Os candidatos e a TV Globo ficaram esperando o presidente Lula no seu aquário. Enquanto isso, ele nadava de braçada em outra freguesia.
Flávio Aguiar – Carta Maior
Lembram do poema do Manuel Bandeira: “Vou-me embora pra Pasárgada”, “Lá sou amigo do rei”, etc.?
Lembrei-me dele ontem ao assistir o debate da eleição presidencial na TV Globo. Os personagens ali presentes, William Bonner, Geraldo Alckmin, Heloisa Helena e Cristovam Buarque lembravam o quarteto de personagens da peça “Esperando Godot”, de Samuel Beckett. Eles esperam um Godot que não veio, não vem e não virá. Só Godot pode redimi-los, ou condena-los. Suas vidas, suas palavras perderam o sentido. Eles se limitam a passar o tempo. A peça termina, e eles dizem que continuarão a esperar Godot amanhã.
Mas na peça da Globo o andamento era diverso. Godot não veio, malha-se Godot. Que se viesse, seria linchado também. Acontece que Godot tinha ido para outra freguesia. Estava em seu berço político, a sua Pasárgada, no comício de São Bernardo, frente a frente com o povo que lá foi.
A percepção era nítida: de um lado, três atores meio perdidos, excedendo-se às vezes no tempo, uma ou outra se atrapalhando para caminhar das cadeirinhas (pareciam esperar o ônibus) até o microfone, que mais pareciam detidos no aquário da Globo. Do outro, o personagem se esbaldando em praça pública, como nos velhos tempos em que os comícios eram as armas principais de campanhas.
Não sei como vai se traduzir em votos dentro da urna, mas havia um jogo muito forte ali, um jogo entre o simulacro e o simbólico, entre o puramente virtual e o concreto das ruas.
Repito que não sei o que isso trará para as urnas. Os marqueteiros e os pesquisadores dos institutos que se debatam. Mas achei que Lula teve mais acerto do que erro em não ir. Ele não foi jogar o jogo na casa, no campo, no estádio dos adversários, com as camisetas do adversário. Jogou no seu próprio campo.
Se vai ganhar o jogo, só saberemos no domingo à noite.
Lembrei-me dele ontem ao assistir o debate da eleição presidencial na TV Globo. Os personagens ali presentes, William Bonner, Geraldo Alckmin, Heloisa Helena e Cristovam Buarque lembravam o quarteto de personagens da peça “Esperando Godot”, de Samuel Beckett. Eles esperam um Godot que não veio, não vem e não virá. Só Godot pode redimi-los, ou condena-los. Suas vidas, suas palavras perderam o sentido. Eles se limitam a passar o tempo. A peça termina, e eles dizem que continuarão a esperar Godot amanhã.
Mas na peça da Globo o andamento era diverso. Godot não veio, malha-se Godot. Que se viesse, seria linchado também. Acontece que Godot tinha ido para outra freguesia. Estava em seu berço político, a sua Pasárgada, no comício de São Bernardo, frente a frente com o povo que lá foi.
A percepção era nítida: de um lado, três atores meio perdidos, excedendo-se às vezes no tempo, uma ou outra se atrapalhando para caminhar das cadeirinhas (pareciam esperar o ônibus) até o microfone, que mais pareciam detidos no aquário da Globo. Do outro, o personagem se esbaldando em praça pública, como nos velhos tempos em que os comícios eram as armas principais de campanhas.
Não sei como vai se traduzir em votos dentro da urna, mas havia um jogo muito forte ali, um jogo entre o simulacro e o simbólico, entre o puramente virtual e o concreto das ruas.
Repito que não sei o que isso trará para as urnas. Os marqueteiros e os pesquisadores dos institutos que se debatam. Mas achei que Lula teve mais acerto do que erro em não ir. Ele não foi jogar o jogo na casa, no campo, no estádio dos adversários, com as camisetas do adversário. Jogou no seu próprio campo.
Se vai ganhar o jogo, só saberemos no domingo à noite.
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