22 setembro 2006

Répteis


Por Beatriz Fagundes

Os mesmos de sempre vociferam em cima do que lhes interessa no mais novo escândalo para esconder a parte que lhes cabe neste latifúndio sem fronteiras de sem-vergonhice.
O fato, a versão, a crença, o ódio e o fanatismo. A mistura desses ingredientes, “bombados” pela rapidez na divulgação de qualquer notícia ou fofoca, não apenas na paróquia, mas a nível planetário, deveria nos fazer pensar. Pelo menos isso, afinal, até o fim do século passado, pensar não era tão difícil... ou era? Pois pensar a respeito do escândalo do Serragate deveria ser função fundamental de todos os interessados num Brasil livre de corrupção, safadeza, clientelismo e coronelismo. Mas, num movimento totalmente oposto, o que se vê são manifestações completamente invertebradas, alimentadas por idéias ideológicas xiitas e fanáticas contra o PT. De forma reptiliana e sem qualquer avaliação do ridículo, os mesmos de sempre vociferam em cima do que lhes interessa no mais novo escândalo, pisoteando, sapateando para esconder a parte que lhes cabe neste latifúndio sem fronteiras de sem-vergonhice republicana que tem atolado e afundado cotidianamente qualquer idéia de futuro da nação.

O povão parece criar anticorpos

Diferentemente do que se pode compreender numa primeira e açodada avaliação sobre os resultados das duas pesquisas de opinião sobre a eleição para presidente divulgadas na noite de ontem, que mantém o presidente Lula numa posição favorável à reeleição no primeiro turno, talvez deva ser uma avaliação sobre a capacidade do eleitorado em absorver e identificar as crises fabricadas. As “crises” têm sido constantes em todas as eleições pós-ditadura. O eleitor médio – não a classe média – não assiste ao horário eleitoral e, quando assiste, por conseqüência da própria antipropaganda quanto a credibilidade dos políticos, não acredita em nada do que lhes afirmam. Usar hoje o escândalo incensado pela oposição sobre o dossiê do Serragate contra o presidente Lula é, no mínimo, uma tentativa golpista de confundir de forma criminosa o que até então tinha ficado convencionado: todos os partidos haviam se comprometido em identificar todo e qualquer envolvido no esquema da máfia das ambulâncias, certo? Pois uma revista estampa na capa que nunca os mafiosos foram tão felizes quanto durante a administração do PSDB de Geraldo e, especialmente, na administração de José Serra, que nunca faturaram tanto e com total tranqüilidade, e as vestais de plantão sequer ficam ruborizadas! Senhores e senhoras que hoje sustentam o bastão da moralidade republicana ignoram solenemente e sequer se constrangem com as acusações e possíveis documentos que comprovam a delirante e momentosa relação entre os sanguessugas e o PSDB de José Serra e Geraldo Alckmin. Não gritam por aprofundamento e comprovação das acusações. Silenciam, de forma cúmplice e ideológica, sem qualquer preocupação republicana. O governador Geraldo Alckmin, que não permitiu nenhuma investigação sobre tantas irregularidades milionárias em seu governo, cuja filha gerencia uma das lojas da Daslu, empresa acusada e investigada publicamente por evasão de divisas e formação de quadrilha, ocupa todos os horários nobres e obrigatórios de rádio e TV para se dizer o defensor da moral e dos bons costumes. Faz sentido? O que está em jogo nessa história do Serragate não é unicamente a origem do dinheiro para a compra dos tais documentos, ou os, felizmente, incompetentes e energúmenos marginais que protagonizaram a ópera bufa da compra e venda do dossiê. O valor maior é saber se a ação dos mafiosos, como eles garantiram em manchete de capa, foi mais bem sucedida e teve o seu apogeu durante a administração do PSDB de Geraldo Alckmin e José Serra. Afinal, José Serra facilitou a vida e as falcatruas da família Vedoin? Alto lá na patrulha! É fundamental descobrir as origens do dinheiro que seria usado no pagamento. Mais ainda, é imperativo uma investigação implacável quanto aos petistas envolvidos na operação “debi e lóide”. O inaceitável, salvo melhor juízo, é ignorar o principal: qual a participação do PSDB no esquema da máfia dos sanguessugas. Sem esquecer que ainda está pendente a acusação quanto a máfia dos vampiros. Sobre essa que, também, compromete, com indícios de corrupção, a administração do senhor José Serra, que assinou documento em cartório comprometendo sua palavra de honra que cumpriria o mandato de prefeito de São Paulo até o último dia de mandato, o qual rasgou sem qualquer constrangimento e nunca mais se falou nada. A investigação sobre a Operação Vampiro não interessa para os poderosos golpistas de plantão. A direita fascista nunca vai engolir ou apenas aceitar o metalúrgico competente que, mantendo em boa parte o programa econômico do governo dos tucanos, o transformou em sucesso absoluto, sem esquecer de trabalhar com dinamismo e determinação no atendimento aos miseráveis da nação. O que incomoda é o carisma do presidente Lula. O que lhes desespera é a capacidade de um operário, que se transformou em respeitada liderança mundial, ser ouvido com atenção pela comunidade das nações ao mesmo tempo em que consegue permanecer atento às necessidades do povo das periferias e dos grotões, esquecidos e desprezados pelos governos anteriores.

Pesquisas de opinião

O Ibope e o Vox Populi divulgaram ontem pesquisas de intenção de voto à Presidência da República. Nenhuma modificação memorável ou preocupante. Resta apenas a expectativa, diante do fuzilamento diário na mídia com um viés evidente de oposição, dessa situação se manter até o dia 1º de outubro. Muita água ainda vai correr por debaixo desta ponte do tempo.

Fonte: Jornal o Sul do Dia

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