24 setembro 2006

CARTA ABERTA À REDE GLOBO E AOS MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL ELEITORAL, no Brasil-2006



O Jornal da Globo está apresentando uma série “Os pecados capitais da política” – que faz pensar no mais ensandecido macartismo, e dos brabos.

Pelo que se está vendo, contudo, não é macartismo anticomunista; ou, pelo menos, não é macartistmo ‘só’ anticomunista; o macartismo da Globo é hoje, literalmente, macartismo contra a política.

Pior: é macartismo contra O VOTO DEMOCRÁTICO dos brasileiros. Pior de tudo: é macartismo contra a política democrática.

É horrorosamente evidente, na série “Os pecados capitais da política” que, para a rede Globo, a democracia é uma espécie de Gomorra: só um dilúvio tucano-pefelista... lavaria tanto pecado. E o 'pecador', para a Rede Globo, somos EU e o MEU VOTO DEMOCRÁTICO.

Por sorte da democracia brasileira, a arca é fajuta, e faz plim-plim. E o Noé, fajutíssimo, é... William Waack. Mas, sim, lá está a Globo, outra vez, obrando livremente em propaganda fascista... da mais obtusa e fanática, dessas de fazer corar Goebbels. De quebra, semeadas subliminalmente na montagem fascista do programa fascista... imagens de políticos petistas.

A série "Os pecados capitais da política" é de fazer vomitar qualquer alma democrática – e, de fato, tanto faz que seja alma petista ou tucana. Há bons democratas entre os tucanos, é claro; há almas democráticas (em menor número, é verdade) até entre os pefelistas.

Qualquer alma democrática vomitará (ou morrerá de vergonha), à vista da série “Os pecados capitais da política”, do Jornal da Globo. Gabeira, se tivesse ainda alguma vergonha na cara, também vomitaria.

E essa série de propaganda fascista, comandada por William Waack, está programada, fascistamente, para ir ao ar durante toda a última semana antes das eleições da semana que vem.

Propaganda política ILEGAL e (pior!) totalmente INCONTABILIZÁVEL


O que se vê, nessa escandalosa operação de propaganda fascista apresentada por William Waack, no Jornal da Globo, é PROVA de que está ativado, no Brasil, um movimento de propaganda eleitoral TOTALMENTE ILEGAL, ao mesmo tempo em que é TOTALMENTE incontabilizável.

Enquanto isso, o perfeitamente ridículo ministro presidente do Superior Tribunal Eleitoral confraterniza com Himmler em pessoa, digo, com o Senador Bornhausen... ambos decididos, pelo que se vê, a acabar com a raça do MEU VOTO DEMOCRÁTICO.

William Waack odeia voto!

Que William Waack odeia voto, não pode caber mais, hoje, nenhuma dúvida.

Há alguma coisa de ‘formação’ nisso: William Wack é enteado de Oliveiros Ferreira[1], conhecido pensador da direita brasileira e espécie de alma gêmea dos vários Mesquitas que passaram por O Estado de S.Paulo durante os 50 anos em que Oliveiros Ferreira lá trabalhou (de 1953 a 2000), e onde foi de repórter a diretor.

Mas há também, nisso, alguma coisa, bem suja, de fanatismo macartista anticomunista – de fato, no Brasil, hoje, ‘só’, declaradamente, fanatismo macartista contra a democracia. Não há dúvidas disso.

William Waack é autor do livro Camaradas (São Paulo: Companhia das Letras/Biblioteca do Exército, 1993), livro de fanático anticomunista, sobre a levante comunista de 1935 no Brasil, com pesquisa em documentos inéditos, na URSS.

Pouco importa que o documento seja 'inédito': o que importa é que seja JORNALISMO DEMOCRÁTICO!

Esse negócio de “documento inédito”, pra início de conversa, quase sempre é pura arapuca, ou é pura marketação.

William Waack não é pesquisador treinado em pesquisa histórica. Pior: William Waack é anticomunista SUPER enlouquecido, desses que, se encontrar um botão de jaquetão, num canto do mausoléu de Lênin, por-se-á a berrar: “Encontrado perigosíssimo botão comunista, em mausoléu suspeito!”

Para dois especialistas em estudos sobre o levante comunista de 1935, no Brasil, o livro de William Waack é exatamente isso: gritaria de quem acha que os arquivos da KGB são repositório de botões perigosíssimos; quer dizer, o livro de Waack é conversê fiado de fanático anticomunista.

“Uma visão profundamente equivocada”

Para Marly de Almeida Gomes Vianna[2], “muitas das colocações do autor, largamente anunciadas como novidades, ou não o são, ou não são verdadeiras, ou carecem de importância para conhecer os acontecimentos de novembro de 1935”.[3] O principal vício do livro, contudo, é que “o autor acredita que seja possível explicar importantes episódios da vida nacional por motivações situadas exclusivamente fora do Brasil. (...) O Brasil não é personagem de Waack, que não conhece a importante bibliografia que já temos, sobre a Internacional Comunista”. Para Waack, “os revolucionários brasileiros transformam-se, nas páginas de Camaradas, em fantoches que só se movimentam quando Moscou puxa suas cordinhas. Waack chega a ponto de afirmar que boa parte do fracasso das insurreições de 35 foi devida à falta de comunicação com Moscou” (Waack, 1993, p. 204).

A pesquisadora continua: “A indisfarçável ira do autor contra os comunistas, em especial contra Prestes, levam-no a difundir patranhas que não fazem jus ao seu alardeado talento de jornalista. Waack chega a aceitar como verdadeiros os "planos de uma insurreição comunista no Brasil, elaborados por Moscou", publicados por O Globo, no final de junho de 1935, espécie de treinamento para o futuro Plano Cohen, que nem o governo, à época, teve coragem de sustentar”.

