05 setembro 2006

MÉXICO INSURRETO

Laerte Braga

É impressionante o silêncio da mídia brasileira sobre a situação vivida pelo México. Uma fraude eleitoral determinou a vitória do candidato norte-americano, Felipe Calderon. Pelo menos um milhão e duzentos mil mexicanos, na cidade do México, capital do país, estão em permanente mobilização.

Não aceitam a impostura de um governador-geral determinada pelos Estados Unidos. Querem que seja proclamada a vitória do candidato Lopez Obrador. A Justiça mexicana, a suprema corte eleitoral, reconheceu parte da fraude. Não quis estender a recontagem de votos a todo o processo viciado em várias seções eleitorais, lógico, parte de um sistema podre, corrupto e que transformou o México em colônia norte-americana.

Como admitir, na cabeça do terrorista George Bush, que a esquerda vença as eleições no México? Pais fronteiriço com os EUA.

A falência do modelo democrático exportado por Washington é visível em quase todos os países onde as garras do IV Reich se esparramaram.

O Iraque está mergulhado em guerra civil e cada vez mais as tropas invasoras percebem o atoleiro em que se meteram. Torturam, saqueiam, estupram e promovem deslavada espoliação do Iraque.

No Afeganistão cresce a produção de ópio desde a invasão do país pelos Estados Unidos camuflados de OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte).

A Colômbia e o Paraguai são, literalmente, colônias dos EUA na América do Sul. O relatório da CIA (Agência Central de Inteligência) que fala em terrorismo no chamado cone sul dessa parte da América é apenas a cunha para consolidar o cerco a países como o Brasil. Farsa montada no velho estilo da Casa Branca. Criar assombrações para justificar o terrorismo de mercado. O mercado deles.

A Amazônia já está parcialmente ocupada e querem agora o sul a pretexto de combater terroristas palestinos.

Interferem nas eleições na Guatemala. Proclamam que vão levar “democracia” a Cuba, intentam derrubar o governo do presidente venezuelano Hugo Chávez e ameaçam o Irã. Não querem aceitar o programa nuclear iraniano.

Americano adora aquele ritual de abertura da bolsa de valores em Wall Street, New York. Tem quem fique babando, tem quem tenha orgasmos múltiplos, tem que se comova às lágrimas com o triunfo do mercado sobre o ser humano.

A democracia no modelo que exportam e vendem ao mundo atende apenas às conveniências e interesses diretos do império. Quando foi necessário exportaram ditaduras. Em período não tão distante assim, pelo contrário.

É lógico que a produção de ópio cresce no Afeganistão, como é evidente que vão atribuir ao Talebã o apoio aos plantadores e traficantes. Na prática o que acontece é diferente. Atrás das grandes empresas dos EUA, dos interesses dos grandes bancos e grupos econômicos, chegam às máfias.

Não há diferença entre a GM ou o City Bank e a Cosa Nostra. Exportar carros, emprestar dólares, ou vender ópio, isso é parte dos “negócios”.

É só o modus operandi do capitalismo em sua versão neoliberal.

O que acontece no México é um exemplo da importância da luta popular e da desimportância do institucional.

É ilusão acreditar que vamos chegar a caminhos de uma democracia popular pela via das eleições. A dita via democrática. Desde que inventaram o tal de “marketing” e assumiram o controle dos veículos de informações em países como o Brasil, os caras operam do jeito que querem.

Da mesma forma que William Bonner aqui trata os telespectadores como um bando de “Homer Simpson”, os de lá também o fazem. É só lembrar o golpe contra Chávez em abril de 2002.

O que está acontecendo no México é um golpe. Se no século XIX tomaram regiões como o Texas, a Califórnia e outras através de guerras, agora mudaram os instrumentos. Chegam e ocupam países trazendo debaixo do colete a tal democracia.

A resistência de Lopez Obrador e dos mexicanos está a mostrar que o caminho para sobreviver não passa por essa democracia.

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