Os estrategistas sabem que numa guerra a batalha mais importante é a última, mas esta é conseqüência de uma série de batalhas anteriores, algumas pequenas, outras grandes, todas decisivas. Entre elas, as batalhas simbólicas e as da memória e da repercussão.
Flávio Aguiar - Carta Maior
Comentando a atual batalha em torno do dossiê Vedoin/Serra/Ambulâncias, a ministra Dilma Roussef disse em Nova Iorque que ela demonstrava que uma parte do Partido dos Trabalhadores tinha aprendido com as crises anteriores, e outra, infelizmente, não.
É verdade. O que os afoitos trapalhões que se envolveram em compra de dossiê não aprenderam é que o povo brasileiro se fartou dos esquemas de denúncias sobre denúncias que atingiram o próprio Presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores durante o último ano e meio.
A imprensa conservadora e as oposições, com constante cobertura televisiva e radiofônica malharam a ferro e fogo o governo, transformando denúncias em suspeitas e suspeitas em demonstrações de culpa formada, muitas vezes massacrando até a vida pessoal dos acusados, sem direito de defesa.
Qual o resultado eleitoral disso tudo, para surpresa de muitos dos acusadores? Muito pouco.
A popularidade do Presidente Lula continua alta, as intenções de voto nele também. Até a explosão dessa última crise do dossiê voador não havia a menor dúvida de que o Presidente seria reeleito no primeiro turno. O que o povo quer é discutir suas condições de vida, e as perspectivas para o futuro. É isso que vai decidir a eleição. E foi isso que não percebeu esse grupo de aprendizes de feiticeiro do PT de São Paulo. Querendo trilhar o caminho do denuncismo, que não deu certo para as oposições, arriscaram comprometer uma reeleição que era praticamente certa e que continua possível, ainda no primeiro turno.
Mas a luta continua. Os estrategistas sabem que numa guerra a batalha mais importante é a última, mas esta é conseqüência de uma série de batalhas anteriores, algumas pequenas, outras grandes, todas decisivas.
Olhando-se o noticiário de ontem para hoje, tem-se a impressão de que a luta arrefeceu um tanto. O presidente Lula saiu-se bem na entrevista no Bom Dia Brasil, o que foi reconhecido até por blogueiros adversos a ele. A substituição de Berzoini por Marco Aurélio Garcia desonerou a campanha de seu coordenador ter de ficar explicando se participou ou não do episódio. Não houve notícias espetaculares ao longo do dia. Os exércitos parecem estar se preparando para as batalhas que virão, a partir do fim de semana.
As prováveis batalhas daqui para frente serão as seguintes:
1) A batalha da origem do dinheiro. As oposições e seus “formadores de opinião” na imprensa e na mídia perderam a batalha das fotos do dinheiro, que foi a primeira que travaram nesse campo. A batalha da origem do dinheiro será travada em torno de se nele porão as marcas do próprio Presidente, do financiamento da campanha do partido, de fundos públicos ou ilegais. A atuação da Polícia Federal será decisiva, pois depende dela a munição que um e outro lado usarão.
2) A própria atuação da Polícia Federal. Desde que não conseguiu pôr as mãos nas fotos das notas de dinheiro, as oposições e seus arautos vêm num crescendo questionando a isenção da PF e a atuação do Ministro Thomaz Bastos. Esse questionamento tende a aumentar, opondo a versão de que a PF vem tendo uma atuação republicana e a versão de que ela estaria favorecendo o governo.
3) O caso de Freud Godoy. Esse é o assessor mais próximo de Lula. Até o momento não há qualquer prova de sua participação direta no esquema de compra e venda do dossiê. Sua eventual incriminação provocaria mais dano para Lula; seu descompromisso com o caso seria, evidentemente benéfico. Mas as oposições vão carregar nas tintas com respeito a ele, porque para elas é importante manter o caso o mais perto de Lula possível.
4) As batalhas simbólicas. Estas são importantíssimas. Todo o esforço está sendo feito na mídia e imprensa conservadora para desvincular as palavras “dossiê” e “Serra”. Tem jornal e site de jornal chamando o dossiê de “dossiê Cuiabá”. Estão querendo grudar em Lula a imagem de Nixon e de Watergate, numa evidente pavimentação do caminho para o futuro pedido de impeachment. Aqui é possível haver tudo, até armações de fotos, busca de gafes, sempre com o objetivo de desmoralizar o Presidente.
