Angélica Ferrasoli
Reproduzido da Revista Forum
Então vamos para o segundo turno. E vamos não por indecisão, ou por dúvida. Vamos tão somente por hipocrisia, por essa refinada segunda pele colada à epiderme da classe média brasileira. Não vamos para o segundo turno porque essa mesma classe sofreu prejuízos no governo Lula. Pelo contrário. Não há comerciante, profissional liberal, pequeno ou médio empresário descontente. A produção cresceu, os empregos retomaram fluxo, vendas idem. Se ainda paga por escola e plano de saúde, é porque a classe média sempre teve dinheiro para gastar e pouca coragem para reivindicar; nada mudou. Lula não piorou a vida dessa gente, mas foi essa gente que lhe virou as costas no último domingo, insuflada por peixes grandes que - ironia - não perderam um centavo durante o governo popular de Luiz Inácio Lula da Silva.
A diferença é que os mais ricos - banqueiros, grandes empresários, fazendeiros, latifundiários -, esses sempre souberam seu lado. Aceitaram o governo do metalúrgico na esperança de que se arrebentasse, o que absolutamente não ocorreu. Nas urnas, mesmo sem perder (exceção feita, talvez, aos que cultivavam o antigo "hábito" de manter escravos e crianças trabalhando em suas fazendas...), esses votaram com sua classe, com sua casta privilegiada. Do outro lado desse imenso iceberg, uma população sem casa nem estudo, sem comida ou trabalho, sem recurso sequer para conhecer seu direito começou a ver o País com outros olhos e - ainda mais importante - a acreditar que era possível sonhar para seus filhos um futuro melhor. Não vai demorar um ano e o Brasil terá a primeira geração de formandos beneficiados pelas cotas e pelo programa que concede bolsas a jovens com baixa renda nas universidades. Dez, e outros tantos poderão recordar como finalmente puderam por os pés na escola graças a iniciativas simples, como a que obriga a freqüência às aulas para o recebimento de ajuda financeira (PETI, Bolsa Família, entre outros).
Essas pessoas, talvez, também pouca consciência tenham do que seja a disputa de classe. Mas votaram em Lula com vontade, com convicção e clareza, porque foi para elas, principalmente, o seu governo, como de fato tinha de ser - e tem de continuar. No meio desses dois extremos, essa classe média acéfala que há quatro anos se dizia "encantada" com o torneiro mecânico presidente; "emocionada" com o comício da vitória na Paulista, mostra sua desilusão de clown no final do espetáculo: Tanta corrupção, meu Deus! Tanto desencanto! Até o PT faz essas coisas! É como se o Brasil acabasse de ser descoberto e a corrupção inventada. Então se sintonizam as TVs, compram-se as revistas, os jornais, e, olha lá, mais denúncias, dinheiro em pilha, que coisa, hein?! O discurso da moralidade brota da boca do jornalista ex-assessor de Fernando Collor, da publicação (ou publicações) que só encheram os cofres com montanhas de dinheiro por apoiar a ditadura militar. E até aquele seu vizinho, sabe aquele, que sonega impostos e desconta comida da empregada, então, até aquele cara virou um paladino da moral e dos bons costumes.
No último debate na TV, o candidato que se dizia "da educação" afirmou que corrupção também era Lula não ter comparecido. É mentira. Muito mais corrupto é aquele que se faz de besta, tendo conhecimento da situação, apenas para tirar proveito para si ou sua classe, e isso importantes setores da imprensa fazem todos os dias nesse País. Mas nada disso - nem a mentira travestida em "informação" e nem a roubalheira - seria sustentável não fosse a ignorância política e a pseudo-moralidade da classe média, tão antiga quanto a corrupção na política brasileira. Essa mesma classe que, não vendo "vantagens" num governo que tratou basicamente de atacar a miséria brasileira, não consegue enxergar uma década à frente e perceber como seria importante (ou vital) uma sociedade mais igualitária para a sobrevivência de seus próprios descendentes. E que prefere, em nome dessa discutível moral, apoiar justamente aquele que comandou o Estado mais fragilizado quando o assunto é Segurança Pública, com um descarado e cruel abandono das Febens e concessões ao PCC.
