25 setembro 2006

Que cara tem um pedófilo?


por Sidnei Liberal

A prática ilícita revelada nos casos denominados de máfia dos genéricos, das sanguessugas e dos vampiros são práticas semeadas e amplamente alimentadas durante o reinado tucano no Ministério da Saúde. É o que indica, entre outras provas, o inteiro conteúdo do já famoso dossiê desta semana. Entretanto, a mídia tenta esconder este fato atrás da notícia frenética da oferta – feita pelos autores das próprias falcatruas – desse mesmo conjunto de provas do envolvimento de Serra e Alckmin com ilicitudes. São estes os mesmos bandidos que foram acolhidos e generosamente alimentados pela própria estrutura de Serra, então Ministro.

Se, para a imprensa, tem valido como provas a palavra do bandido-empresário, considerado herói desde os primeiros momentos, por que nossa vestal mídia tenta, agora, deixar de fora o Serra, candidato tucano ao governo de São Paulo? Pois o festejado mafioso havia informado à imprensa que na época do tucano tudo era mais fácil. Ou seja, que se aprovava rápido a emenda parlamentar, em razão da densa maioria parlamentar do governo FHC e que, também rapidamente, se liberava a grana no Ministério. Sem falar que – curiosa e sintomática omissão da mídia – foi do Humberto Costa, então Ministro, a iniciativa de apurar os fatos e de bloquear a prática nefasta. Ele está sendo investigado pelo fato de que um auxiliar seu pagou algumas emendas já aprovadas e liberadas ainda na gestão anterior.

Pelo fato de que, neste episódio, os bandidos foram presos por ocultação de provas, vale a pergunta: em que consistem as provas? Não me parece motivo de prisão o ato de ocultar provas que não tenham valor. Esse teor parece, hoje, irrelevante para a grande mídia. Mas não é. Este dossiê é parte das provas das atividades anti-republicanas do tucanato no poder.

Está claro que a Polícia Federal sabe disso tudo e espera-se, pela credibilidade que goza a instituição, que esteja apurando profundamente. Será uma preciosa arma contra os golpistas tucano-pefelista e midiáticos que, irresponsavelmente, já estão anunciando e festejando ações efetivas, impatrióticas, que inviabilizem a governabilidade do segundo mandato.

Pela óptica freudiana, considera-se a afirmação do ego do indivíduo e a segurança de sua relação com o mundo como resultante da constante agressão ou anulação da figura paterna (ou materna). Quanto mais ofensiva essa agressão, melhor. Parece ser essa a regência do comportamento de Heloisa Helena. A senadora-candidata decreta, peremptoriamente, em sua aparição de horário eleitoral, que o conjunto de provas em poder dos bandidos é “um dossiê falso” e condena, tão somente, a tentativa de posse dessas mesmas provas, incriminando diretamente o Planalto. Com isso, faz eco ao frenético barulho midiático destes dias, revelando-se, fisiologicamente, importante força auxiliar da estratégia tucano-pefelista. Sobre a participação do Presidente Lula no processo, usa sua blindagem de mandato de senadora para agredi-lo grosseiramente, sua prática corrente desde a eclosão da atual crise política.

A regência freudiana também se estabelece sobre a figura de Francisco Oliveira, ex-petista, um dos fundadores do PT. Em entrevista generosamente acolhida pela Folha de São Paulo desta quinta-feira, o professor emérito, o filho emancipado do PT, afirma que a tentativa de posse das provas contra Serra e Alckmin é uma tentativa de acabar de forma autoritária com a oposição. Não faz nenhuma referência ao conteúdo do dossiê. A ordem do seu inconsciente para fortalecer e afirmar o seu ego é fazer sangrar a figura paterna do seu partido de origem, no ato agressivo, representado pelo seu líder máximo. Essa postura reforça, como linha auxiliar, inocente-útil, o movimento de reconquista do poder pela tucanalha golpista.

São posturas equivalentes àquelas que diuturnamente desfilam no tristemente decadente Senado Federal em cujas tribunas já não existem nem mais os fantasmas de outrora. São, raríssimas exceções, figuras “bigbrotherianas” que, avidamente, têm buscado o foco midiático que, para nosso alento, não lhes realçará nenhum brilho e, nestes dias, a busca é mais frenética, como se a crise do dossiê fosse a ultima bóia de salvação em face de iminente derrota nas urnas. Nesta quarta-feira, um conhecido senador discursa para um plenário vazio, exibindo a foto de um dos funcionários do Palácio do Planalto e afirmando que a própria cara estampada nos jornais, com a barba por fazer, já o denunciaria como um bandido. Se fosse possível identificar um criminoso por sua cara na foto, qual seria, por exemplo, a cara de um pedófilo? Talvez o senador saiba responder.

O uso repetido da agressão chula e seletiva é uma tentativa de desmoralização das instituições republicanas, quem sabe para banalizar a própria prática da agressão e instituir o geral desrespeito popular contra as autoridades constituídas. Essas práticas têm a decadente regência do ex-cineasta, travestido de jornalista, Arnaldo Jabor, a destilar seu veneno contra o presidente-povo. Esse ex-cineasta, que parou no tempo, escorado em apenas uma obra de mediana qualidade, passa-se à humilde condição de comensal da Rede Globo, culpando a política cultural do governo Collor pela decadência de sua própria inspiração cultural. Pior para ele: deixou de enxergar, enquanto definhava, a lamentar intempéries que assolaram a cultura, principalmente durante os governos Collor e FHC, que os verdadeiros cineastas deram à luz obras de inestimável valor. É, hoje, o cinema brasileiro, sem Jabor e a despeito de Jabor, uma atividade cultural pujante, em qualidade e quantidade, respeitada no mundo inteiro.

Da mesma forma que o cinema brasileiro sem Jabor, a despeito da baixaria da oposição tucano-pefelista e sua linha auxiliar, o povo, sábio, reelegerá Lula. Mesmo que a mídia nos prive de informações como a do título de Estadista do Ano, recebido por Lula esta semana, em Nova Iorque. Reflexo do avanço inexorável da política externa do seu governo e da responsável criação das bases de sustentação para fazer avançar, de forma sustentável, uma política de aproximação de renda entre os muito pobres, que são muitos, e os muito ricos, que são muito poucos. Situação criada por 500 anos de presidentes-não-povo.

Nenhum comentário: