22 setembro 2006

Dois pesos e duas medidas


Por Milton Pomar

O homem de confiança do homem de confiança do governador de Santa Catarina, candidato à reeleição pelo PFL/PSDB/PMDB, foi preso pela PF na Operação Dilúvio, em agosto, com R$ 1,5 milhão em casa. O flagrante levou o homem de confiança do governador a pedir demissão do cargo de secretário estadual da Fazenda. No dia seguinte, o assunto sumiu do noticiário, sem perguntas sobre a origem do dinheiro, ligações com caixa de campanha etc. E os partidos adversários não cogitaram em pedir a cassação da candidatura de Luís Henrique da Silveira.

Menos de um mês depois, são apreendidos R$ 1,7 milhão em outra operação da PF, dessa vez tendo como possível alvo o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, por seu suposto envolvimento com a quadrilha que atuava desde o governo FHC com a venda de ambulâncias superfaturadas. Essa ação da PF teria impedido que se consumasse um crime, a partir da negociação de um "dossiê" com imagens de atos públicos, nos quais o candidato José Serra, então ministro da Saúde, participava da entrega das referidas ambulâncias em companhia de deputados hoje acusados de participação no esquema das emendas para prefeituras.

(O mesmo José Serra que coincidentemente teria se beneficiado eleitoralmente, em episódio semelhante, no início da campanha de 2002, quando a candidata Roseana Sarney era uma possibilidade eleitoral para o PFL e foi abatida em pleno vôo com a apreensão de R$ 1,3 milhão no escritório da empresa Lunus.)

Como há a acusação da participação de alguns petistas nesse episódio, o bater de asas das gralhas e outras aves se tornou ensurdecedor nas TVs e em outros veículos de comunicação, que emprestam ao fato uma dimensão muito maior do que ele tem. Essa excitação de aves de mau-agouro e donos de empresas de comunicação, no limite da irresponsabilidade democrática, não corresponde, nem de longe, à divulgação que se deu na época à descoberta da "sobra de caixa dois" de R$ 10 milhões da campanha à reeleição de FHC, e depois de Cassio Taniguchi (PFL), à prefeitura de Curitiba. Da mesma forma, rapidamente sumiu do noticiário o "desvio" de R$ 200 milhões pelo ex-prefeito do PFL de Londrina apurado pelo Ministério Público.

Existem muitos outros fatos do gênero, com valores muito maiores, que não receberam o mesmo espaço da mídia e equivalente repercussão política, a exemplo dos US$ 5 bilhões que teriam sido enviados ilegalmente para o Exterior através do Banestado, no maior caso de lavagem de dinheiro da nossa história recente, e que ainda aguarda a divulgação dos beneficiários do esquema.

Dois pesos e duas medidas, por parte da imprensa e dos partidos políticos, não ajudam a democracia a se firmar no País. Quando a imprensa deixa de lado o jornalismo e parte para propaganda, ela ajuda a aumentar o descrédito sobre as instituições. Quando uma revista semanal aproveita-se de um fato menor para mais uma vez acusar e agredir o presidente da República, ela está jogando lenha em uma fogueira que arde em outros países há muito tempo, sem perspectiva de apagar.

A nossa jovem democracia consegue uma convivência entre contrários de fazer inveja a boa parte do mundo, graças à nossa cultura de tolerância, ideológica, partidária, religiosa... O presidente Lula atingiu índices de aprovação e de intenção de voto históricos, graças à combinação de ações do governo que beneficiaram muitos milhões de pessoas, e de suas características pessoais e políticas. Hoje mais de metade do eleitorado está decidido a votar nele. São mais de 60 milhões de eleitoras e eleitores.

Quem quer que tenha tomado a iniciativa infeliz de negociar o tal "dossiê" com os bandidos da máfia da venda das ambulâncias superfaturadas, certamente não considerou os enormes riscos de sua ação, os graves prejuízos que poderia causar a todos nós, que estamos trabalhando duro para eleger o presidente Lula e os demais candidatos e candidatas do PT. Da mesma forma, parece que nossos adversários políticos e na mídia não se deram conta dos riscos implícitos de sua política de dois pesos e duas medidas.


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