18 setembro 2006

Na reta final, a campanha esquenta para valer


Franklin Martins

Aqueles que andavam reclamando de que a atual campanha eleitoral é uma das mais desenxabidas de toda a nossa história, podem arquivar as lamúrias. A julgar pelo que se viu e ouviu nos últimos três dias, o que não vai faltar nesta reta final são emoções.

Esqueçam o Lulinha, paz e amor. Seguro de que tem a vitória nas mãos já no primeiro turno, o presidente pintou-se para a guerra e resolveu partir com tudo para cima da oposição. ACM é “o hamster do Nordeste; o neto dele, um “nanico que não agüenta um sopro”; os tucanos, “aves predadoras, de bela plumagem e belo bico, que comem os ovos dos outros passarinhos”. João Ferrador não faria melhor – Ferrador era o personagem-símbolo do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo que, de cara feia, resmungava para todo mundo “hoje eu não tô bom”.

Esqueçam o Geraldo zen. Perdido por dez, perdido por mil, deve estar pensando o candidato tucano. E, por isso, destravou a língua de uma vez e agora não passa um dia sem desancar o adversário. Ontem, pegou pesado. Chamou-o de arrogante por achar que já ganhou a eleição. E acusou-o de usar “salto 15”, em vez de calçar as “sandálias da humildade”. As orelhas (e os pés) de Lula devem estar ardendo até agora. Já Heloísa Helena, que entende desse negócio de entrar rasgando em bola dividida, voltou a bater na tecla do gangsterismo dos governistas. Disse que Lula e o PT “integram uma organização criminosa que rouba, mata, calunia e liquida quem passa pela sua frente”.

Mas o assunto da vez é a rocambolesca compra do dossiê contra José Serra produzido pelo dono da Planam, o trambiqueiro Luiz Antonio Vedoin. Quem viu o que estava à venda – um vídeo onde Serra aparece numa cerimônia oficial de entrega de ambulâncias em Mato Grosso, quando era ministro da Saúde –, não entende como alguém poderia pagar R$ 1milhão 700 mil por um material chinfrim como aquele. Os elementos presos com a dinheirama disseram que agiam a mando de um tal de Freud, que seria da direção de São Paulo. Se a versão se confirmar, nem Freud explica. Só as Organizações Tabajara ...

De qualquer forma, o episódio reacendeu o ânimo da ala oposicionista que vive com a faca nos dentes. O PFL e o PSDB estão ameaçando pedir hoje ao Tribunal Superior Eleitoral a cassação do registro da candidatura de Lula. Isso mesmo: a 14 dias das eleições, tem gente no primeiro escalão desses partidos propondo expurgar da urna eletrônica o nome do candidato que, segundo todas as pesquisas, deve vencer as eleições já no primeiro turno. Não tiveram peito para pedir o impeachment de Lula no auge da crise do mensalão, quando o prestígio do presidente estava na lona, e vão pedir a cassação da candidatura dele agora, quando há mais de 60 milhões de pessoas se preparando para votar no homem. Vê se pode ...

Em meio a tudo isso, o eleitor se mexe. Em muitos estados, nessa reta final, começam a pipocar surpresas e novidades. A mais inesperada de todas, até agora, está ocorrendo no Amapá. José Sarney, que parecia ter uma reeleição mais do que tranqüila para o Senado, está passando por grandes dificuldades diante de Cristina Almeida, do Partido Socialista. No final de agosto, as pesquisas davam uma vantagem de 21 pontos para Sarney. O Ibope de sexta-feira encurtou a dianteira do ex-presidente para apenas sete pontos. Tudo pode acontecer.

Sabe qual é o mote do discurso de Cristina? Todas as unidades da Federação têm três senadores, menos o Maranhão, que tem quatro, e o Amapá, que tem dois. Segundo ela, Sarney é um estrangeiro. Nem mora em Macapá. Ela mora. E o eleitor está começando a achar que esse discurso faz sentido.

Eleições são decididas, em geral, assim: em cima de coisas simples, com cheiro de verdade. E nas urnas, não no tapetão.

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