidente já me ligou, é que a gente ponha em pé este negócio. Senão, o que aparentemente for um puta sucesso pode ficar um negócio amargo."


"Ministro, nós estamos concentrando forças e a nossa proposta é bem diferente", responde Bilachi. "Mas é justo na linha dos negócios. Nós estamos cacifando aqui. Mas, essa questão do outro negócio (apoio de Ricardo Sérgio de Oliveira, do Banco do Brasil, ao grupo de Jereissati), acho que vocês deviam conversar com o Ricardo Sérgio."


"Tudo bem", diz Mendonça de Barros. "Mas o importante para nós é que vocês montem com o Pérsio, evidentemente chegando a um acordo, e tudo o que precisar nós ajudamos. Temos um probleminha agora que é a carta de fiança. E é chato chegar agora, no meio da tarde, e o Banco do Brasil dizer que não vai dar." "Vou falar com ele (Ricardo Sérgio)", diz Bilachi. "Sei que ele (Ricardo Sérgio) está falando com a Telefónica de España, um negócio meio esquisito."


* O ministro das Comunicações telefona para o diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira. E revela: o Opportunity quer participar do leilão da Tele Norte Leste, mas depende da concessão de uma fiança do Banco do Brasil:


"Está tudo acertado", diz Mendonça de Barros para Ricardo Sérgio. "Mas o Opportunity está com um problema de fiança. Não dá para o Banco do Brasil dar?"


"Acabei de dar", responde Ricardo Sérgio. "Dei para a Embratel e 874 milhões para o Telemar (Tele Norte Leste). Nós estamos no limite da nossa irresponsabilidade. São três dias de fiança para ele", continua o diretor do Banco do Brasil, quase rindo.


"É isso aí, estamos juntos", diz Mendonça de Barros.


"Na hora que der merda (Ricardo Sérgio se refere ao astronômico valor da fiança), estamos juntos desde o início."


* O presidente Fernando Henrique liga para o ministro Mendonça de Barros na sede do BNDES. FHC queria saber como estava o andamento do leilão das teles:


"Estamos aqui praticamente com o quadro fechado", diz Mendonça de Barros ao presidente.


"Você acha que, no conjunto, vai dar o quê?", pergunta FHC.


"Vai dar uns 16 bi, que é o que eu tinha dito", responde o ministro.


"O nosso preço mínimo é de 13 bi e 400, e nós chegaremos a uns 16 bi, que é muito dinheiro."


"Ajuda, né?, as reservas", comenta FHC.


"A imprensa está muito favorável, com editoriais", diz Mendonça de Barros.


"Está demais, né?", diz FHC em tom de brincadeira. "Estão exagerando, até."

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