Weis X Emir Sader
Por que o povo não acredita na imprensa
Escrevo ao Observatório da Imprensa para contestar artigo de autoria do jornalista Luiz Weis desairoso e, a meu juízo, extremamente covarde e autoritário, que foi publicado nesse veículo sob o título infame de "A crítica desonesta da mídia". Esse "título", por si só, já em um insulto a quem acusa os meios de comunicação de partidarismo pró-PSDB. Se tivesse um pingo de honestidade intelectual, antes de escrever uma catilinária tão virulenta contra um homem da estatura moral e intelectual de um professor Emir Sader por este ter escrito o artigo "O povo não acredita na imprensa", Weis deveria dar uma lidinha no que, por exemplo, anda dizendo de seu jornal o ombudsman da Folha de São Paulo, Marcelo Beraba.
Como Weis não teve esse cuidado, reproduzo, aqui, trecho da coluna dominical do ombudsman da Folha publicada pelo jornal em 17 de setembro último: "(...) Já escrevi em várias ocasiões que acho que o jornal [a Folha] tem dificuldades para manter o noticiário equilibrado e o mais comum é ser mais investigativo e crítico em relação a Lula e ao PT do que a Alckmin e ao PSDB. São avaliações que tenho registrado em 'Críticas Internas' e na coluna de domingo (...)".
O ombudsman da Folha, como se vê, enquadra-se no perfil opinativo que Weis tenta, não questionar, mas criminalizar, taxando-o de "desonesto". Absurdo! Repudio esse autoritarismo. Essa gente pensa que pode intimidar as pessoas só porque tem a opinião "certa" e, por isso, tem como se manifestar nos espaços mais visíveis da mídia como é um Observatório da Imprensa. Eu, por exemplo, não tive como postar um comentário sobre este assunto no blog de Weis no OI porque ele (Weis) não publica mais as críticas que lhe faço, pois há algum tempo falei dele muito menos do que ele mesmo disse de Sader no artigo que gerou este texto. Entretanto, fico na expectativa de que o Observatório acolha esta manifestação, para que fique provado que Weis está errado e que o Observatório não barra manifestações justas de indignação contra ataques de seus articulistas que insultem as pessoas como Weis insultou Sader, e que censurar alguém porque em algum momento deu vazão a palavras que lhe brotaram do fígado - como Weis acaba de fazer - não se inclui na filosofia desse veículo.
De qualquer forma, Weis deve achar que está certo a mídia fazer estardalhaço quando o escândalo é petista e calar quando for tucano, como fez em relação ao caso divulgado no blog de José Dirceu, que reproduzo agora:
"(...) O homem de confiança do homem de confiança do governador de Santa Catarina, candidato à reeleição pelo PFL/PSDB/PMDB, foi preso pela PF na Operação Dilúvio, em agosto, com R$ 1,5 milhão em casa. O flagrante levou o homem de confiança do governador a pedir demissão do cargo de secretário estadual da Fazenda. No dia seguinte, o assunto sumiu do noticiário, sem perguntas sobre a origem do dinheiro, ligações com caixa de campanha etc. E os partidos adversários não cogitaram em pedir a cassação da candidatura de Luís Henrique da Silveira.
Menos de um mês depois, são apreendidos R$ 1,7 milhão em outra operação da PF, dessa vez tendo como possível alvo o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, por seu suposto envolvimento com a quadrilha que atuava desde o governo FHC com a venda de ambulâncias superfaturadas. Essa ação da PF teria impedido que se consumasse um crime, a partir da negociação de um "dossiê" com imagens de atos públicos, nos quais o candidato José Serra, então ministro da Saúde, participava da entrega das referidas ambulâncias em companhia de deputados hoje acusados de participação no esquema das emendas para prefeituras.
(...) Como há a acusação da participação de alguns petistas nesse episódio, o bater de asas das gralhas e outras aves se tornou ensurdecedor nas TVs e em outros veículos de comunicação, que emprestam ao fato uma dimensão muito maior do que ele tem.”
É claro, é óbvio, é límpido e cristalino que um malfeito não anula o outro, mas o ponto é que em toda agremiação humana existirão as "laranjas" podres, que, no entanto, não podem servir para condenarmos todo o "laranjal"...
Weis contesta o artigo de Emir Sader que afirma que "O povo não acredita na imprensa" e que, por isso, apesar dos ataques dela a Lula o apóia com convicção tal que ignora o que ela tem dito do presidente da República e em quem se deve votar, ou seja, em Alckmin. Dessa maneira, Weis insinua - mas não ousa afirmar com todas as letras - que o povo continua apoiando Lula por uma razão bem diferente de não acreditar na imprensa. E que razão seria essa?, já que não nos foi esclarecido esse ponto. Muito simples: obviamente que Weis compartilha da teoria de que o povo não acompanha a opinião da imprensa porque, na maioria, é "ignorante, desinformado e de baixa escolaridade".
É isso? Se for, Weis deveria ler o que andou dizendo Marcos Coimbra, do instituto de pesquisas Vox Populi, no artigo "Teses equivocadas sobre o voto em Lula", publicado na última edição da revista Carta Capital, e Gilberto Dimenstein, colunista da Folha de São Paulo, em sua coluna na Folha Online intitulada "Lula não é o candidato dos ignorantes". O que eles escrevem, basicamente desmonta a teoria de que o voto em Lula é o voto dos ignorantes e desinformados.
Ora, mas por que, então, a maioria dos brasileiros mantém a intenção de voto em Lula se leva em conta o que a imprensa vem dizendo dele? Weis diz que a maioria dos entrevistados pelos institutos de pesquisa reconhecem que houve corrupção no governo. Ora, e quem, entre os que dizem que há complô da imprensa contra Lula, nega que tenha havido casos de corrupção no governo? Ninguém seria idiota a ponto de negar que gente do PT andou saindo da linha. Só que o povo não acredita que tudo tenha sido urdido por Lula e, além disso, ficou satisfeito com a forma transparente com que o governo permitiu as investigações, apesar de, num primeiro momento, ter tentado impedir o circo das CPIs. No governo anterior, a mídia não investigava e, por isso, ajudava os tucanos e pefelês a abafarem investigações.
O povo não acredita na imprensa por isso, porque, apesar de a imprensa achar que somos todos uns idiotas, todos nos lembramos de que um Estadão, por exemplo, passou todo o mandato de FHC defendendo-o, enquanto que hoje critica Lula por aquilo mesmo que defendeu que FHC fizesse. Os arquivos dos jornais estão aí. Das revistas. Das TVs. O escândalo que foi a desvalorização do real em 1999 não mereceu cobertura sequer parecida com a que teve o mensalão, com a diferença de que naquele ano os tucanos quebraram o Brasil e o endividaram em mais de US$ 40 bilhões, uma dívida que o governo Lula pagou e que, por isso, o impediu de imprimir maior crescimento ao país.
Emir Sader não publicou o artigo que despertou a fúria de Weis apenas no Grupo Beatrice, publicou também em seu blog, hospedado no site da Agência Carta Maior, um veículo de respeito que, concordem ou não com ele, desfruta de imensa credibilidade. E o professor Emir é um homem de vida inatacável e de bagagem intelectual que, em minha opinião, não pode ser colocada em dúvida só porque Weis encontrou (?) três ou quatro imperfeições em seu texto. Weis que vá ao blog de um Josias de Souza, de um Noblat ou de um Fernando Rodrigues para ver se não encontrará comidas de bola nos textos que escrevem às pressas. Os "sic" que Weis apôs ao texto do professor Emir são uma prova de mesquinhez, um golpe baixo.
Em alguns dias o calor da campanha eleitoral terá arrefecido. Essa campanha, então, ver-se-á que deixou em seu rastro montes de reputações jornalísticas. E muita gente muito bem antenada sabe que não serão reputações de professores universitários e, sim, de medalhões da grande imprensa. É por isso que "O povo não acredita na imprensa", porque ela teima em insultá-lo para explicar-lhe a intenção de voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como Weis não teve esse cuidado, reproduzo, aqui, trecho da coluna dominical do ombudsman da Folha publicada pelo jornal em 17 de setembro último: "(...) Já escrevi em várias ocasiões que acho que o jornal [a Folha] tem dificuldades para manter o noticiário equilibrado e o mais comum é ser mais investigativo e crítico em relação a Lula e ao PT do que a Alckmin e ao PSDB. São avaliações que tenho registrado em 'Críticas Internas' e na coluna de domingo (...)".
O ombudsman da Folha, como se vê, enquadra-se no perfil opinativo que Weis tenta, não questionar, mas criminalizar, taxando-o de "desonesto". Absurdo! Repudio esse autoritarismo. Essa gente pensa que pode intimidar as pessoas só porque tem a opinião "certa" e, por isso, tem como se manifestar nos espaços mais visíveis da mídia como é um Observatório da Imprensa. Eu, por exemplo, não tive como postar um comentário sobre este assunto no blog de Weis no OI porque ele (Weis) não publica mais as críticas que lhe faço, pois há algum tempo falei dele muito menos do que ele mesmo disse de Sader no artigo que gerou este texto. Entretanto, fico na expectativa de que o Observatório acolha esta manifestação, para que fique provado que Weis está errado e que o Observatório não barra manifestações justas de indignação contra ataques de seus articulistas que insultem as pessoas como Weis insultou Sader, e que censurar alguém porque em algum momento deu vazão a palavras que lhe brotaram do fígado - como Weis acaba de fazer - não se inclui na filosofia desse veículo.
De qualquer forma, Weis deve achar que está certo a mídia fazer estardalhaço quando o escândalo é petista e calar quando for tucano, como fez em relação ao caso divulgado no blog de José Dirceu, que reproduzo agora:
"(...) O homem de confiança do homem de confiança do governador de Santa Catarina, candidato à reeleição pelo PFL/PSDB/PMDB, foi preso pela PF na Operação Dilúvio, em agosto, com R$ 1,5 milhão em casa. O flagrante levou o homem de confiança do governador a pedir demissão do cargo de secretário estadual da Fazenda. No dia seguinte, o assunto sumiu do noticiário, sem perguntas sobre a origem do dinheiro, ligações com caixa de campanha etc. E os partidos adversários não cogitaram em pedir a cassação da candidatura de Luís Henrique da Silveira.
Menos de um mês depois, são apreendidos R$ 1,7 milhão em outra operação da PF, dessa vez tendo como possível alvo o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, por seu suposto envolvimento com a quadrilha que atuava desde o governo FHC com a venda de ambulâncias superfaturadas. Essa ação da PF teria impedido que se consumasse um crime, a partir da negociação de um "dossiê" com imagens de atos públicos, nos quais o candidato José Serra, então ministro da Saúde, participava da entrega das referidas ambulâncias em companhia de deputados hoje acusados de participação no esquema das emendas para prefeituras.
(...) Como há a acusação da participação de alguns petistas nesse episódio, o bater de asas das gralhas e outras aves se tornou ensurdecedor nas TVs e em outros veículos de comunicação, que emprestam ao fato uma dimensão muito maior do que ele tem.”
É claro, é óbvio, é límpido e cristalino que um malfeito não anula o outro, mas o ponto é que em toda agremiação humana existirão as "laranjas" podres, que, no entanto, não podem servir para condenarmos todo o "laranjal"...
Weis contesta o artigo de Emir Sader que afirma que "O povo não acredita na imprensa" e que, por isso, apesar dos ataques dela a Lula o apóia com convicção tal que ignora o que ela tem dito do presidente da República e em quem se deve votar, ou seja, em Alckmin. Dessa maneira, Weis insinua - mas não ousa afirmar com todas as letras - que o povo continua apoiando Lula por uma razão bem diferente de não acreditar na imprensa. E que razão seria essa?, já que não nos foi esclarecido esse ponto. Muito simples: obviamente que Weis compartilha da teoria de que o povo não acompanha a opinião da imprensa porque, na maioria, é "ignorante, desinformado e de baixa escolaridade".
É isso? Se for, Weis deveria ler o que andou dizendo Marcos Coimbra, do instituto de pesquisas Vox Populi, no artigo "Teses equivocadas sobre o voto em Lula", publicado na última edição da revista Carta Capital, e Gilberto Dimenstein, colunista da Folha de São Paulo, em sua coluna na Folha Online intitulada "Lula não é o candidato dos ignorantes". O que eles escrevem, basicamente desmonta a teoria de que o voto em Lula é o voto dos ignorantes e desinformados.
Ora, mas por que, então, a maioria dos brasileiros mantém a intenção de voto em Lula se leva em conta o que a imprensa vem dizendo dele? Weis diz que a maioria dos entrevistados pelos institutos de pesquisa reconhecem que houve corrupção no governo. Ora, e quem, entre os que dizem que há complô da imprensa contra Lula, nega que tenha havido casos de corrupção no governo? Ninguém seria idiota a ponto de negar que gente do PT andou saindo da linha. Só que o povo não acredita que tudo tenha sido urdido por Lula e, além disso, ficou satisfeito com a forma transparente com que o governo permitiu as investigações, apesar de, num primeiro momento, ter tentado impedir o circo das CPIs. No governo anterior, a mídia não investigava e, por isso, ajudava os tucanos e pefelês a abafarem investigações.
O povo não acredita na imprensa por isso, porque, apesar de a imprensa achar que somos todos uns idiotas, todos nos lembramos de que um Estadão, por exemplo, passou todo o mandato de FHC defendendo-o, enquanto que hoje critica Lula por aquilo mesmo que defendeu que FHC fizesse. Os arquivos dos jornais estão aí. Das revistas. Das TVs. O escândalo que foi a desvalorização do real em 1999 não mereceu cobertura sequer parecida com a que teve o mensalão, com a diferença de que naquele ano os tucanos quebraram o Brasil e o endividaram em mais de US$ 40 bilhões, uma dívida que o governo Lula pagou e que, por isso, o impediu de imprimir maior crescimento ao país.
Emir Sader não publicou o artigo que despertou a fúria de Weis apenas no Grupo Beatrice, publicou também em seu blog, hospedado no site da Agência Carta Maior, um veículo de respeito que, concordem ou não com ele, desfruta de imensa credibilidade. E o professor Emir é um homem de vida inatacável e de bagagem intelectual que, em minha opinião, não pode ser colocada em dúvida só porque Weis encontrou (?) três ou quatro imperfeições em seu texto. Weis que vá ao blog de um Josias de Souza, de um Noblat ou de um Fernando Rodrigues para ver se não encontrará comidas de bola nos textos que escrevem às pressas. Os "sic" que Weis apôs ao texto do professor Emir são uma prova de mesquinhez, um golpe baixo.
Em alguns dias o calor da campanha eleitoral terá arrefecido. Essa campanha, então, ver-se-á que deixou em seu rastro montes de reputações jornalísticas. E muita gente muito bem antenada sabe que não serão reputações de professores universitários e, sim, de medalhões da grande imprensa. É por isso que "O povo não acredita na imprensa", porque ela teima em insultá-lo para explicar-lhe a intenção de voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Eduardo Guimarães é comerciante de São Paulo (SP)
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