Pesquisador diz que Brasil avançou na garantia dos direitos humanos
O pesquisador e professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Sólon Viola, tem uma visão otimista da caminhada brasileira na garantia dos direitos humanos. Ele considera que o país avançou nos últimos 50 anos. “Antes, não possuíamos sequer direitos civis e políticos que outras nações conquistaram há mais de 200 anos”.
Na opinião do professor, o Brasil, no entanto, não conseguiu ainda conquistar direitos fundamentais, como alimento, moradia, saúde e educação pública de boa qualidade. “Condições que tornam a vida mais fácil", diz
Viola, que participou do Congresso Interamericano de Educação em Direitos Humanos, encerrado hoje (2) em Brasília.
Ele ressalta que a mídia e as escolas têm papel fundamental nesta caminhada, já que a mídia eletrônica chega à casa de 98% das famílias no Brasil e as pessoas assistem TV por quatro, cinco, até oito horas por dia. As crianças e os professores passam na escola também quatro a oito horas por dia. É preciso “retomar a dimensão da escola como lugar do conhecimento e olhar a mídia com certo crédito. Há na mídia espaços bem consideráveis em que os direitos humanos são tratados com respeito”.

“A ditadura militar construiu certas simbologias para tentar diminuir a implantação dos direitos. Uma delas é a divisão do mundo em bem ou mal, que seriam os bandidos”, diz o professor. Ele explica que quando uma população carcerária é colocada “sob o sol e a chuva e à noite dorme ao relento, está sendo tratada como eram tratados os escravos. Essa é a herança dos senhores e escravos, a senzala sendo tratada de forma cruel pela Casa Grande”.

Para o professor, é preciso ter em mente que “antes de criminosos, são seres humanos. A exacerbação do processo criminatório e da violência não é uma patologia, é decorrente das dificuldades da própria sociedade, da fome, desigualdade e distribuição da riqueza e exacerbação de poderes na mão de poucos”, analisa.
Segundo Viola, é também uma “grande mitologia” dizer que no Brasil a questão se complica ainda mais por causa da impunidade. Ele citou o exemplo recente do México, onde "a sociedade e os observadores internacionais dizem ter havido fraude na eleição do novo presidente”.
Lembrou que as mesmas acusações existem “em relação ao primeiro mandato de George W. Bush e que na Inglaterra, um ministro renunciou por escândalo de manipulação de verbas orçamentárias". No Japão, lembrou ainda o professor, há menos de uma década, o primeiro-ministro renunciou por estar comprometido com negociação entre o Estado e uma fábrica de automóveis. "Precisamos investigar não só quem corrompe, mas quem é corrompido”, critica.
Já os traços culturais, como o “jeitinho brasileiro” ou o “malandro carioca”, não são necessariamente justificadores da má conduta ou raízes da impunidade. O “jeitinho” tem problema ”quando é a negação da lei em benefício próprio, mas uma qualidade quando consegue resolver situações de vida que, de outra forma, não se resolveriam”.
Fonte: Agência Brasil
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