Mauro Santayana
Com todos os erros políticos e administrativos dos últimos 21 anos, podemos concluir, repetindo o lugar-comum de Churchill, que a democracia é o pior dos regimes políticos, com a exceção de todos os outros - todos péssimos. A maior dificuldade da democracia é substituir a força pelo diálogo e o dogmatismo pela tolerância, na compreensão de que a legitimidade de um governo se funda na lisura do processo eleitoral, sem manipulações que impeçam a liberdade do voto.
Nestas duas décadas e meses tivemos avanços e recuos. Avançamos, a duras penas, na consciência de que não há espaço para homens providenciais. E, também a duras penas, estamos aprendendo que é preciso encontrar instrumentos que impeçam o peculato, a corrupção e a extorsão. Não basta o discurso moralista. Ele chega a cansar os cidadãos, e a provocar, pela banalização, o conformismo e o desdém pelos sermões dos que se proclamam honestos.
Plutarco conta que Aristides, o articulador da Liga de Delos e tido como o mais justo dos atenienses, recebeu pedido de ajuda de um homem do campo, que participava da assembléia em que se votaria o ostracismo do estadista. Sendo analfabeto, o camponês pediu ao político escrevesse, na peça de cerâmica do voto, exatamente o nome dele, Aristides, que quis saber as suas razões. "Estou cansado de ouvir que Aristides é um homem justo". Para confirmar sua grandeza, escreveu o próprio nome e não se identificou. Aquele voto se somou aos outros que o baniram da vida pública por algum tempo.
O fim desta campanha eleitoral se marcou por certo maniqueísmo. Quem lesse os principais comentaristas políticos e ouvisse os candidatos da oposição - sem olhar para o passado recente - diria que toda a corrupção política brasileira se iniciou nos quatro últimos anos e que os oposicionistas são homens absolutamente justos, como se fossem Aristides. Ou se identificam com Péricles, também grande homem de Estado, que era visto por Tucídides como diaphanôs adorótatos, ou seja, transparentemente incorruptível em questão de dinheiro.
Nestas últimas horas esperava-se que emergisse, de onde se esconde, o empresário Abel Pereira, para se defender das suspeitas - levantadas pelos Vedoin - de que tenha participado do esquema das ambulâncias, em nome do governo do PSDB. Há que se separar uma coisa da outra. As investigações sobre o envolvimento de petistas no estranho caso do dossiê terão que prosseguir e, comprovado algum delito, os culpados devem ser processados e julgados. Mas é também necessário saber quando, como e por que se iniciaram as falcatruas, e em quanto lesaram o Erário. Da mesma forma, os responsáveis devem responder diante da justiça. Embora pareça desejável ao promotor do caso que não se vá ao passado, o crime - se crime houve - ainda não foi prescrito.
Entre os avanços recentes estamos assistindo à libertação dos eleitores mais pobres, que estão descobrindo, com a política social do Estado, que podem deixar de ser encabrestados pelos pequenos chefetes, e se tornar cidadãos de pleno direito. Essa ampliação da cidadania, pela sua consciência da realidade, se traduzirá na melhoria dos governantes futuros.
É bom que sempre haja governantes melhores, e que sejam escolhidos livremente pelo povo. Qualquer governo eleito é melhor do que o mais eficiente dos despotismos - o que dá grandeza ao truísmo de Sir Winston Churchill sobre a democracia.
O importante é que as eleições se realizem sem fraudes nem intimidações, e que, na próxima segunda-feira, o Brasil retome, com o alívio da decisão, a vida normal.
Nestas duas décadas e meses tivemos avanços e recuos. Avançamos, a duras penas, na consciência de que não há espaço para homens providenciais. E, também a duras penas, estamos aprendendo que é preciso encontrar instrumentos que impeçam o peculato, a corrupção e a extorsão. Não basta o discurso moralista. Ele chega a cansar os cidadãos, e a provocar, pela banalização, o conformismo e o desdém pelos sermões dos que se proclamam honestos.
Plutarco conta que Aristides, o articulador da Liga de Delos e tido como o mais justo dos atenienses, recebeu pedido de ajuda de um homem do campo, que participava da assembléia em que se votaria o ostracismo do estadista. Sendo analfabeto, o camponês pediu ao político escrevesse, na peça de cerâmica do voto, exatamente o nome dele, Aristides, que quis saber as suas razões. "Estou cansado de ouvir que Aristides é um homem justo". Para confirmar sua grandeza, escreveu o próprio nome e não se identificou. Aquele voto se somou aos outros que o baniram da vida pública por algum tempo.
O fim desta campanha eleitoral se marcou por certo maniqueísmo. Quem lesse os principais comentaristas políticos e ouvisse os candidatos da oposição - sem olhar para o passado recente - diria que toda a corrupção política brasileira se iniciou nos quatro últimos anos e que os oposicionistas são homens absolutamente justos, como se fossem Aristides. Ou se identificam com Péricles, também grande homem de Estado, que era visto por Tucídides como diaphanôs adorótatos, ou seja, transparentemente incorruptível em questão de dinheiro.
Nestas últimas horas esperava-se que emergisse, de onde se esconde, o empresário Abel Pereira, para se defender das suspeitas - levantadas pelos Vedoin - de que tenha participado do esquema das ambulâncias, em nome do governo do PSDB. Há que se separar uma coisa da outra. As investigações sobre o envolvimento de petistas no estranho caso do dossiê terão que prosseguir e, comprovado algum delito, os culpados devem ser processados e julgados. Mas é também necessário saber quando, como e por que se iniciaram as falcatruas, e em quanto lesaram o Erário. Da mesma forma, os responsáveis devem responder diante da justiça. Embora pareça desejável ao promotor do caso que não se vá ao passado, o crime - se crime houve - ainda não foi prescrito.
Entre os avanços recentes estamos assistindo à libertação dos eleitores mais pobres, que estão descobrindo, com a política social do Estado, que podem deixar de ser encabrestados pelos pequenos chefetes, e se tornar cidadãos de pleno direito. Essa ampliação da cidadania, pela sua consciência da realidade, se traduzirá na melhoria dos governantes futuros.
É bom que sempre haja governantes melhores, e que sejam escolhidos livremente pelo povo. Qualquer governo eleito é melhor do que o mais eficiente dos despotismos - o que dá grandeza ao truísmo de Sir Winston Churchill sobre a democracia.
O importante é que as eleições se realizem sem fraudes nem intimidações, e que, na próxima segunda-feira, o Brasil retome, com o alívio da decisão, a vida normal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário