25 setembro 2006

A Venezuela é aqui


por Eduardo Guimarães

Muita gente que vota em Lula e que está indo às raias do desespero por conta do ataque final da mídia contra o presidente ficou chocada com a pesquisa Ibope que acaba de ser divulgada e que mostra uma sólida queda de Lula (ainda que pequena) e um sólido crescimento de Alckmin (ainda que igualmente pequeno). Os que são meus leitores há mais tempo não deveriam ficar assim. Afinal, eu os avisei do que aconteceria.

Na última sexta-feira, postei uma nota dizendo que tinha sido informado por gente de dentro da Folha de que o jornal fraudaria a pesquisa que seria publicada naquele mesmo dia e que só foi disponibilizada na internet na madrugada de sábado. Quando ela foi divulgada, vi, apreensivo, gente comemorando aqui no blog e pela internet inteira. Então escrevi o texto abaixo deste, intitulado "Margem de Safadeza", para fazer vocês entenderem que, de "margem de erro" em "margem de erro", levantaram a bola de Alckmin pelo menos uns 7, 8 pontos percentuais no decorrer das últimas semanas.

Mas não era suficiente e não vai ficar só nisso. Como não ficou. O Ibope cumpriu a missão inglória de que o Datafolha se desincumbiu, ou seja, a missão de mostrar uma queda maior de Lula e um crescimento de Alckmin fora da margem de erro das pesquisas de opinião. E por que o Ibope? Simples: o Datafolha pertence ao grupo Folha de São Paulo, um jornal que todos sabem que aderiu ao PSDB, um jornal que tem um ombudsman que vive acusando-o de partidarismo político. Então escolheram o Ibope, que pelo menos não tem coloração partidária tão visivel quanto a do Datafolha.

Já perdi a conta de quantas vezes escrevi isso que vocês vão ler. Percebi tudo a partir da eclosão da crise política em meados do ano passado. Repito, pela milionésima vez, que o Brasil mergulhou num processo político igual ao que mergulhou a Venezuela depois da eleição de Hugo Chávez. Partidos políticos de direita, o grande empresariado e os meios de comunicação uniram-se num complô para derrubarem um governo que passou a usar a riqueza do Estado venezuelano (proveniente das receitas com petróleo) em prol das camadas miseráveis da população, que durante décadas incontáveis tiveram que assistir os recursos do país serem usados em prol da minoria branca e rica daquela sociedade.

O processo de desmoralização de Chávez pela elite empresarial-midiática venezuelana consistiu em criminalizá-lo, em ridicularizá-lo e até em usar a força contra ele. Para isso a elite venezuelana se valeu dos meios de comunicação. Jornais, revistas semanais, rádios e internet, no entanto, não foram os únicos meios. Estive algumas vezes na Venezuela e acompanhei inclusive o auge da crise. Descobri que patrões pressionavam seus funcionários. Opinião pró-Chávez, na Venezuela, passou a ser motivo de demissão. E nos círculos sociais mais altos, de classe média para cima, virou in atacar o presidente da Venezuela.

Não toquei, porém, no assunto mais importante, num dos pontos cruciais do processo político venezuelano, que se reproduziria em outros países em que políticos de esquerda disputariam o cargo de presidente da República. Durante a campanha do referendo revogatório proposto pela oposição venezuelana para tentar tirar Chávez do poder - uma campanha que já vinha de anos -, as pesquisas de intenção de voto foram manipuladas escandalosamente. No começo, cerca de uns dois anos antes do referendo, Chávez aparecia como repudiado por quase dois terços do eleitorado. Depois, conforme o referendo foi se aproximando, Chávez "foi se tornando" mais popular. Abertas as urnas, porém, sua vitória foi bem maior do que as pesquisas previram. Na verdade, elas haviam previsto uma vitória apertada e ele ganhou de lavada.

Aconteceu exatamente o mesmo na Bolívia durante a eleição de Evo Morales no ano passado. As pesquisas foram fraudadas até o último minuto. Abertas as urnas, o resultado diferiu enormemente das pesquisas, ainda que estas concedessem vitória "apertada" ao candidato que a mídia demonizava e ridicularizava.

O eleitorado de Lula pensa que está comendo o pão que o diabo amassou por conta do partidarismo escandaloso da mídia. Isso é porque a maioria quase absoluta dessas pessoas não viu o que fizeram na Venezuela. Vocês acham que ridicularizaram e desrespeitaram Lula? Gente, na Venezuela eu assisti, com estes olhos que a terra há de comer, e ouvi, com estes ouvidos que terão o mesmo destino dos olhos, Chávez ser acusado, em programas de televisão, de pedofilia, de ser homossexual, bissexual, drogado, ladrão, louco e o que mais vocês quiserem. E ainda ouvi, tanto na Venezuela como no Brasil, dizerem que o presidente venezuelano estava censurando a mesma mídia que cometia esses absurdos.

Eu lhes garanto, como vinha garantindo há um ano, que o Brasil foi mergulhado no mesmo processo político da Venezuela e pela mesma mídia que o empreendeu no país vizinho. Aliás, o comandante da campanha político-midiática venezuelana, o megaempresário do setor de comunicações Gustavo Cisneros, foi quem transmitiu a Vejas, Folhas, Globos, Estadões etc o know-how que vocês estão vendo ser usado por nossa mídia contra Lula. E esse know-how inclui - e tem como ponto central - a manipulação de pesquisas eleitorais. É por isso que nesta semana que falta para a eleição presidencial vocês verão acontecer algumas coisas que vou prognosticar aqui:

1º) Os ataques a Lula, os insultos, as acusações irão tomar de vez cada espaço midiático disponível. A opinião substituirá a notícia e qualquer manifestação contrária, em favor de Lula, será proibida.

2º) O próximo Datafolha irá acompanhar e até aprofundar o que acaba de divulgar o Ibope. Na reta final da campanha eleitoral, tentarão criar um efeito manada na tentativa de reverterem uns pontos percentuais e levarem a eleição para o segundo turno.

3º) A propaganda eleitoral termina no dia 28, mas a mídia continuará fazendo campanha para Alckmin (atacando Lula) depois do prazo estabelecido em lei.

Em minha opinião, não dará certo, como não deu na Venezuela e na Bolívia. Alguns acham que conseguirão fazer aqui o que foi feito na Colômbia e no México, mas não se dão conta de que fraude eleitoral não funcionará no Brasil. A manipulação, aqui, no máximo poderá ser das pesquisas por razões que não vou me estender para explicar, mas que muitos saberão distingui-las.

Diante de tudo isso, quero acalmá-los, meus leitores, e alentá-los. Entendam que, de fato, a Venezuela é aqui, mas para o bem e para o mal. Simultaneamente. Primeiro o mal: os ataques, as mentiras, as distorções, os exageros, os acobertamentos, as falsificações de pesquisas... Depois o bem: o resultado de tudo isso, que, na Venezuela, foi o fracasso desse processo sujo. Mas nem por isso vamos arrefecer nosso ímpeto na reta final. Ontem consegui dois votos para Lula. Mas, atenção: não perca tempo com a classe média e alta. Concentre-se nas pessoas mais humildes que estão submetidas à pressão de patrões e pessoas de classes sociais mais altas, como empregados domésticos, porteiros etc. Essas pessoas estão desorientadas, mas intuem que Lula é melhor para elas.

Vamos à Luta, meus amigos. Falta pouco. Coragem. A vitória está próxima.

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