No livro, Waack requenta e finge documentar, dentre outras fantasias, a fantasia do famoso "ouro de Moscou" – que já era piada em 1935 e é arquipiada em 2006.

Para William Waack, ‘jornalista’, “Góis Monteiro é considerado ‘brilhante’; e – diz a pesquisadora – “os comunistas são boas-vidas, oportunistas, cínicos, debochados, subservientes, preocupados principalmente em gastar e pagar as contas.” A visão de William Waack, sobre os comunistas de 1935 é, ainda em 1993, “uma visão profundamente equivocada.”

“Compulsivas sandices anticomunistas”

Para o Professor João Quartim de Moraes, historiador e pesquisador da Unicamp, e homem que não tem papas na língua, a coisa é mais simples ainda: “No lugar de generais e coronéis lendo sinistros comunicados, a cena foi ocupada pelos anti-comunistas de plantão na imprensa e na universidade. O “comunicador” William Waack (cujo livro, de título ainda mais tolo do que pomposo, injuria a inteligência dos brasileiros), parece ter retomado suas compulsivas sandices anti-comunistas.”[4]

E isso, vale lembrar, foi escrito quase 10 anos antes de William Waack pôr-se lá, como estava ontem – e estará todos os dias, até a véspera das eleições-2006 –, a esbravejar contra a ‘luxúria’ na política (na 5ª feira), a ‘soberba’ na politica (na 6ª feira), já anunciando a ‘gula’ na política, para 2ª feira! Só, e sempre, compulsivas sandices antidemocráticas, desse William Waack fascista!

E prossegue o Prof. Quartim de Moraes: "Waack pretende confirmar a principal acusação contra Prestes e seus camaradas: a de que agiram por ordem e a serviço de Moscou. Para ‘demonstrar’ isso, Waack exibe, dentre outras ‘evidências’, a ‘revelação’ de que o Café Paraventi serviu de fachada legal para agentes soviéticos.

O tom de William Waack é dramático (seja no livro, seja na propaganda fascista, no Jornal da Globo, ontem): “o fantasma de Stalin” (da luxúria, em 2006), “de Manuilski” (da soberba, em 2006); os "astutos, inescrupulosos e implacáveis" chefes do Komintern (do PT, em 2006). Ou é a "inquisidora-mor do Komintern" (a deputada Angela Guadagnin, em 2006). Ou é "antipática, malcuidada, mal-vestida e mal-intencionada" (ou a tal “inquisidora-mor do Komintern (Waack, 1993, p. 323)... ou a Ministra Dilma Roussef (em 2006).

E o Prof. Quartim de Moraes conclui, em conclusão que se aplica perfeitamente, seja ao livro de Waack, anticomunista doentio, seja a abjeta série “Os pecados da Política”, da Rede Globo, em 2006, apresentado pelo mesmo William Waack:

“Os documentos que Waack cita, como o tom de seu escrito, sugerem sobretudo um zelo fanático.”[5]

Já não há juízes em Brasília?! Enlouqueceram todos?!

A Rede Globo é livre pra publicar o que lhe dê na telha. OK. A imprensa não tem de ser justa; a imprensa tem de ser livre. OK.

Mas... e cadê o Ministério Público? Cadê os juízes eleitorais? Cadê, afinal, alguém – qualquer um! – que se apresente para defender o direito do telespectador brasileiro de ser PROTEGIDO, contra todos os fanatismos e contra todos os fascismos, e de ser ensinado a votar CONSCIENTEMENTE E DEMOCRATICAMENTE?!

A Rede Globo pode, sim, publicar o que bem entenda, como bem entenda. Mas...

... é preciso prender William Waack, esse doido fascista!

É TOTALMENTE intolerável que os telespectadores brasileiros sejamos expostos, sem nenhuma defesa, sem nenhuma chance de resposta e contraditório democrático, à mais torpe propaganda fascista, antidemocrática e anticivilizacional.

Onde e quando nenhum jornalista e nenhuma empresa jornalística brasileira dê qualquer sinal de que se envergonha do que faz – mesmo quando opere uma escandalosa manobra para manipular a boa fé dos telespectadores, e ponha-se a ensinar fascismo, em vez de ensinar democracia aos brasileiros --, é imperioso que a própria sociedade brasileira convoque seus juízes e a sua Polícia.

É preciso PRENDER William Waack – por prática de propaganda fascista!

É preciso metê-lo na cadeia antes de 2ª feira, às 23h. Esse, precisamente, é o horário anunciado para mais um episódio de “Macartismo na Rede Globo”, no Jornal da Globo.

É preciso impedir que essa série “Pecados capitais na política” seja mostrada a mais brasileiros eleitores... antes de que William Waack acabe de enlouquecer, de vez, TODO MUNDO, no Brasil-2006.

NOTAS

[1] Ricardo Kotscho, Do Golpe ao Planalto, 2006, São Paulo: Companhia das Letras, p. 62.

[2] Marly de Almeida Gomes Vianna é professora adjunta de História do Departamento de Ciências Sociais da Universidades Federal de São Carlos.

[3] Marly de Almeida Gomes Vianna. “Malvados Camaradas”, em Revista da Fundação Perseu Abramo, n. 23, 2/3/1994, na Internet, aqui.

[4] João Quartim de Moraes, “Os cães ladram, a caravana passa”, em Portal Vermelho, 23/11/2005, na Internet aqui.

[5] João Quartim de Moraes, Resenha de Camaradas, 1994, na Revista Sociologia e Política, n. 2, 1994, aqui.

Caia Fittipaldi

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