Em mais uma de suas cartas domingueiras, meu amigo Saul Leblon pergunta: porque o PT iria comprar um suposto dossiê com denúncias que já estavam feitas, encaminhadas à Polícia Federal e a uma revista de circulação nacional?
Flávio Aguiar é professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP) e editor da TV Carta Maior.
Meu amigo Saul Leblon continua com suas cartas domingueiras:
“Meu caro Flávio. Eu previra dias atrás que viveríamos momentos irrespiráveis neste final de eleição. Previ certo. Veja este novo caso envolvendo sanguessugas, o ex-ministro da Saúde, uma dupla de vendedores, e uma dupla de compradores que não se sabe ao certo de onde saíram, mais uma pequena montanha de dinheiro pronta para a foto, como aconteceu no caso de Roseana Sarney há quatro anos.
A primeira coisa a notar é que mesma imprensa que tudo fez, há poucos meses, para crucificar o também ex-ministro Humberto Costa, acusado também pelos Vedoin, agora tudo faz para tirar do foco o ex-ministro Serra.
Neste caso, como em outros de igual opacidade. as perguntas são mais interessantes do que as respostas.
Por que o PT iria comprar um suposto dossiê com denúncias que já estavam feitas, já estavam encaminhadas à Polícia Federal e a uma revista de circulação nacional mediante entrevista?
Por que o PT chamaria pessoas de fora para avaliar o conteúdo das fitas e do que mais houvesse no dossiê?
Se fosse verdade que um dos viajantes endinheirados teve contatos e negociações com um assessor da presidência da República, é verossímil que mal se lembre do nome dele, citando-o de forma deformada?
Por que o teor dos interrogatórios num caso supostamente de tamanha gravidade foram logo parar nas mãos de jornalistas? Haverá facções em disputa na própria Polícia Federal? Como diz ditado sertanejo, Deus come com mansura, já o Diabo é que sai lambendo o prato.
Por que, mal se soube do caso, candidatos da oposição já saíram batendo na tecla: “queremos as fotos”?
Bom, pelo menos esta última é de fácil resposta, graças ao caso Roseana. Naquela época a candidata crescia vertiginosamente nas pesquisas, deixando o mesmo ex-ministro da Saúde ora acusado na rabeira, ameaçado de sequer ir para o segundo turno. Numa operação de surpresa, a Polícia Federal invadiu seu escritório, descobriu e fotografou a pilha de dinheiro. Numa outra operação relâmpago as fotos e os detalhes foram para uma revista nacional que saiu praticamente no dia seguinte, e a candidatura de Roseana afundou espetacularmente. Nunca se esclareceu direito como se deu essa conjugação de operações-relâmpago.
Naquele episódio a vítima foi uma só: a candidata. Nesse de agora, os efeitos pretendidos até o momento se parecem mais com os de uma bomba de fragmentação. O primeiro atingido, apesar dos esforços em contrário, é o ex-ministro Serra. Estas denúncias, como tantas outras contra tantas outras pessoas, ficam-lhe cravadas como uma estaca no coração. É só mexer que dói. As fitas e as fotos estão em vasta divulgação pela internet. Como é comum nestes casos, termina acontecendo a deformação de que é o acusado que tem que provar a sua inocência. Ele provavelmente vai continuar favorito nas pesquisas. Mas o paletó fica ensangüentado, não adianta.
A outra vítima pretendida pelo caso é o presidente Luís Inácio Lula da Silva. A acusação contra o assessor Freud Godoy quer arrastá-lo para a foto junto da manchete, e ainda, de quebra, com a terceira vítima, o PT. Dias atrás eu lembrava que quereriam por a digital do presidente Lula até em cadáver, se fosse o caso. Como até agora não apareceu um cadáver adequado, pilha de dinheiro também serve. Só que a foto até agora não saiu, o que está frustrando os corações e as mentes dos mais assanhados nas oposições. O cálculo destes na corrida presidencial ora se restringe a obter mais uns dez milhões de votos para garantir o segundo turno, sobretudo nas classes médias e abastadas, onde o índice de preferência por Lula ainda os incomoda demais.
Essa bomba de fragmentação pode ter várias explicações. Uma delas seria a de uma vasta conspiração visando virar uma eleição que já parece decidida, pelo menos para os mais afoitos. A outra, no meu entender, Flávio, mais provável, é a de uma série de pequenas conspirações com objetivos variados, de obter algum dinheiro em troca de informação classificada, de montar uma cadeia de chantagem contra candidatos, até mesmo a de envolver o nome do Presidente da República em mais um escândalo às vésperas da eleição, que de repente se cristaliza e sai do controle de todo mundo. Pode ser até que o elemento que deflagrou essa precipitação tenha sido mesmo a entrevista dada à revista Isto É, expondo às claras o que já tinha sido noticiado com discrição nas páginas da imprensa conservadora (que estampavam com estardalhaço as denúncias contra Humberto Costa) que o caso de corrupção em tela começou durante o governo anterior, ainda que isso não implique necessariamente a participação de ministro algum. Ou talvez só no de papagaio de pirata.
