Márcia Denser *
Líder absoluto nas pesquisas, com larga vantagem sobre o segundo competidor, Geraldo Alckmin - candidato sem charme, sem carisma, desconhecido para a maioria do país, unicamente respaldado numa campanha totalmente negativa, embasada na hipocrisia do poder oligárquico e detentor do poder total da mídia no Brasil -, Lula e todos nós testemunhamos um fato excepcional: irá para segundo turno, ele, que chegou a concentrar 54% dos votos, ocorrendo agora a possibilidade de até perder as eleições. Basta checar os números finais do primeiro turno: 48,61% para Lula, 41,64% para Alckmin. Quem diria, hem?
Mas o excepcional destas eleições não pára aí. De quebra, foram eleitos, estourando a boca do balão, Paulo Maluf, Fernando Collor de Mello and last but not least... Clodovil Hernandez. Que gracinha. Essa indignação missioneira contra a corrupção que assola o país em geral e o PT em particular, justificando qualquer hecatombe eleitoral, quaisquer alucinação e desmemória coletivas como as acima referidas.
Como se a corrupção não fosse teoria (neoliberal, atualmente) e prática universal da direita, dos poderosos, dos ricos desde sempre. Que, aproveitando a ocasião, ganham um par de asinhas. Posso até imaginar: Maluf, Collor, ACM, Borhausen, todos eles, uns anjos, santíssimos, constituindo uma frente única em torno de São Geraldo Alckmin (avec sua filhinha e respectiva bolsinha da Daslu de 1.500 dólares), nosso salvador na cruzada por um Brasil limpo, aleluia! aleluia!
Tanta reserva moral não te comove, caro eleitor?
Bom, mas agora, falando sério: Lula cometeu erros seríssimos que lhe podem custar bem caro. Não colocou em ação seu maior capital, não fez valer seu carisma, não falou à nação, em suma, não confiou em si próprio.
Tornou-se cauteloso demais, fiou-se em alianças erradas (aliás, o PT sempre sofreu dessa paranóia burra e excludente), não se comportou como o líder que de fato é. O PT, sempre dividido internamente, não planejou, estratégica e taticamente, sua ação político-eleitoral nestes quatro anos de poder. E planejamento foi o que não faltou aos seus adversários, mantendo a iniciativa para solapar o governo e corroer de todas as formas possíveis o prestígio do presidente junto à classe média, uma vez que atingir a população mais pobre, diretamente beneficiada por ele, é mais difícil.
Lembra em 2004 a eleição Serra X Martha, esta candidata à reeleição na prefeitura de São Paulo? Apesar de Martha ganhar de ponta a ponta na periferia, venceram Serra e o voto da burguesia paulistana, deitando por terra o projeto dos CEU’s, entre outros.
Mas voltando ao dito lá no começo: repito, estas eleições por ora têm sido excepcionais, incríveis etc. mas não originais, pois o precedente foi a eleição de Collor de Mello em 89, derrotando Lula - Collor, outro ilustre desconhecido para a maioria, outro egresso das fileiras da oligarquia, outra invenção total da mídia, figurino escovado, clean, Collor, que deu no que deu, cuja semelhança com Alckmin não pode ser mera coincidência.
Sim, a história se repete. Como farsa.
* A escritora, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura brasileira contemporânea, jornalista e publicitária.
Mas o excepcional destas eleições não pára aí. De quebra, foram eleitos, estourando a boca do balão, Paulo Maluf, Fernando Collor de Mello and last but not least... Clodovil Hernandez. Que gracinha. Essa indignação missioneira contra a corrupção que assola o país em geral e o PT em particular, justificando qualquer hecatombe eleitoral, quaisquer alucinação e desmemória coletivas como as acima referidas.
Como se a corrupção não fosse teoria (neoliberal, atualmente) e prática universal da direita, dos poderosos, dos ricos desde sempre. Que, aproveitando a ocasião, ganham um par de asinhas. Posso até imaginar: Maluf, Collor, ACM, Borhausen, todos eles, uns anjos, santíssimos, constituindo uma frente única em torno de São Geraldo Alckmin (avec sua filhinha e respectiva bolsinha da Daslu de 1.500 dólares), nosso salvador na cruzada por um Brasil limpo, aleluia! aleluia!
Tanta reserva moral não te comove, caro eleitor?
Bom, mas agora, falando sério: Lula cometeu erros seríssimos que lhe podem custar bem caro. Não colocou em ação seu maior capital, não fez valer seu carisma, não falou à nação, em suma, não confiou em si próprio.
Tornou-se cauteloso demais, fiou-se em alianças erradas (aliás, o PT sempre sofreu dessa paranóia burra e excludente), não se comportou como o líder que de fato é. O PT, sempre dividido internamente, não planejou, estratégica e taticamente, sua ação político-eleitoral nestes quatro anos de poder. E planejamento foi o que não faltou aos seus adversários, mantendo a iniciativa para solapar o governo e corroer de todas as formas possíveis o prestígio do presidente junto à classe média, uma vez que atingir a população mais pobre, diretamente beneficiada por ele, é mais difícil.
Lembra em 2004 a eleição Serra X Martha, esta candidata à reeleição na prefeitura de São Paulo? Apesar de Martha ganhar de ponta a ponta na periferia, venceram Serra e o voto da burguesia paulistana, deitando por terra o projeto dos CEU’s, entre outros.
Mas voltando ao dito lá no começo: repito, estas eleições por ora têm sido excepcionais, incríveis etc. mas não originais, pois o precedente foi a eleição de Collor de Mello em 89, derrotando Lula - Collor, outro ilustre desconhecido para a maioria, outro egresso das fileiras da oligarquia, outra invenção total da mídia, figurino escovado, clean, Collor, que deu no que deu, cuja semelhança com Alckmin não pode ser mera coincidência.
Sim, a história se repete. Como farsa.
* A escritora, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura brasileira contemporânea, jornalista e publicitária.
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