Como nada nunca foi fácil para os que lutam neste País, principalmente os mais humildes, que venha logo, então, esse segundo turno das eleições. E venha, de preferência, inspirado na apuração baiana que, contrariando prognósticos e pesquisas, deixou para trás décadas e décadas de carlismo. Porque se a greve é a festa dos pobres, como lindamente escreveu um jovem Jorge Amado em Capitães da Areia, votar deve ser, também, a mais bela forma de registrar na História o resgate de sua cidadania.
A diferença é que os mais ricos - banqueiros, grandes empresários, fazendeiros, latifundiários -, esses sempre souberam seu lado. Aceitaram o governo do metalúrgico na esperança de que se arrebentasse, o que absolutamente não ocorreu. Nas urnas, mesmo sem perder (exceção feita, talvez, aos que cultivavam o antigo "hábito" de manter escravos e crianças trabalhando em suas fazendas...), esses votaram com sua classe, com sua casta privilegiada. Do outro lado desse imenso iceberg, uma população sem casa nem estudo, sem comida ou trabalho, sem recurso sequer para conhecer seu direito começou a ver o País com outros olhos e - ainda mais importante - a acreditar que era possível sonhar para seus filhos um futuro melhor. Não vai demorar um ano e o Brasil terá a primeira geração de formandos beneficiados pelas cotas e pelo programa que concede bolsas a jovens com baixa renda nas universidades. Dez, e outros tantos poderão recordar como finalmente puderam por os pés na escola graças a iniciativas simples, como a que obriga a freqüência às aulas para o recebimento de ajuda financeira (PETI, Bolsa Família, entre outros).
Essas pessoas, talvez, também pouca consciência tenham do que seja a disputa de classe. Mas votaram em Lula com vontade, com convicção e clareza, porque foi para elas, principalmente, o seu governo, como de fato tinha de ser - e tem de continuar. No meio desses dois extremos, essa classe média acéfala que há quatro anos se dizia "encantada" com o torneiro mecânico presidente; "emocionada" com o comício da vitória na Paulista, mostra sua desilusão de clown no final do espetáculo: Tanta corrupção, meu Deus! Tanto desencanto! Até o PT faz essas coisas! É como se o Brasil acabasse de ser descoberto e a corrupção inventada. Então se sintonizam as TVs, compram-se as revistas, os jornais, e, olha lá, mais denúncias, dinheiro em pilha, que coisa, hein?! O discurso da moralidade brota da boca do jornalista ex-assessor de Fernando Collor, da publicação (ou publicações) que só encheram os cofres com montanhas de dinheiro por apoiar a ditadura militar. E até aquele seu vizinho, sabe aquele, que sonega impostos e desconta comida da empregada, então, até aquele cara virou um paladino da moral e dos bons costumes.
No último debate na TV, o candidato que se dizia "da educação" afirmou que corrupção também era Lula não ter comparecido. É mentira. Muito mais corrupto é aquele que se faz de besta, tendo conhecimento da situação, apenas para tirar proveito para si ou sua classe, e isso importantes setores da imprensa fazem todos os dias nesse País. Mas nada disso - nem a mentira travestida em "informação" e nem a roubalheira - seria sustentável não fosse a ignorância política e a pseudo-moralidade da classe média, tão antiga quanto a corrupção na política brasileira. Essa mesma classe que, não vendo "vantagens" num governo que tratou basicamente de atacar a miséria brasileira, não consegue enxergar uma década à frente e perceber como seria importante (ou vital) uma sociedade mais igualitária para a sobrevivência de seus próprios descendentes. E que prefere, em nome dessa discutível moral, apoiar justamente aquele que comandou o Estado mais fragilizado quando o assunto é Segurança Pública, com um descarado e cruel abandono das Febens e concessões ao PCC.
Como nada nunca foi fácil para os que lutam neste País, principalmente os mais humildes, que venha logo, então, esse segundo turno das eleições. E venha, de preferência, inspirado na apuração baiana que, contrariando prognósticos e pesquisas, deixou para trás décadas e décadas de carlismo. Porque se a greve é a festa dos pobres, como lindamente escreveu um jovem Jorge Amado em Capitães da Areia, votar deve ser, também, a mais bela forma de registrar na História o resgate de sua cidadania.
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