Bom, Flávio, ficam duas perguntas ainda:
Qual a credibilidade que resta para a palavra dos denunciantes Vedoin?
E, como diziam os romanos, cui prodest? Quem lucra?”
Ah, este velho Leblon e suas perguntas...
“Meu caro Flávio. Eu previra dias atrás que viveríamos momentos irrespiráveis neste final de eleição. Previ certo. Veja este novo caso envolvendo sanguessugas, o ex-ministro da Saúde, uma dupla de vendedores, e uma dupla de compradores que não se sabe ao certo de onde saíram, mais uma pequena montanha de dinheiro pronta para a foto, como aconteceu no caso de Roseana Sarney há quatro anos.
A primeira coisa a notar é que mesma imprensa que tudo fez, há poucos meses, para crucificar o também ex-ministro Humberto Costa, acusado também pelos Vedoin, agora tudo faz para tirar do foco o ex-ministro Serra.
Neste caso, como em outros de igual opacidade. as perguntas são mais interessantes do que as respostas.
Por que o PT iria comprar um suposto dossiê com denúncias que já estavam feitas, já estavam encaminhadas à Polícia Federal e a uma revista de circulação nacional mediante entrevista?
Por que o PT chamaria pessoas de fora para avaliar o conteúdo das fitas e do que mais houvesse no dossiê?
Se fosse verdade que um dos viajantes endinheirados teve contatos e negociações com um assessor da presidência da República, é verossímil que mal se lembre do nome dele, citando-o de forma deformada?
Por que o teor dos interrogatórios num caso supostamente de tamanha gravidade foram logo parar nas mãos de jornalistas? Haverá facções em disputa na própria Polícia Federal? Como diz ditado sertanejo, Deus come com mansura, já o Diabo é que sai lambendo o prato.
Por que, mal se soube do caso, candidatos da oposição já saíram batendo na tecla: “queremos as fotos”?
Bom, pelo menos esta última é de fácil resposta, graças ao caso Roseana. Naquela época a candidata crescia vertiginosamente nas pesquisas, deixando o mesmo ex-ministro da Saúde ora acusado na rabeira, ameaçado de sequer ir para o segundo turno. Numa operação de surpresa, a Polícia Federal invadiu seu escritório, descobriu e fotografou a pilha de dinheiro. Numa outra operação relâmpago as fotos e os detalhes foram para uma revista nacional que saiu praticamente no dia seguinte, e a candidatura de Roseana afundou espetacularmente. Nunca se esclareceu direito como se deu essa conjugação de operações-relâmpago.
Naquele episódio a vítima foi uma só: a candidata. Nesse de agora, os efeitos pretendidos até o momento se parecem mais com os de uma bomba de fragmentação. O primeiro atingido, apesar dos esforços em contrário, é o ex-ministro Serra. Estas denúncias, como tantas outras contra tantas outras pessoas, ficam-lhe cravadas como uma estaca no coração. É só mexer que dói. As fitas e as fotos estão em vasta divulgação pela internet. Como é comum nestes casos, termina acontecendo a deformação de que é o acusado que tem que provar a sua inocência. Ele provavelmente vai continuar favorito nas pesquisas. Mas o paletó fica ensangüentado, não adianta.
A outra vítima pretendida pelo caso é o presidente Luís Inácio Lula da Silva. A acusação contra o assessor Freud Godoy quer arrastá-lo para a foto junto da manchete, e ainda, de quebra, com a terceira vítima, o PT. Dias atrás eu lembrava que quereriam por a digital do presidente Lula até em cadáver, se fosse o caso. Como até agora não apareceu um cadáver adequado, pilha de dinheiro também serve. Só que a foto até agora não saiu, o que está frustrando os corações e as mentes dos mais assanhados nas oposições. O cálculo destes na corrida presidencial ora se restringe a obter mais uns dez milhões de votos para garantir o segundo turno, sobretudo nas classes médias e abastadas, onde o índice de preferência por Lula ainda os incomoda demais.
Essa bomba de fragmentação pode ter várias explicações. Uma delas seria a de uma vasta conspiração visando virar uma eleição que já parece decidida, pelo menos para os mais afoitos. A outra, no meu entender, Flávio, mais provável, é a de uma série de pequenas conspirações com objetivos variados, de obter algum dinheiro em troca de informação classificada, de montar uma cadeia de chantagem contra candidatos, até mesmo a de envolver o nome do Presidente da República em mais um escândalo às vésperas da eleição, que de repente se cristaliza e sai do controle de todo mundo. Pode ser até que o elemento que deflagrou essa precipitação tenha sido mesmo a entrevista dada à revista Isto É, expondo às claras o que já tinha sido noticiado com discrição nas páginas da imprensa conservadora (que estampavam com estardalhaço as denúncias contra Humberto Costa) que o caso de corrupção em tela começou durante o governo anterior, ainda que isso não implique necessariamente a participação de ministro algum. Ou talvez só no de papagaio de pirata.
Bom, Flávio, ficam duas perguntas ainda:
Qual a credibilidade que resta para a palavra dos denunciantes Vedoin?
E, como diziam os romanos, cui prodest? Quem lucra?”
Ah, este velho Leblon e suas perguntas...
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