Da Daslu à Rocinha
Quem quiser entender a provável vitória de Lula, não deve se dirigir aos ensaios que tentam decifrar os desígnios do povo brasileiro, menos ainda a cartas como a do ex-presidente FHC. As palavras não permitem captar realidades que algumas imagens se mostram muito mais efetivas para decifrar.
O texto do JB de quinta-feira passada sobre a visita de Alckmin à Rocinha é um flagrante que possibilita entender melhor o desencontro da candidatura que representa diretamente as elites paulistas com o Brasil realmente existente. A chamada da primeira página já aponta o essencial: “Rocinha ignora Alckmin”. Os dados reiteram essa atitude dos mais pobres – a grande maioria da população do Rio e do Brasil: esse setor representa apenas 10% dos que votam no candidato tucano, embora componham a grande maioria da população.
Nas quatro horas em que sentiu a apatia da população da Rocinha – que em grande parte sequer o conhecia como candidato -, foi acompanhado por sua filha, Sophia, que a matéria reproduz em foto. Nela, a ex-gerente da Daslu exibe uma bolsa de cintura da grife italiana Prada, que custa 1.500 reais - isto é, como destaca a matéria - cinco vezes um aluguel na Rocinha. Antes de integrar-se à campanha do pai, diz o texto, que Sophia passou uma temporada em Los Angeles para aprimorar o inglês. (sic)
O que mais seria necessário para explicar o desencontro entre o candidato tucano e o voto popular, entre a elite paulista e os sentimentos do povo brasileiro?
O governo FHC teria representando o encontro entre eles e as necessidades do povo. O diagnóstico de que “a inflação é um imposto aos pobres” e a forma como a estabilidade monetária aparentemente abriu as portas do acesso ao consumo a tanto tempo desejado de parte da população pobre do Brasil, parecia promover esse encontro. No entanto, rapidamente se viu a quem beneficiava centralmente o Plano Real: aos bancos, que viram promovida fortemente sua ascensão a setor hegemônico na economia, com o papel central que o capital financeiro passou a desempenhar, além de receber, de troca, o Proer.
A quebra da economia do país em três oportunidades durante o governo FHC, a multiplicação do endividamento público em onze vezes mais – especialmente grave para quem dizia que “o Estado gasta muito, o Estado gasta mal” – e a acentuação das desigualdades e injustiças sociais – que fizeram com que FHC tenha saído do governo com o alto índice de rejeição que ainda porta e a pecha de “governante dos ricos” – levaram o governo tucano ao fracasso e à derrota em 2002.
Sem haver entendido nada disso, o candidato tucano se lançou com o mote do “choque de gestão” – similar ao que bloqueou a candidatura de Mario Covas em 1989, com seu “choque de capitalismo”. Falta de consciência de que o problema central do país é de caráter social, o que impediu compreender que o fracasso do governo FHC e a rejeição que este carrega, tem a ver com a incapacidade de enfrentar minimamente a pobreza, a miséria, a exclusão social, a desigualdade e a injustiça social. A elite tucana está mais para a Daslu do que para a Rocinha. Quem não entender isso, não entenderá a expressão da vontade popular através do voto.
Emir Sade
O texto do JB de quinta-feira passada sobre a visita de Alckmin à Rocinha é um flagrante que possibilita entender melhor o desencontro da candidatura que representa diretamente as elites paulistas com o Brasil realmente existente. A chamada da primeira página já aponta o essencial: “Rocinha ignora Alckmin”. Os dados reiteram essa atitude dos mais pobres – a grande maioria da população do Rio e do Brasil: esse setor representa apenas 10% dos que votam no candidato tucano, embora componham a grande maioria da população.
Nas quatro horas em que sentiu a apatia da população da Rocinha – que em grande parte sequer o conhecia como candidato -, foi acompanhado por sua filha, Sophia, que a matéria reproduz em foto. Nela, a ex-gerente da Daslu exibe uma bolsa de cintura da grife italiana Prada, que custa 1.500 reais - isto é, como destaca a matéria - cinco vezes um aluguel na Rocinha. Antes de integrar-se à campanha do pai, diz o texto, que Sophia passou uma temporada em Los Angeles para aprimorar o inglês. (sic)
O que mais seria necessário para explicar o desencontro entre o candidato tucano e o voto popular, entre a elite paulista e os sentimentos do povo brasileiro?
O governo FHC teria representando o encontro entre eles e as necessidades do povo. O diagnóstico de que “a inflação é um imposto aos pobres” e a forma como a estabilidade monetária aparentemente abriu as portas do acesso ao consumo a tanto tempo desejado de parte da população pobre do Brasil, parecia promover esse encontro. No entanto, rapidamente se viu a quem beneficiava centralmente o Plano Real: aos bancos, que viram promovida fortemente sua ascensão a setor hegemônico na economia, com o papel central que o capital financeiro passou a desempenhar, além de receber, de troca, o Proer.
A quebra da economia do país em três oportunidades durante o governo FHC, a multiplicação do endividamento público em onze vezes mais – especialmente grave para quem dizia que “o Estado gasta muito, o Estado gasta mal” – e a acentuação das desigualdades e injustiças sociais – que fizeram com que FHC tenha saído do governo com o alto índice de rejeição que ainda porta e a pecha de “governante dos ricos” – levaram o governo tucano ao fracasso e à derrota em 2002.
Sem haver entendido nada disso, o candidato tucano se lançou com o mote do “choque de gestão” – similar ao que bloqueou a candidatura de Mario Covas em 1989, com seu “choque de capitalismo”. Falta de consciência de que o problema central do país é de caráter social, o que impediu compreender que o fracasso do governo FHC e a rejeição que este carrega, tem a ver com a incapacidade de enfrentar minimamente a pobreza, a miséria, a exclusão social, a desigualdade e a injustiça social. A elite tucana está mais para a Daslu do que para a Rocinha. Quem não entender isso, não entenderá a expressão da vontade popular através do voto.
Emir Sade
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