18 outubro 2006

A ADMINISTRAÇÃO PETROBRAX



Henri Philippe Reichstul promoveu uma série de ações na Petrobrás que, em muito, se assemelham àquelas aplicadas pela administração da ENRON, a saber:

1. - contratou a empresa Arthur D. Little, sem concorrência para fazer o planejamento estratégico da empresa, ou seja, para planejar o que já estava programado para ser feito;

2. - dividiu a empresa em 40 Unidades de Negócio (modelo que em 1992 levou a IBM ao maior prejuízo da sua história, US$ 4 bilhões), visando transformar essas unidades em subsidiárias para privatizá-las, de acordo com o artigo 64 da Lei 9478/97, a nova lei FHC do petróleo;

3. - iniciou a privatização pela UN Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP), através de um aporte de ativos conjuntamente com a empresa REPSOL/YPF da Argentina, para constituir uma nova subsidiária chamada de Refinaria Alberto Pasqualini S.A. Essa nova subsidiária tem um capital previsto de US$ 2.4 bilhões. Inicialmente, cada empresa associada (Repsol/YPF e Petrobrás) aportou o valor teórico de US$ 500 milhões. Na verdade, os ativos que a Petrobrás aportou foram calculados em cerca de US$ 3 bilhões, enquanto o da Repsol, constituído de uma refinaria de 72 anos, e alguns postos de serviço não chegam a U$ 400 milhões. Os aportes subseqüentes para atingir o capital previsto deveriam ser diferenciados de forma que a Repsol/YPF assumisse o controle acionário da nova subsidiária. Na realidade é a privatização da Refinaria Alberto Pasqualini (esta estratégia foi recomendada pelo CSF Boston no governo Fernando Collor de Melo: privatizar as subsidiárias existentes e dividir a "holding" em novas subsidiárias para privatizar). Essa negociata foi concretizada pelo Dr. Reichstul na condição de demissionário, na véspera do estouro da Argentina e apesar de uma ação judicial movida pelo Sindipetro-RS/AEPET nacional;

4. - Instituiu o bônus salarial - salário extra concedido sob orientação do chefe imediato com critérios altamente subjetivos e secretos. Quem ganha não pode divulgar. Para os gerentões são 4 salários por ano. Para os empregados comuns, de 1 a 4 salários concedidos para 1 em cada 4 empregados. Esse bônus, juntamente com a fragmentação em Unidades de Negócio, criou uma concorrência predatória e produziu uma devastação no clima organizacional da empresa;

5. - Contratou diversos trabalhos sem concorrência, além de nomear 11 assessores pára-quedistas, sem concurso, para trabalhar na empresa;

6. - cancelou os contratos da empresa Marítima de forma estranha porque evitou que a Marítima incorresse em pesadas multas por inadimplência, se o cancelamento ocorresse três meses depois e ainda deu à Marítima o direito de processar a Petrobrás com grandes chances de ganhar uma bela indenização;

7. - Alegou na CPI da ALERJ que cancelou os 6 contratos da Marítima por "excessiva concentração de contratos". Mas a empresa Petroserv, que tinha 7 contratos, não foi incomodada. A empresa Falcon passou a ter 6 contratos intermediados pela Interoil e mais três sem essa intermediação, conforme declarado pelo engenheiro Sergio Laje, sócio da Interoil, ao depor na referida CPI da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro;

8. - demitiu dois gerentes de alto nível da Petrobras dando munição para as seguradoras americanas que não querem pagar o seguro de "Performance Bond", das plataformas P-19 e P-31, construídas pelo grupo Tanuri, alegando que houve corrupção na contratação. Os dois gerentes eram responsáveis por esses contratos. Foram readmitidos por decisão judicial;

A Petrobras se
envolveu em 63
acidentes em 2 anos.

9. - autorizou a compra pela Odebrecht/Mariani da COPENE de forma tão irregular que os dois representantes do Banco Central, designados para votar a favor, não tiveram coragem de fazê-lo, abstendo-se e declarando que se abstinham por absoluta falta de condições de votar. A COPENE, empresa sadia e lucrativa pertencia à Petrobrás, à Previ e à Petros, o fundo de pensão dos funcionários de Petrobrás. Agora sob controle da Odebrecht/Mariani poderá ser obrigada a adquirir as empresas falidas do grupo, entre elas a Pronor e a Triken que produzirão na Copene um rombo de mais de US$ 7 bilhões, destruindo-a;

10. - recentemente, o presidente Reischstul propôs à FEBRAE, Federação Brasileira de Engenheiros, a criação de uma comissão de petróleo dentro da federação. A Petrobrás indicaria o coordenador, mantendo o controle da comissão. Em troca daria US$ 40 mil por ano para a FEBRAE. Até aí nada demais. Imaginamos que a comissão iria defender as teses da atual direção da empresa. Como faz o IBP, que recebe ajuda das 6 irmãs e defende os interesses delas, como quebra do monopólio, privatização da empresa, etc. O grave da história é que o coordenador indicado pela Petrobrás foi nada mais nada menos que um funcionário da Odebrecht! Vale lembrar que o ex-presidentre Rennó teve uma estranha relação com a Odebrech, contratando uma plataforma para Marimbá e pagando duas, fazendo um contrato para Paulínia que escandalizou os órgãos de comunicação;

11. - Visando preparar a empresa para a privatização, Reischstul promoveu uma terceirização profunda na empresa, cortou verbas de treinamento em seguimento às mutretas do ex-presidente Rennó;

12. - Promoveu nos EUA a venda das ações ordinárias em poder do governo, o que fragiliza o controle acionário e facilita a privatização;

13. - transformou a empresa em um órgão financeiro fazendo operações muito mais voltadas para estabelecimentos bancários do que para uma indústria de petróleo e derivados;

14. - orientou a Petros para criar um plano alternativo ao plano de Benefício Definido (BD) atual, criando o plano Petrobrás Vida, de modalidade Contribuição Definida (CD), que, copiado dos EUA, em condições piores, espalhou o terror entre aposentados e pensionistas, cujo direito adquirido foi arrasado através de intimidações, pressões, ameaças, desinformação e terrorismo. Tudo isto visando retirar o fundo de pensão das obrigações da Petrobrás. Quando foram alterados os estatutos para permitir que um presidente francês assumisse a direção da empresa, também se extinguiu o artigo 75 que vinculava a Petros à Petrobrás para facilitar a privatização. Provavelmente os infelizes que migrassem seriam obrigados a adquirir ações de certas empresas. Possivelmente da Odebrecht e Mariani;

15. - Não se pode esquecer que na gestão de Henri Phillipe Reichstul, a Petrobrás se envolveu em 63 acidentes em cerca de dois anos. Nos 23 anos anteriores, a empresa causou apenas 17 acidentes, ou seja, menos de um por ano.


Fernando Leite Siqueira é engenheiro

Esta é uma carta que o bravo presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet) enviou a "O GLOBO" a respeito de considerações sobre a grande empresa. O jornal naturalmente não publicou, esperou 10 dias, entregou à TRIBUNA, não poderia deixar de estar aqui.

Nenhum comentário: