26 setembro 2006

Operação Segundo Turno


A impressão que ficou da observação da mídia neste fim de semana foi a de que pela primeira vez houve uma operação concatenada entre vários órgãos de informação: a “operação segundo turno”.

Flávio Aguiar - Carta Maior

Tudo começou na sexta-feira (22). Uma frase pinçada de um discurso do presidente, em que aludia a uma vitória no primeiro ou no segundo turno, virou manchete e chamada: “Lula admite a possibilidade de segundo turno” ou “pela primeira vez Lula admite segundo turno”, no Estadão e na Rede Globo. Na verdade, desde o começo da campanha, Lula e dirigentes petistas, apesar de almejarem uma decisão em 1º de outubro, sempre falaram em se preparar para a eventualidade de um segundo turno. A novidade foi a falta de luz própria na candidatura de Alckmin, o que levou à suposição de uma possível vitória no primeiro turno. A fala de Lula, portanto, não era novidade.

Depois, inexplicavelmente e contrariando uma tradição longeva, a Folha de S. Paulo antecipou para o sábado (23) a divulgação da pesquisa Datafolha para a eleição presidencial. Nela, as variações eram mínimas: Alckmin subia dois pontos (31), Lula descia um (49), mas Heloisa Helena também descia dois pontos (7). Essa variação permitia a interpretação de que os votos que Heloisa Helena tinha tirado de Alckmin durante sua farta exposição na mídia (na esperança de que ela tirasse votos de Lula) estavam agora retornado a seu lugar de origem.

A partir do sábado à noite e no domingo, foi a vez da divulgação da pesquisa do Ibope, com números menores para Lula(47, queda de 2 pontos) e maiores para Alckmin (33, subida de 3), com Heloisa Helena caindo apenas um ponto (para 8). A pesquisa do Ibope, ao contrário da do Datafolha, acentuava a idéia de que Alckmin começaria a tirar votos diretamente de Lula. A Folha, por seu turno, divulgava uma pesquisa estadual em que Serra subia e Mercadante descia nas intenções voto.

A divulgação das duas , a do Ibope (presidência) e do Datafolha (estado de S. Paulo) no mesmo domingo criava a impressão de que a disputa em torno das questões do dossiê Vedoin/Serra, e de sua compra e venda frustrada, traziam prejuízo só para Lula e potenciavam a candidatura de Serra.

Além disso, e mais importante, a divulgação do Datafolha presidencial no sábado e do Ibope no domingo criava a impressão de uma queda em cascata, denotando desde logo que as oscilações configuravam uma tendência, para quem visse as manchetes.

Um detalhe significativo era o das datas das pesquisas. A do Ibope fora feita entre os dias 20 e 22; a do Datafolha, somente no dia 22. A do Ibope, portanto, fora feita antes da do Datafolha. Mas a antecipação da publicação do Datafolha para sábado criava a impressão de que esta fora feita antes, e a do Ibope logo em seguida.

Este arranjo na divulgação das pesquisas reforçava bastante a possibilidade ou até “a certeza” de que se caminharia para um segundo turno, criando um clima capaz de sugestionar eleitores indecisos ou pouco decididos. Num clima em que trovejam novamente ameaças quanto à governabilidade de um segundo mandato de Lula, em que o Presidente do TSE já fala em impugnações de uma possível vitória de Lula, a criação dessas impressões pode ser decisiva para abrir o caminho a um segundo turno.

Some-se a isto as mensagens que varam a internet e a telefonia de que nas redações da mídia conservadora reina um clima de “ordem unida”. Ainda que não haja provas cabais nem testemunhos diretos, fica a forte impressão de que houve uma “operação segundo turno” concatenada. E como se sabe, em política a impressão é a última que morre.

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