16 outubro 2006

O conversê fiado do senador Jereissati (Deu no Village Voice, de Nova Iorque! [risos, risos])


O conversê fiado do senador Jereissati, ‘embalado’ pela revista NÃO-Veja e ‘re-embalado’ na Folha de S.Paulo: mais propaganda eleitoral incontabilizável, infiscalizável e ilegal, nos jornalões paulistas. Até quando?!

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Deu no Village Voice

O Village Voice é um dos jornais mais interessantes do mundo. Primeiro, pq é a cara do Village, e o Village é um bairro que consegue ser, ao mesmo tempo, hiper-hiper descolado e hiper-hiper provinciano, como, de resto, os EUA, sempre e de cabo a rabo.

No número do Village Voice que está nas bancas, por exemplo, lê-se hoje a história de um cidadão identificado apenas como “Ray” (para preservar-lhe a vida e o sossego), que se dedica ao hobby super high-tech de fiscalizar o trânsito de aviões sobre o céu de seu quintalzinho de subúrbio, em San Francisco, California. A isso se chama planespotting, em inglês.

“Ray” é super-plugado, manobra muito bem os mais complexos programas de computador e opera associado a uma vasta rede de cidadãos plugados à Internet e que, como ele, dedicam-se a rastrear aviões. Ray e seus amigos ‘internéticos’ trabalham muito nesse negócio de planespotting, mas trabalham exclusivamente para o próprio prazer.

Todos os dias, quando volta do escritório, “Ray” leva seus laptops e binóculos para o quintalzinho nos fundos de casa e põe-se a rastrear os (muitos) aviões que passam pelo céu que ele, muito legitimamente, entende que seja o seu céu, o céu de seu país e de sua casa.

Nessa tarefa, de tanto que rastreou aviões, nomes e números de identificação dos aviões comerciais e militares (vários sem identificação alguma) que cruzam o céu de sua casa, “Ray” acabou por descobrir que por ali mesmo, pelo seu céu doméstico, passavam, todos os dias, aviões carregados de – como escreveria a Folha de S.Paulosupostos terroristas supostos árabes supostos muçulmanos. O Village Voice conta essa história em longa e interessantíssima matéria, que começa assim:

“Na primeira novela escrita por Sir Arthur Conan Doyle, Um estudo em vermelho, há uma cena em que Watson lê atentamente um artigo de jornal. Quando acaba de ler, Watson conclui que “a argumentação é cerrada e forte, mas a conclusão é falsa e exagerada. A partir de uma gota d’água” – diz Watson –, “qualquer um que entenda de Lógica pode inferir um oceano Atlântico ou uma catarata Niagara, sem jamais ter conhecido nenhum oceano e nenhuma catarata.”

Mas Holmes, imediatamente discorda. Para ele, as conclusões são válidas, embora falsas. Holmes sabe que, de um mosaico de fatos disparatados, sempre se podem obter conclusões logicamente válidas. As conclusões daquele jornal são falsas, mas são logicamente válidas. Assim se constróem as mentiras ‘que pegam’ – diz Holmes.”[1]

A partir dessa abertura, o Village ensina que, em tempos de Internet, os cidadãos já aprenderam que podem investigar e descobrir fatos e fontes e, contruir notícias, fazer jornalismo e distribuí-lo, eles mesmos, para outros cidadãos.

Assim, os cidadãos estão já construindo melhor democracia - uma democracia de cidadãos mais bem informados - para eles mesmos, com idéias que são válidas e verdadeiras, em vez de serem apenas válidas e falsas. E, isso, mesmo quando aconteça de ‘organismos’ tão poderosos quanto a CIA e toda a administração Bush desejarem, precisamente, que nada de verdadeiro se noticie por nenhum jornal, pra nenhum cidadão, nunca.