5) As batalhas da memória. A cavalaria conservadora está sendo mobilizada para atacar em todas as frentes do passado, trazendo todas as acusações contra o governo e o Presidente de volta, porque só o caso do dossiê parece ser fraco para compromete-lo. Assim mesmo agora esses cavalarianos condenam a formação de dossiês, mas desviam de rota quando se lembra o caso Roseana/Lunus, em que o favorecido foi Serra, cuja candidatura estava ameaçada de sequer chegar ao segundo turno.
6) A batalha da repercussão. Já tem jornal tirando do baú os velhos fantasmas de que um governo Lula não terá governabilidade, e de que a presente situação está afastando investidores e fazendo o risco país “disparar”, etc. Mas essa agitação esbarra nas notícias de que a miséria no país diminuiu e que as condições de vida do povo melhoraram. Aí é necessário disparar os obuses de que essas melhoras não são sustentáveis no longo prazo, o que bate no rochedo de que sem elas nada, no futuro, é sustentável. Essa será uma batalha das mais longas, e vai muito além da eleição.
Nessas batalhas, as oposições e seu candidato preferido estão na ofensiva, num evidente ou vai ou racha. É a cartada final. O Presidente Lula tem uma vantagem, que é a de ter uma estratégia clara e unitária no momento: vencer no primeiro turno. As oposições, que estiveram divididas, agora estão cindidas. O discurso do seu candidato Geraldo Alckmin ontem foi ilustrativo: começou o dia falando em impeachment, depois foi a vez de “varredura” do governo, e de que era mais simples, ao invés de demitir membros da campanha e do governo, demitir o próprio Presidente. Ainda depois comentou que era melhor demiti-lo ou impugna-lo pelo voto, para nos programas de TV à noite partir para o ataque frontal, ele mesmo comandando, como se âncora fosse, o assalto às barricadas, num gesto, também ele, de alto risco.
De todo modo, a eleição promete refregas e esfregas memoráveis nesta reta final.
Flávio Aguiar - Carta Maior
Comentando a atual batalha em torno do dossiê Vedoin/Serra/Ambulâncias, a ministra Dilma Roussef disse em Nova Iorque que ela demonstrava que uma parte do Partido dos Trabalhadores tinha aprendido com as crises anteriores, e outra, infelizmente, não.
É verdade. O que os afoitos trapalhões que se envolveram em compra de dossiê não aprenderam é que o povo brasileiro se fartou dos esquemas de denúncias sobre denúncias que atingiram o próprio Presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores durante o último ano e meio.
A imprensa conservadora e as oposições, com constante cobertura televisiva e radiofônica malharam a ferro e fogo o governo, transformando denúncias em suspeitas e suspeitas em demonstrações de culpa formada, muitas vezes massacrando até a vida pessoal dos acusados, sem direito de defesa.
Qual o resultado eleitoral disso tudo, para surpresa de muitos dos acusadores? Muito pouco.
A popularidade do Presidente Lula continua alta, as intenções de voto nele também. Até a explosão dessa última crise do dossiê voador não havia a menor dúvida de que o Presidente seria reeleito no primeiro turno. O que o povo quer é discutir suas condições de vida, e as perspectivas para o futuro. É isso que vai decidir a eleição. E foi isso que não percebeu esse grupo de aprendizes de feiticeiro do PT de São Paulo. Querendo trilhar o caminho do denuncismo, que não deu certo para as oposições, arriscaram comprometer uma reeleição que era praticamente certa e que continua possível, ainda no primeiro turno.
Mas a luta continua. Os estrategistas sabem que numa guerra a batalha mais importante é a última, mas esta é conseqüência de uma série de batalhas anteriores, algumas pequenas, outras grandes, todas decisivas.
