29 setembro 2006

O cinismo burguês sobe o palanque


por Odair Rodrigues*

A primeira página dos dois maiores diários de São Paulo estamparam, na terça feira do dia 26 de setembro, uma foto com a maior concentração de cinismo político já vista no país.

Estavam lá o PFL do ex-deputado, narco-traficante e assassino Hildebrando Moto-serra; do senador Antonio Carlos Magalhães, que renunciou o mandato pra não ser investigago e de Jorge Bauhausen, aquele que quer acabar com a raça dos brasileiros pobres. Ainda no palanque seleto: José Serra, ministro da dengue, suspeito no caso dos sanguesugas, mentiroso por não cumprir a promessa de terminar o mandato na prefeitura paulista; Geraldo Alckmin, construtor de presídios e fechador de escolas, estimulador de pedágios e responsável pelo crescimento do PCC. Por último, a estrela mor: princípe das socialites, o confesso privatizador, aquele que chamou os brasileiros de "vagabundos", Fernando Henrique Cardoso.

Todos eles no "Ato pela decência" convocado pelo PSDB/PFL e pela grande imprensa paulista.
Esses senhores têm, confessadamente, seus nomes envolvidos no desmonte do patrimonônio nacional, na destruição de postos de trabalho, na redução dos serviços públicos para a população, na criminalização dos movimentos sociais e à submissão ao capital estrangeiro. Cimes que jogaram milhões de brasileiros na miséria, violência, falta de assistência à saúde, educação e na incerteza do desemprego.

Pois bem, esses senhores foram saudados pela imprensa burguesa que cumpre seu papel na América Latina de ser a voz do capital, os advogados do dólar.

Essa terça-feira ficará marcada como o dia do cinismo impresso. O jornal Folha de São Paulo "de rabo preso com o feitor" e o Estado de São Paulo "Diário do PSDB", não mediraqm consequências ao assumir o lado que estão nas eleições. Associam-se àqueles que, como Fernando Henrique Cardoso, querem dar um "choque de capitalismo" no país. Capitalismo que concentra a riqueza na mão de poucos, mata trabalhadores no campo, massacra ou desemprega operários na cidade, ergue os muros das prisões para os pobres, promove a prostituição, fecha escolas, corrompe indivíduos, abre portas para o imperialismo e despreza a vontade do povo.

Nas primeiras páginas dessa terça-feira, cinicamente, em close, a canalha sorri para o país. Nenhuma foto do povo porque este não estava lá. Não perderiam a oportunidade de fotografar um ato massivo contra o governo Lula.
Na ausência dos principais interessados nas eleições, privilegiaram os que a todo custo querem de volta o governo do país.

Os cínicos burgueses engravatados, no entanto, não entendem ou não querem entender porque não são carregados nos ombros apesar da farta propaganda em seu favor. Não compreendem o índice das pesquisas, a convicção dos brasileiros em continuar com uma experiência inovadora se comparada com mais de 500 anos de opressão.
Certamente não entenderiam o poema do Poeta Solano Trindade:

Gravata colorida

Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...

O cinismo, ainda que nos ofenda os olhos, nos fira os ouvidos e ameace o futuro não resiste à simplicidade da união do povo. Tem sido assim na Venezuela, na Bolívia, no Líbano, em Cuba, no Brasil e outros países nas mais variadas formas.

Dia 1º de outubro nossa resistência será manifesta nesse momento histórico. Outros momentos e outras formas de luta virão, mas agora devemos dar a resposta à canalha cínica. Agora escolhamos um lado. Os Frias e os Mesquita já declararam o deles.


*Odair Rodrigues, Lingüista, professor e fotógrafo.

Nenhum comentário: