13 setembro 2006

Datafolha: Alckmin pode continuar tirando votos de Lula?

Por Franklin Martins


A nova pesquisa do Datafolha, fechada ontem, capta um quadro de estabilidade na disputa presidencial. Lula tem 50% das intenções de voto, contra 51% na semana passada – perdeu um pontinho; Alckmin subiu um ponto, indo de 27% para 28%.

Já Heloísa Helena, Cristovam e Ana Maria Rangel permaneceram exatamente onde estavam, com 9%, 1% e 1%, respectivamente. Se as eleições fossem hoje, Lula continuaria vencendo com folga no primeiro turno, com 56% dos votos válidos, contra 44% de todos os seus adversários somados.

Embora as oscilações de Lula e de Alckmin tenham se dado dentro da margem de erro da pesquisa (2 pontos), o mais provável é que essas movimentações tenham efetivamente ocorrido. É claro que isso é positivo para o candidato tucano, que, para levar a disputa para o segundo turno, precisa crescer tomando votos de Lula – e não de Heloísa Helena, como vinha ocorrendo até agora. Mas não chega a ser uma notícia espetacular. Primeiro, porque, nesse ritmo, Alckmin precisaria de seis semanas para forçar o segundo turno – e faltam menos de três até as eleições. Segundo, porque nada garante que ligeiras oscilações favoráveis ao tucano e contrárias ao petista venham a se repetir nas próximas semanas. Pelo menos é o que se depreende da leitura mais detalhada dos números do Datafolha.

O ligeiro crescimento de Alckmin e a pequena queda de Lula nos últimos dias devem-se basicamente às fortes alterações nas intenções de voto dos setores com maior renda e mais escolaridade, um sinal de que a passagem da campanha do tucano para uma fase mais agressiva levou-o a recuperar terreno nessas faixas. Em apenas sete dias, Alckmin subiu 14 pontos entre os que ganham mais de 10 salários mínimos (foi de 38% para 52%), enquanto Lula perdeu 10 pontos (caiu de 35% para 25%). No segmento dos eleitores que tem renda mensal entre 5 e 10 SM, as oscilações forma mais suaves: Alckmin passou de 34% para 39% e Lula caiu de 41% para 36%. Porém, nos demais segmentos, entre os eleitores que ganham abaixo de 5 SM, o quadro não se mexeu. Permaneceu absolutamente estável.

Ou seja, repetiu-se o que já aconteceu em momentos anteriores desta campanha: a classe C não foi afetada pelo discurso agressivo da oposição e terminou funcionado como uma espécie de dique que impediu que a opinião majoritária na classe média se propagasse para o povão.

Como a faixa que ganha acima de 10 SM não chega a 5% do eleitorado, seu peso no quadro geral é muito limitado. Ela não tem massa crítica para sustentar uma virada, tanto que, se Alckmin tomasse todos os votos de Lula na classe A – uma hipótese absurda, é claro –, o petista perderia apenas mais um ponto e o tucano somaria outro no cômputo geral. É verdade que, na classe B, que ganha entre 5 e 10 SM e corresponde a 10% do eleitorado, as mudanças de intenção de voto têm impacto maior na disputa presidencial, mas o piso de Lula nesse segmento é bem mais consistente do que na classe A.

Tudo somado, para virar o jogo e forçar um segundo turno, Alckmin precisaria tomar votos de Lula em grande quantidade nos próximos 18 dias. E, para isso, necessitaria quebrar o bloqueio da classe C e entrar no povão. Sem sangrar os votos de Lula nas classes C, D e E, que, juntas, reúnem 85% dos eleitores, Alckmin estará derrotado no dia 1º de outubro.

É um desafio e tanto para o tucano. E o tempo está passando ...

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