Olhando-se o noticiário de ontem para hoje, tem-se a impressão de que a luta arrefeceu um tanto. O presidente Lula saiu-se bem na entrevista no Bom Dia Brasil, o que foi reconhecido até por blogueiros adversos a ele. A substituição de Berzoini por Marco Aurélio Garcia desonerou a campanha de seu coordenador ter de ficar explicando se participou ou não do episódio. Não houve notícias espetaculares ao longo do dia. Os exércitos parecem estar se preparando para as batalhas que virão, a partir do fim de semana.
As prováveis batalhas daqui para frente serão as seguintes:
1) A batalha da origem do dinheiro. As oposições e seus “formadores de opinião” na imprensa e na mídia perderam a batalha das fotos do dinheiro, que foi a primeira que travaram nesse campo. A batalha da origem do dinheiro será travada em torno de se nele porão as marcas do próprio Presidente, do financiamento da campanha do partido, de fundos públicos ou ilegais. A atuação da Polícia Federal será decisiva, pois depende dela a munição que um e outro lado usarão.
2) A própria atuação da Polícia Federal. Desde que não conseguiu pôr as mãos nas fotos das notas de dinheiro, as oposições e seus arautos vêm num crescendo questionando a isenção da PF e a atuação do Ministro Thomaz Bastos. Esse questionamento tende a aumentar, opondo a versão de que a PF vem tendo uma atuação republicana e a versão de que ela estaria favorecendo o governo.
3) O caso de Freud Godoy. Esse é o assessor mais próximo de Lula. Até o momento não há qualquer prova de sua participação direta no esquema de compra e venda do dossiê. Sua eventual incriminação provocaria mais dano para Lula; seu descompromisso com o caso seria, evidentemente benéfico. Mas as oposições vão carregar nas tintas com respeito a ele, porque para elas é importante manter o caso o mais perto de Lula possível.
4) As batalhas simbólicas. Estas são importantíssimas. Todo o esforço está sendo feito na mídia e imprensa conservadora para desvincular as palavras “dossiê” e “Serra”. Tem jornal e site de jornal chamando o dossiê de “dossiê Cuiabá”. Estão querendo grudar em Lula a imagem de Nixon e de Watergate, numa evidente pavimentação do caminho para o futuro pedido de impeachment. Aqui é possível haver tudo, até armações de fotos, busca de gafes, sempre com o objetivo de desmoralizar o Presidente.
5) As batalhas da memória. A cavalaria conservadora está sendo mobilizada para atacar em todas as frentes do passado, trazendo todas as acusações contra o governo e o Presidente de volta, porque só o caso do dossiê parece ser fraco para compromete-lo. Assim mesmo agora esses cavalarianos condenam a formação de dossiês, mas desviam de rota quando se lembra o caso Roseana/Lunus, em que o favorecido foi Serra, cuja candidatura estava ameaçada de sequer chegar ao segundo turno.
6) A batalha da repercussão. Já tem jornal tirando do baú os velhos fantasmas de que um governo Lula não terá governabilidade, e de que a presente situação está afastando investidores e fazendo o risco país “disparar”, etc. Mas essa agitação esbarra nas notícias de que a miséria no país diminuiu e que as condições de vida do povo melhoraram. Aí é necessário disparar os obuses de que essas melhoras não são sustentáveis no longo prazo, o que bate no rochedo de que sem elas nada, no futuro, é sustentável. Essa será uma batalha das mais longas, e vai muito além da eleição.
Nessas batalhas, as oposições e seu candidato preferido estão na ofensiva, num evidente ou vai ou racha. É a cartada final. O Presidente Lula tem uma vantagem, que é a de ter uma estratégia clara e unitária no momento: vencer no primeiro turno. As oposições, que estiveram divididas, agora estão cindidas. O discurso do seu candidato Geraldo Alckmin ontem foi ilustrativo: começou o dia falando em impeachment, depois foi a vez de “varredura” do governo, e de que era mais simples, ao invés de demitir membros da campanha e do governo, demitir o próprio Presidente. Ainda depois comentou que era melhor demiti-lo ou impugna-lo pelo voto, para nos programas de TV à noite partir para o ataque frontal, ele mesmo comandando, como se âncora fosse, o assalto às barricadas, num gesto, também ele, de alto risco.
De todo modo, a eleição promete refregas e esfregas memoráveis nesta reta final.
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