16 setembro 2006

O CÓDIGO D'ALCKMIN

Segredos revelados

"O fascismo e seus similares administram certamente uma força negativa, uma força que não lhe pertence: a debilidade dos demais. Por essa razão, são movimentos essencialmente transitórios, o que não quer dizer que durem pouco".

José Ortega y Gasset

Os mais recentes (e assustadores) capítulos da luta pelo poder já permitiram às mentes atiladas desvendar alguns segredos do Código D'Alckmin, a trama real que faz o romance de Dan Brown parecer um folhetim dominical.

Simultaneamente, esses fatos estarrecedores lançam luzes sobre a verdadeira face do alckminismo, um fenômeno de propaganda político-religiosa cujos pilares estão calcados no fanatismo, no modus operandi fascista e, por fim, da prática do delito na tentativa de desmobilização do adversário.

Em quatro dias, por exemplo, o site do partido do presidente da República foi atacado três vezes por grupos de crentes associados à célula política neoliberal. A quadrilha autodenominada Bios Team invade, distorce, agride, destrói e faz questão de mostrar seu desprezo pelos princípios do jogo democrático.

Crime por crime, a turma do código BT45 merece pena mais dura que a turma do código 1533 (pelo qual é conhecida a organização criminosa que exerce o comando nos presídios paulistas) O temível PCC, que hoje também controla o Estado de São Paulo, ameaça cidadãos e seqüestra repórteres como estratégia para expor suas reclamações e reivindicações.

Os bandidos ocultos sob a bandeira da "social-democracia", no entanto, nem a essa justificativa podem recorrer. Afinal, se desejam recontar suas farsas, distorcer a realidade ou instaurar a barbárie midiática, já dispõem de seus próprios sites oficiais, de dezenas de blogs alugados (sim, com dinheiro público "remanejado") e também da maior fatia da propaganda eleitoral nas emissoras de TV e rádio.

A violação do espaço virtual do oponente exibe o desejo explícito de desmoralizar o processo democrático, de reiterar a ameaça de ruptura institucional e de sacramentar o golpe como recurso de quem se julga mais forte. O seqüestro de páginas do ciberespaço constitui-se em um evidente recado: o rancor se transformou em terror. O Estado de Direito já não conta.

Por trás dos hackers da nova Cruzada

A última agulhada do neofascismo brasileiro atesta que o liquidificador da história acaba de misturar o que há pior em nossa cultura: o preconceito de classe de raiz colonialista, a sedução pelo totalitarismo, o jornalismo escroto de aluguel, o oportunismo das elites mesquinhas, a inveja-motriz das camadas médias ignorantes e subservientes, além do duplo "plinismo". O primeiro resgata a idéia de "putsch" e o moralismo torto integralista de Plínio Salgado, o sacerdote supremo da AIB. O segundo, o tradicionalismo paranóico e doentio de Plínio Corrêa de Oliveira, o supremo sacerdote da TFP .

O alckminismo já tem um lugar na história brasileira. Pôde agregar, numa só frente bufa e furiosa, integralistas, teefepistas, os Arautos do Evangelho e o laborioso exército do Opus Dei.

Paradoxalmente, embora carreguem os odores acres das catacumbas, esses movimentos se utilizam das mais modernas plataformas tecnológicas para disseminar ódios e preparar o terreno para o aliciamento dos desesperançados.

São muitos os "numerários" do Opus Dei hoje destacados para atuar obedientemente em todos os canais de informação e de opinião da Internet. Chats, fóruns, comunidades virtuais e grupos de relacionamento (como o Orkut) recebem diariamente milhares de mensagens dos "obreiros" de Escrivá de Balaguer.
Para esses agentes virtuais, pouco importa se essas missões passam ao largo da proposta ética dos Evangelhos. Imaginam-se previamente absolvidos porque acreditam que os fins justificam os meios. E, afinal, têm a dor como recurso de penitência. Enquanto criam intrigas e detratam os inimigos nas infovias, recorrem ao "cilício", no alto da coxa, como instrumento purgatório. Injuriar, difamar e caluniar são desvios "aceitáveis". Não precisam - (pelo menos até o presente momento) - seguir o roteiro de Silas, o assassino albino que mata em nome da divindade.

