22 setembro 2006

A chantagem da oposição


Arlindo Chinaglia

Os ataques grosseiros e injustos a Lula traduzem o espírito antidemocrático e de derrota eleitoral que se abate sobre a oposição.

A CRISE desencadeada pelo caso dos sanguessugas suscita diferentes reflexões. Mas o fato inegável e inquestionável é que quem investigou e puniu foi a Polícia Federal deste governo. O escândalo das ambulâncias começou e prosperou sob a guarda do governo FHC. Foi agora desbaratado, mas, infelizmente, por ação de alguns incautos, acabou respingando no PT.
Os responsáveis pela "operação dossiê" devem ser responsabilizados, e o envolvimento de tucanos também deve ser rigorosamente apurado. O presidente Lula, que condenou publicamente a "operação dossiê" por convicções pessoais e por considerá-la prejudicial ao processo democrático, determinou que as investigações sejam feitas em todas as direções, com todo o rigor e sem poupar nenhum partido ou pessoa.
O momento eleitoral leva a oposição a tentar usar o episódio para atingir o presidente Lula. Os ataques grosseiros e injustos feitos ao presidente, neste e em outros episódios, traduzem, acima de tudo, o espírito antidemocrático e de derrota eleitoral que se abate sobre a oposição.
A insistência em cassar a candidatura de Lula e em promover impeachment revela uma concepção e é sinal de ocaso político e da razão de alguns oposicionistas.
O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, diz que o presidente vai ter de provar que nada sabia, invertendo o ônus da prova e revelando seu viés autoritário e antidemocrático. O presidente do PSDB não suporta ver seu candidato ao governo de seu Estado preferir a companhia de Lula na disputa eleitoral à de Geraldo Alckmin. E não sabe se defende o ex-presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, ou se concorda com FHC -que, do exterior, tem vociferado ataques, certamente temendo comparações entre o êxito do governo Lula e os desacertos de seus oito anos de reinado.
Martelam o tema corrupção, mas é o governo Lula que tem combatido implacavelmente esse crônico mal nacional, desmantelando redes criminosas que operavam há décadas ou que surgiram e cresceram a partir do governo PSDB e PFL e durante ele.
A Polícia Federal, a Controladoria Geral da União e o Ministério Público atuam de forma independente. Talvez por atingirem interesses de certos setores da elite, boa parte encastelados no governo FHC, essas ações geram atitudes destemperadas da oposição, como a defesa apaixonada da Daslu no Congresso Nacional.
O episódio do dossiê tem sido usado de maneira leviana contra Lula. Se alguns erraram, que sejam punidos, mas não se deve envolver o presidente da República: por que ele iria usar tal expediente se as pesquisas o apontam como vitorioso no primeiro turno? E não o fez nem quando não desfrutava de vantagens em outros processos eleitorais nem quando foi vítima de sórdidos ataques pessoais. Hoje, as acusações descoladas dos fatos indicam uma última cartada da oposição para tentar ganhar as eleições.
A oposição acusa Lula e finge que não existem acusações envolvendo nomes do PSDB. Se a oposição dá crédito a qualquer afirmação contra o governo, teria de dar crédito às acusações dos Vedoin aos ex-ministros da Saúde José Serra e Barjas Negri.
Há mais de um ano e meio a oposição tenta atribuir a Lula responsabilidades que não são dele. O PSDB e o PFL sabem que não existe ação para praticar o crime, e sim para desvendá-lo. Daí a tentativa de misturar tudo num só cesto: militantes do PT com ações do governo, embora seja ridículo imaginar que queira atacar alguém com quem não disputa a eleição.
A exploração política do caso, com distorções e apelos golpistas, é um desserviço à democracia e um atentado à inteligência do povo brasileiro, que decide seu voto ao analisar partidos, pessoas e programas e comparar os feitos de um governo e de outro.
O viés neo-udenista do PSDB e do PFL, ao atemorizar a população com ameaças e impeachment, revela destempero, desespero e tentativa de criar uma reversão do processo eleitoral. Em vez de pedir a apuração dos fatos, ameaça. A mensagem é: Lula não pode ganhar, e, se ganhar, não leva. Qual o medo que têm? Da verdade surgir à tona? De perderem poder e privilégios?
A manipulação do caso, de maneira escandalosa, a poucos dias das eleições, é uma tentativa inútil de mudar o resultado do pleito que se avizinha. O que a oposição parece querer é um simulacro de democracia, na qual apenas sua opinião e seus interesses prevaleçam na estrutura de poder mantida há séculos no país.
Em minha opinião, o que interessa à sociedade é a investigação profunda e o julgamento e punição dos envolvidos. Para isso, é fundamental o comportamento isento de quem investiga e de quem julga.

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