29 setembro 2006

O debate que a Globo perdeu



Por Pedro de Oliveira


A Rede Globo de Televisão havia preparado no detalhe o que poderia ter sido o último debate significativo entre os principais candidatos à presidência da República nesta campanha eleitoral. Mas, ao final, perdeu o eleitorado brasileiro e perdeu a rede Globo de televisão, fruto de sua linha editorial engajada explicitamente na campanha de um dos candidatos.

Desde a arrumação do cenário, em que os candidatos ficavam o tempo todo sendo monitorados pelo apresentador Willian Bonner, ao invés do tradicional formato onde os candidatos ficam em seus respectivos lugares perguntando e respondendo às questões apresentadas, ficou evidente o poder que hoje a TV Globo exerce na tentativa da construção da subjetividade e da consciência da população brasileira. O presidente Lula, candidato à reeleição (PT-PCdoB-PRB), não compareceu, enviando uma mensagem à emissora onde argumenta com "grau de virulência e desespero de alguns adversários".

O histórico da Rede Globo nestes debates presidenciais é rico em exemplos de falta de isenção. Nas eleições de 1989, a edição feita na edição do Jornal Hoje, no início da tarde, edição feita sob responsabilidade do jornalista Francisco Pinheiro, foi possível se assistir a um verdadeiro retrato do que acontecera no debate final da campanha exibido na noite anterior. À noite, entretanto, a edição foi totalmente manipulada, quando a emissora deu a sua versão do que ocorrera, sendo que o jornalista do Jornal Hoje, o Pinheirinho, acabou sendo convidado a se demitir, como aconteceu recentemente com o comentarista Franklin Martins.

Durante esta campanha eleitoral, certamente mais do que em qualquer outra, a mídia grande com poucas exceções fez campanha sistemática em prol de seu candidato, Geraldo Alckmin (PSDB-PFL). E os outros candidatos presentes, Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT), se superaram em aleivosias e desrespeito a Lula. Heloísa xingou o presidente de ladrão, de criminoso, chefe de quadrilha. O ex-ministro da Educação do próprio governo Lula chegou ao ponto de sugerir, em uma de suas perguntas à cadeira vazia durante o debate, que o presidente Lula se reeleito, renunciasse se hovesse algum indício de ligação da compra dos dossiês com a sua campanha.

O debate se transformou, assim, num verdadeiro tiroteio contra Lula. Da primeira pergunta, de Cristovam, ao pronunciamento final, de Alckmin, pouco se debateu em relação às propostas. Acordos prévios capitaneados por assessores do candidato pelo consórcio PSDB/PFL, foram noticiados pela imprensa, tentando articular uma ação conjunta dos três candidatos contra o presidente.

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