28 setembro 2006

Carta à imprensa


É direito dos donos da mídia apoiar quem eles quiserem, mas deveriam ter como maior dever e responsabilidade informar a todos os seus leitores quem apóiam e, principalmente, por que os apóiam. O dia que isso acontecer no nosso país, como é comum em vários países do dito primeiro mundo, então vamos começar a caminhar rumo a uma verdadeira democracia.

- por Grupo Izquierda Unida
(http://brasileiristas.blogspot.com)

O mau uso da informação e a inversão dos fatos por grande parte da mídia têm causado indignação em grande parte da nossa sociedade. É vergonhoso testemunhar a velocidade com a qual se desvia o foco de diversas questões relevantes, criando situações de culpa inexistentes, lançando calúnias sobre alvos inimigos pré-fabricados.

Se este país já tivesse uma sociedade organizada e séria, todo o atentado contra a verdade cometido pela imprensa seria tratado como crime. Mas é sempre o contrário que ocorre: aqueles que protestam contra esse verdadeiro linchamento público, são tratados pelos auto-proclamados “formadores de opinião” como totalitários, anti-democráticos ou contrários à liberdade de imprensa!

É notável a evidente queda da máscara da imparcialidade e da ética que sempre foram vendidas pela imprensa como sendo o esteio do seu produto - e funcionou a contento enquanto se manteve no poder, por mais de 500 anos, a mesma elite predadora que transformou o Brasil no país mais injusto do mundo. Hoje, com a chegada de um partido de esquerda na presidência, a falsidade e a mentira da imparcialidade desmoronaram e só sobrou o jogo sujo pelo poder, o qual se apresenta com apetite voraz, irresponsável e insano.

Muitas mídias esforçaram-se nos últimos dias, a cada minuto, para desqualificar o conteúdo do que ficou conhecido como “dossiê José Serra”, que, como qualquer pessoa bem informada sabe, traz informações que há muito vêm sendo divulgadas pela internet e por alguns meios de comunicação menos tendenciosos e panfletários.

Ao mesmo tempo, alguns canais chegaram a radicalizar, colocando textualmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como sendo investigado pela divulgação de dados falsos contra o ex-ministro da saúde.

Em primeiro lugar, existem provas ainda, que circunstanciais, que colocam o presidente Lula como autor ou contratante destas falsificações? Até agora nada apareceu, mas ele já é tratado como culpado desde o primeiro minuto em que as notícias foram divulgadas.

Em segundo lugar, que legitimidade a imprensa têm para afirmar cabalmente que os dados contidos no dossiê são falsos? E, mesmo que sejam, quem elegeu a mídia como júri e juiz da coisa pública?

O Jornal do Commercio do dia 18 de setembro deste ano publicou uma entrevista com o Controlador Geral da União, Jorge Hage na qual ele afirma que:

“Não há nenhum dos casos que estão vindo à luz agora que tenha tido início no governo Lula em 2003. A única coisa que começou agora foi a investigação e a descoberta porque as sanguessugas estão ai desde a década de 80 ou 90. Os vampiros estão ai desde a década de 90 comprovadamente. O inquérito conjunto da PF e CGU demonstrou isso com todas as letras. Estão lá nomes de autoridades que ocupavam o Ministério da Saúde no governo anterior diretamente comprometidos com os problemas dos vampiros e das sanguessugas. Tudo que está aí é como se fosse um esgoto, uma podridão que estava há muito tempo tampada. O que estamos fazendo é tirar a tampa.”

Ou seja, o inquérito conjunto da PF e da CGU demonstram que a máfia das ambulâncias atuava de forma livre durante toda a gestão de José Serra.

Este sim é o fato relevante, como qualquer jornalista que honra sua profissão sabe muito bem. Diante disso, fica estranho a imprensa proclamar a falsidade de um dossiê que apenas reafirma algo que a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Controladoria Geral da União já sabem.

O governo Fernando Henrique Cardoso, via seu ministro da saúde José Serra, criou e financiou a corrupção da máfia das sanguessugas. Ao menos é isso que os fatos apontam. Então não há a possibilidade de se forjar um dossiê contra alguém que já está investigado como envolvido em crimes de corrupção pelas mais altas esferas de polícia.
Por outro lado, a mídia em sua quase totalidade esforça-se em construir no eleitor a idéia de que comprar um dossiê seja crime. Mas comprar um dossiê não é crime. Pelo contrário. Transformar a compra do dossiê em crime é inverter a situação de réu na história. Não é o governo Lula o réu, mas sim a gestão José Serra/Jarbas Negri.

A sociedade brasileira exige saber por que uma parcela tão expressiva da mídia está declaradamente decidida a proteger reconhecidos réus de juízo, que podem ter lesado os cofres públicos durante anos e que agora esperam ganhar novamente o voto de seus eleitores.

Quem deve explicações à toda a sociedade brasileira é o PSDB: a respeito dos crimes de corrupção e de desvio do dinheiro público já verificados, auditados e denunciados pela Controladoria Geral da União. O PSDB usa o artifício da inversão da culpa para forjar um golpe contra a democracia brasileira tendo para isso o apoio de grande parte da mídia como sua principal arma.

Por quê? Afinal, se são inocentes, não deveriam ser eles os maiores interessados em vasculhar e esclarecer tudo? A que tipo de interesse essa mídia serve? Porque ao interesse da informação e da verdade é que não é. Os pontos que foram alvo do denuncismo contra o PT e o governo Lula que exigem a retratação por parte da mídia são:

1) A compra do dossiê não é ilegal por si só. Não implica em crime eleitoral ou de qualquer outro tipo;

2) o Governo Lula não está envolvido nesse episódio. É um episódio centrado no estado de São Paulo;

3) As denúncias contidas no dossiê que foram publicadas na revista Istoé não são falsas e são do conhecimento da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União. São estas as denúncias que devem ser o foco das investigações e não o contrário.

A máfia das sanguessugas envolveu cifras superiores a 100 milhões de reais, mas a mídia se concentra furiosa contra 1,7 milhões que foi o valor estimado a ser pago pelo dossiê José Serra.

Atirar no alvo certo contra aqueles que sangram a sociedade é o nosso direito e é a nossa exigência. Assim como é nossa exigência que a imprensa corporativa do Brasil passe a ser transparente e respeite o jogo democrático.

É direito dos donos da mídia apoiar quem eles quiserem, mas deveriam ter como maior dever e responsabilidade informar a todos os seus leitores quem apóiam e, principalmente, por que os apóiam. O dia que isso acontecer no nosso país, como é comum em vários países do dito primeiro mundo, então vamos começar a caminhar rumo a uma verdadeira democracia.

Grupo Izquierda Unida (http://brasileiristas.blogspot.com)

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