Tom Jobim dizia que o Brasil era um país de cabeça para baixo, a começar por nossa posição no mapa geográfico: ficamos “de pé” sobre o lado menor de nossas dimensões continentais.
O governo Lula esta sendo “condenado” pela mídia e por um setor da sociedade justamente em uma das agendas em que mais avançou: no combate à corrupção e ao crime organizado.
Os dados são inquestionáveis: a polícia federal opera hoje com 11 mil policiais contra 5 mil no governo FHC; ela realizou em 3 anos e meio 183 operações contra o crime organizado, a corrupção e a lavagem de dinheiro, contra 20 em 8 anos de governo FHC; Lula efetuou 2.971 prisões em menos de 4 anos, contra apenas por 54 realizadas por FHC em 8 !!!.
O governo Lula re-fundou a Controladoria Geral da União, colocando em sua coordenação alguém de ilibada reputação, o ministro Valdir Pires. De forma isenta (por sorteio), este órgão federal vem monitorando, investigando e punindo agentes públicos e privados contemplados com verbas públicas e que delas tenham feito uso indevido.
Com toda a lupa existente sobre as ações do governo, não houve nenhuma denúncia expressiva de corrupção nas ações, contratos e licitações dos ministérios e outros órgãos governamentais, com exceção do caso dos Correios e das sanguessugas[1]. A questão dos Correios é debitável não na conta dos erros éticos, mas nos erros políticos deste governo, estes sim surpreendentemente volumosos.
Quanto ao esquema das “sanguessugas”, é escandalosa e emblemática a inversão dos fatos: o esquema foi descoberto pela Controladoria Geral da União e investigado pela polícia federal; 681 de um total de 891 ambulâncias, portanto 70 % do esquema “Planam”, tiveram suas verbas liberadas na gestão Serra/ Barjas Negri no governo FHC (ver entrevista dos Vedoin na Revista “Isto É” número 1926: “Quando Serra era Ministro foi o melhor período para nós”) . De quase uma centena de parlamentares envolvidos no esquema, o PT, entre os grandes partidos, foi o que teve o menor número de acusados (2). Pois bem, com todo este histórico, o escândalo é debitado na conta do PT (!!) em função de um ato periférico ao fato principal, ainda que ilegal, ato aliás descoberto e não acobertado pela polícia federal.
Inúmeras outras iniciativas moralizantes podem ser citadas: instituição de critérios claros, universalizantes e públicos no aceso aos recursos para a Cultura; procedimento semelhante quanto ao financiamento para o desenvolvimento; ampla investigação e punição por órgãos do governo de membros deste próprio governo que tenham cometido irregularidades; etc.
Mas à toda ação corresponde uma reação igual e contrária. Esta moralização e descriminalização da máquina pública feriram interesses, inclusive da “grande” mídia, “contrariada” em pleitos de financiamentos que não se adequaram aos critérios construídos. E aí, diabolicamente, se vira o país de cabeça para baixo, se cria uma anti-vacina, utilizando-se ao invés do vírus da doença para se gerar saúde, o vírus da saúde para se gerar a doença.
É claro que houve desvios: “moscas azuis”, tráficos de influência, Land - Rovers, caixa dois, tudo devidamente ampliado e distorcido, como também investigado. Não se quer legitimar ou relativizar práticas ilegais e antiéticas, mas sim separar opções estratégicas de desvios periféricos e principalmente denunciar uma manobra operada por oligarquias políticas, empresariais e organizações criminais, contrariadas em seus interesses, e que visa desestabilizar uma ação moralizadora em curso.
Além disto, esta agenda única pautada pela grande mídia e a direita, numa armadilha em que muitos caíram, retirou do debate eleitoral temas de real interesse da população, em relação aos quais, aí sim, deveriam estar sendo discutidas, criticadas e formuladas alternativas no âmbito do governo Lula: dívida externa; aceleração e ampliação das reformas urbana e rural; gestão democrática e controle social; etc.
A reeleição de Lula significa a continuidade das medidas de combate ao crime e à corrupção. Só a reeleição de Lula pode inverter novamente um mapa que teimam em girar: a ética e o compromisso com a justiça social são patrimônio dos setores progressistas e populares da sociedade, representados hoje na reeleição de Lula, e não das oligarquias e do crime organizado que, em proveito próprio, há 500 anos viram este país de cabeça para baixo.
Ricardo de Gouvêa Corrêa
[1] Os fatos conhecidos relativos ao assim chamado “Valerioduto”, ao contrário do que se propalou, envolveram recursos de origem privada, do Banco Rural, que com estas “doações” pretendia obter favorecimentos junto ao governo federal, especialmente quanto à liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, transação aliás barrada pelo Banco Central e Ministério da Fazenda – ver entrevista Franklin Martins/ Revista Caros Amigos 114; tais procedimentos envolveram todavia e sem dúvida desvios éticos, políticos e mesmo criminais, mas, repita-se, não envolveram desvio de recursos públicos, até onde exaustivamente se investigou).
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