Típico jornalismo acanalhado, na Folha de S.Paulo

Toda essa história me veio à cabeça, agora, ao ler, hoje, na Folha de S.Paulo, o seguinte e espantoso parágrafo:

“Embalados por uma reportagem da revista "Veja" que afirma haver direcionamento pró-candidatura Luiz Inácio Lula da Silva nas investigações, os dirigentes oposicionistas devem pedir fiscalização do trabalho da PF pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e pelo Congresso, além de discutir possíveis medidas judiciais.” [2]

Aí está um típico parágrafo de jornalismo acanalhado – de jornalismo de manipulação, de jornalismo fascista e golpista –, que, contudo, ‘pega’ na cabeça dos leitores-cidadãos-eleitores e consumidores de jornal... porque é um parágrafo logicamente válido. Ao mesmo tempo, contudo, também é típico parágrafo de jornalismo acanalhado, que noticia conclusão (e notícia) falsa. “Assim” – ensina Sherlock Holmes – “constróem-se as mentiras ‘que pegam’”.

Aí está um típico parágrafo de jornalismo acanalhado – de jornalismo de manipulação, de jornalismo fascista e golpista, primeiro, porque a reportagem da revista (NÃO)Veja, que, na versão da Folha de S.Paulo estaria ‘embalando’ a oposição golpista no Brasil, não “afirma” nada: a revista (NÃO)Veja inventa, completamente, que o governo do presidente Lula estaria fazendo algum “direcionamento” nas investigações da Polícia Federal. A revista (NÃO)Veja “inventa” (não “afirma”), é claro, pq escreve que escreve que escreve... e nada prova.

E aí está um típico parágrafo de jornalismo acanalhado – de jornalismo de manipulação, de jornalismo fascista e golpista, também, porque todos os leitores da Folha de S.Paulo (sejam da oposição sejam da situação) sabemos, há décadas, que o senador Jereissati nunca foi homem de deixar-se “embalar” por coisa alguma que não seja, todos os dias, algum interesse eleitoreiro imediato e imediatista, muitas vezes partidário e, muitas vezes também, só do senador Jereissati.

Como qualquer Goebbels-propagandista, o senador Jereissati é capaz de inventar e afirmar, esse sim, por sua conta e risco, qualquer loucura, qualquer mentira, qualquer calúnia.

É claro que o senador Jereissati já teria aprendido a segurar a língua e a não fazer-se de doido ‘cenográfico’, se, por exemplo, ele temesse algum risco de ele ser democraticamente denunciado como doido varrido... por algum jornalismo menos acanalhado que o jornalismo acanalhado da Folha de S.Paulo. Nada disso! O senador Jereissati sabe que conta, a seu favor, com o jornalismo acanalhado da Folha de S.Paulo.

Por isso é que o senador Jereissati põe-se a zurrar frases de propaganda eleitoral incontabilizável, infiscalizável e ilegal... com a segurança com que o Barão de Araruna defende o seu ‘direito’ de torturar escravos na novela das 7: certo de que, por mais que morra assado na senzala, a sensala e o fogo serão apenas cenográficos. Então, o senador propagandista tucano pirado, como o Barão escravista, deita falação.

Em seguida, depois daquele inacreditável parágrafo, a Folha de S.Paulo, então, reproduz (repercute, requenta, repete, divulga e PROPAGANDEIA) verbatim a fala cenográfica do senador Jereissati.

Nessa reprodução-requentamento-repercussão-repetição e PROPAGANDA ELEITORAL INCONTABILIZÁVEL, INFISCALIZÁVEL, ILEGAL E AMORAL, a Folha de S.Paulo acrescenta, à calúnia criminosa praticada pelo senador alckminista pirado, também o crime de reproduzir, como se fosse jornalismo, o que não passa de propaganda eleitoral incontabilizável, infiscalizável, ilegal e amoral, operada pelos operadores da propaganda dos tucanos-pefelistas, em jornais pelos quais os leitores-eleitores e consumidores brasileiros pagamos para ler.

Suposto jornalismo...

No esforço acanalhado para não se comprometer demais com a repetição criminosa das calúnias criminosas inventadas pelo senador alckminista pirado, a Folha de S.Paulo chega ao inacreditável ridículo de incluir, ao reproduzir a fala pirada do senador pirado, um ‘colchete’ explicativo... no qual, é claro, não falta o adjetivo “suposto”.[3]

O adjetivo “suposto” é, aí, como uma pegada deixada na cena do crime. Nesse adjetivo “suposto”, o jornalismo que nada investiga e tudo ‘supõe’, mostra, afinal, a própria cara.

