21 setembro 2006

Divertir, instruir e informar



Sou do interior do Espírito Santo, tempo em que o único meio de comunicação que tínhamos era o rádio. Era através dele que ficávamos sabendo dos acontecimentos no mundo, nos divertíamos com os programas humorísticos, torcíamos por nosso clube preferido e ouvíamos os últimos sucessos musicais.

As próprias emissoras faziam questão de reforçar diariamente sua função principal, divertir, instruir e informar.

Acreditávamos e maldizíamos a pontaria do centroavante do nosso time pelas palavras do speaker, que nos fazia imaginar que a bola raspou o travessão do adversário, pela parada de sucesso no final de semana sabíamos qual a música mais tocada ou mais vendida, não conhecíamos o jabá, ninguém colocaria em dúvida a credibilidade do Repórter ESSO e quantas gargalhadas arrancaram os programas de humor.

Acreditávamos no que ouvíamos porque era a única fonte de informação de que dispúnhamos, e isto nos deixava satisfeitos, se éramos manipulados, não sabíamos.

Acredito que décadas depois as premissas básicas da imprensa, hoje, mídia, não mudou.

Divertir, instruir e informar.

Mudamos nós como receptores de informações, mudou a mídia com o aparecimento de novos veículos, mudaram os receptores com fácil acesso às informações, mudaram as pessoas responsáveis pela veiculação dos materiais, só que para pior, porque hoje sabemos quando tentam nos manipular, pior ainda é o fato de que essas pessoas ainda não se conscientizaram disso e não mudaram a forma de agir.

Como estaria nesse contexto a maior Organização de informações do país, as Organizações Globo?

Divertir

Um humor de péssimo gosto que sobrevive as custa da incapacidade das concorrentes. Um Faustão que deseduca, uma Zorra Total que o nome reflete a qualidade do programa, salvava-se parcialmente o Casseta e Planeta que perdeu com a morte de um de seus componentes o pouco de criatividade que tinha.

As tão faladas novelas da Vênus Platinada, na passam de um antro de prostituição de escritores em nome do faturamento pela audiência a qualquer custo, na ânsia de dar ao telespectador o que ele quer ver, não o que o eduque.

Isto é divertimento ou alienação?

Instruir

Não acredito em instrução comprometida e direcionada. Educar é uma vocação é uma missão, e isto só existe nas pessoas de boa fé. O que esta organização faz é uma troca de benefícios baseada nos incentivos governamentais. O Criança Esperança, talvez seja o seu maior exemplo de lucro fácil sem nenhum desembolso e um enorme ganho na mídia social com o aval da UNICEF.

Informar

Esta premissa deveria ser substituída por manipular e desinformar.

Tendo o seu poderio como fruto de negociações discutíveis e duvidosas no período militar[1], que continua até hoje via crias da ditadura, jamais conseguirá se desvincular de um grupo minoritário que a utiliza como forma de se manter no poder, o que certamente não lhe é interessante colocar em jogo. O seu jornalismo decadente tem objetivos claros e definidos, o que mais impressiona é capacidade de cooptação, certamente com altos salários, de profissionais que tentam mostrar ética e moral, os que não se enquadram, são excluídos. Basta lembrar recentemente o caso de Franklin Martins. Acho muito difícil ter credibilidade em bases promíscuas com o que há de mais podre na vida política nacional.

A citação das Organizações Globo é apenas um exemplo de que jamais teremos uma mídia livre e democrática. Não é desconhecido o passado da Folha de São Paulo na conivência com o regime militar, a Veja que hoje tem como parceiro uma empresa que tinha o apartheid como linha editorial na África do Sul, o Estadão totalmente comprometido com um grupo de passado no mínimo duvidoso e muitos outros, que pode muito bem ser tema para um livro, não para um pequeno espaço como este.

Este talvez tenha sido o maior erro do programa de governo Lula, propor uma revisão nas concessões públicas, afim de democratiza-las. Isto pode trazer à tona uma das fases mais indecentes da promiscuidade do regime militar com o que há de mais nojento de políticos que se beneficiaram com a venda e deduragem de compatriotas em troca do poder.

Após décadas passadas, a única esperança que nos resta é a de que cada vez mais os receptores se incluam entre os conscientes e que consigam enxergar o que significaria para o país, uma mídia independente e democrática e que possa de forma livre, divertir, instruir e informar.

[1] Para melhor informação Ver ‘A História Secreta da Rede Globo – Daniel Heiz

Paulo Nolasco de Andrade

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