Opus Dei e segredos brasileiros

Pode-se afirmar que a poderosa prelazia pessoal não sofre pela pressa. Lenta e metódica, semeia e aguarda. Mas do que uma "seita", acumula a milenar sabedoria católica na prática do convencimento. Vê-se que a paciência lhe rendeu bons frutos, como a simpatia de João Paulo II e a admiração do Cardeal Ratzinger, o inquisidor que hoje ocupa o trono de Pedro.

A grande nação católica do hemisfério sul sempre mereceu especial atenção na análise geopolítica dos estrategistas do grupo. Há décadas, figuras de expressão no Brasil são sutilmente assediadas pelos disciplinados discípulos de Escrivá Balaguer.

Muitos dos cargos de chefia nas redações brasileiras já são ocupados por simpatizantes do Opus Dei, muitos deles formados na Universidade de Navarra, na Espanha.

O jornal O Estado de S. Paulo constitui-se num caso à parte. Há anos, o "jornalista" Carlos Alberto Di Franco ministra palestras a um segmento da família Mesquita. A princípio, apresentava-se como amigo desinteressado. Patrocinava conciliações, consolava os barões aflitos por brigas conjugais e negociava indulgências aos ricos que pecavam. Assim, ganhou a confiança de parte do clã.

Hoje, é tão poderoso que chega a indicar pautas para o Estadão e para o Jornal da Tarde. Não raro, os chefetes dos aquários da Marginal Tietê reclamam da intromissão cada vez maior do Opus Dei no cotidiano das redações. Di Franco e o jurista Gandra Martins têm sido conselheiros informais do Grupo Estado na campanha dupla, de descontrução da imagem de Luiz Inácio Lula da Silva e de santificação do ex-governador paulista.

Alckmin e o golpe na Santa Sé

O poderoso Di Franco é hoje também um dos principais conselheiros do candidato do PSDB à presidência da República. Mesmo em campanha, Alckmin reserva pelo menos duas horas por semana para prosseguir na formação iniciada no Palácio dos Bandeirantes. No Opus Dei, o tucano é tido como um aluno aplicado, como atestam
dois de seus colegas de curso em reportagem publicada pela revista Época.

O desembargador aposentado e professor de Direito da USP Paulo Fernando Toledo, diz que o governador tucano é um dos 'alunos' mais aplicados: 'Ele toma nota de tudo'. Outro membro do grupo, José Conduta, dono da corretora Harmonia, relata que Alckmin não faltou a nenhuma reunião, mesmo quando disputava a reeleição, em 2002. 'Me surpreendia o fato de ele encontrar agenda', comenta.

Extra-oficialmente, o Opus Dei já considera Geraldo Alckmin um "numerário", isto é, um membro ativo do movimento. O caminho da conversão lhe foi indicado pelo tio, José Geraldo Rodrigues de Alckmin, já falecido, ministro do Supremo Tribunal Federal indicado pelo presidente Emílio Garrastazu Médici. O Brasil vivia uma época de torturas e assassinatos de opositores do regime. Rodrigues de Alckmin mostrava ao sobrinho a necessidade daquelas ações "corretivas" para preservar o traço católico e "anti-comunista" da sociedade brasileira.

Ironicamente, o político de Pindamonhangaba aproximou-se mais do Opus Dei quando precisou passar a perna na própria Igreja Católica. O "beato" Geraldo mantinha uma relação adúltera com dona Lu Alckmin, que se desencantara do marido. A justificativa: o rapazola vivia como um "hippie". Com todo seu poder, o Opus Dei intercedeu junto à Santa Sé e obteve a anulação do matrimônio. Com isso, Geraldo e Lu puderam se casar, em 1979.

Hoje, acumularam-se as dívidas de lado a lado. Geraldo Alckmin atraiu empresários endinheirados para os cursos e seminários do Opus Dei. Muitos desses magnatas desesperados (incapazes de ver o "sentido da vida", segundo seus mentores religiosos) investem na prelazia em busca de paz e conforto espiritual.

Em êxtase que julgam epifânico, os senhores da fé, os acumuladores de riquezas e os prestidigitadores da política imaginam que o Brasil possa logo se converter em uma Canaã do pensamento único e da disciplina, onde os "eleitos" possam punir os ímpios e governar o gentio. Resta saber se o canto do pastor e o ladrar dos cães serão suficientes para reunir e amansar o rebanho.

Mário Kholn Carrara
Jornalista e Cientista Político

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