29 setembro 2006

ANÁLISE DA NOTÍCIA


Construindo a linguagem do impeachment


Está no Estadão a nova contribuição jornalística ao discurso do impeachment: reportagem sobre o dossiê diz que PF investiga 2 emissários do Diretório Nacional do PT, sem atribuição de fonte, muito menos aspas.

Bernardo Kucinski - Carta Maior

SÃO PAULO - Está no Estadão desta quinta-feira (28) a nova contribuição jornalística ao discurso do impeachment : “Para a Polícia Federal, pelos menos dois emissários designados pelo Diretório Nacional do PT ficaram encarregados de resgatar dólares e reais nesses locais...” É uma acusação grave, jogada sem atribuição de fonte, muito menos aspas. Também não se encaixa nos dois únicos fatos novos da reportagem a identificação do banco Sofisa, como fornecedor dos dólares - aliás de forma legal, admitem os jornais com certa relutância - e a identificação de Hamilton Lacerda, coordenador de comunicação (demitido) da campanha de Mercadante, como o petista que levou os R$ 1,75 milhão a Gedimar Passos e a Valdebran Padilha. O episódio vai assumindo contornos muito mais “paulistas” dos que nacionais, daí a incongruência da frase do Estadão falando em “emissários do Diretório Nacional.”

Ao responsabilizar o Diretório Nacional pela operação, esse discurso abre caminho para (1) o pedido de cancelamento do registro do partido, proibido por lei de receber recursos do fora, e (2) pedido de impedimento da diplomação de Lula, por usar recursos não declarados em sua campanha. Essas hipóteses estão delineadas pelo mesmo Estadão na página ao lado. E duas páginas adiante está a declaração do presidente da OAB, Roberto Busato, acenando com a retomada da tese do impedimento no ano que vem. O Diretório Nacional do PT erra ao não reagir com energia a esse tipo de linguagem e, principalmente, ao não se antecipar instaurando por iniciativa própria um inquérito, com o objetivo de esclarecer rapidamente e em definitivo em que instância se deu a articulação da compra do dossiê e extirpar esse corpo do partido.

Títulos invertidos
Os desta quinta-feira, além de inverterem o sentido dos fatos, também foram combinados entre editores de nada menos que três jornais de referência nacional: Folha, Globo e Estadão deram com pequenas variações que: “Folha e CBN recorrem contra direito de resposta de petista.” O fato básico não é o recurso do jornais, ato rotineiro e que pode não dar em nada. O que já aconteceu quarta, e deveria ser a notícia desta quinta, é a condenação da Folha e da CBN pelo TSE, por usarem linguagem insultuosa contra Lula. O título correto seria: “TSE condena veículos por insultarem Lula”.

O pedido de prisão dos seis petistas
Está claro nesta quinta que o pedido só foi feito pelo procurador Mário Lúcio Avelar, depois de já ter sido rejeitado uma vez pela Justiça Federal, para os jornais poderem dar a manchete hostil à candidatura Lula. Ele sabia que a prisão não poderia ser feita devido à Lei Eleitoral. O procurador só fez aumentar sua fala de agir parcialmente, diz Tereza Cruvinel.

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