Nenhum leitor-consumidor de jornais e jornalismo precisa de jornalismo, jornais e jornalistas que ‘suponham’.

‘Supor”, o leitor consumidor de jornais pode supor por sua própria conta e gratuitamente, sem ser induzido a pagar por suposições... quando creia que esteja comprando e pagando por informação e jornalismo.

A verdade que se esconde no rodapé: Godoy é inocente[4]

A matéria da Folha de S.Paulo ainda repete outra vez, no corpo da matéria, a mesma calúnia que se lê no lead. Dessa vez, o verbo de manipulação é “sustenta”. Em vez de “a revista NÃO-Veja inventa” – que seria a informação jornalística verdadeira, para as invenções da revista NÃO-Veja – ao final da matéria o verbo é “sustenta.”[5]
Mas nem aí, afinal, afirma-se algum bom jornalismo de democratização: tudo, ainda, são 'suposições'...
Em vez de ensinar os cidadãos brasileiros a CONFIAR nas suas instituições democráticas, a Folha de S.Paulo implanta dúvidas, na cabeça do eleitor, também contra a lisura das investigações e contra a conclusão que declarou que Freud Gody é inocente. O verbo na voz passiva ("foi inocentado"), nesse contexto, de fato, fede a manipulação da opinião do leitor-eleitor. Horrível, portanto, da primeira à última linha, a matéria (não assinada, e anônima, não por acaso!) da Folha de S.Paulo, hoje.

Quem precisa desse sub-jornalismo e dessa PROPAGANDA ELEITORRAL INCONTABILIZÁVEL, INFISCALIZÁVEL, ILEGAL E AMORAL, na Folha de S.Paulo?!

Até quando os leitores de jornais, no Brasil, serão deixados, sem qualquer defesa possível, entregues aos interesses eleitoreiros dos candidatos tucano-pefelistas?! Até quando?!

NOTAS

[1] Village Voice, Nova York, 15/10/2006, “Planespotting Nerds with binoculars bust the CIA's torture taxis”, matéria assinada por Trevor Paglen & A. C. Thompson, na edição impressa e na internet, aqui.


[2] Folha de S.Paulo, Brasil, 16/10/2006, “Oposição quer que a OAB e o Congresso fiscalizem ação da PF”, da sucursal de Brasília (matéria não assinada), na edição impressa, p. 10, e na internet aqui.

[3] O que se lê na Folha de S.Paulo, em registro de propaganda eleitoral incontabilizável, infiscalizável, ilegal e amoral dos discursos dos candidatos do PSDB-PFL é: "A nossa idéia é fazer uma intervenção nessa investigação, porque evidentemente o Ministério da Justiça ficou contumaz nesse tipo de ação [suposta atuação pró-governo]. O Márcio Thomaz Bastos [ministro da Justiça, pasta à qual a PF é vinculada] tem feito isso sempre, virou o criminalista do Lula", disse o presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), que convocou a reunião.” (Folha de S.Paulo, Brasil, 16/10/2006, “Oposição quer que a OAB e o Congresso fiscalizem ação da PF”, da sucursal de Brasília (matéria não assinada), na edição impressa, p. 10, e na internet aqui.

[4] Folha de S.Paulo, Brasil, 16/10/2006, “Oposição quer que a OAB e o Congresso fiscalizem ação da PF”, da sucursal de Brasília (matéria não assinada), na edição impressa, p. 10, e na internet aqui.


[5] O que se lê na Folha de S.Paulo, em registro de propaganda eleitoral incontabilizável, infiscalizável, ilegal e amoral dos discursos dos candidatos do PSDB-PFL é: “A reportagem da revista "Veja" sustenta que o governo está, por meio do Ministério da Justiça, atuando para evitar a incriminação de Freud Godoy, ex-assessor particular de Lula.” (Folha de S.Paulo, 16/10/2006, citado)

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